A revista Volta
ao Mundo é uma referência no que respeita à divulgação de destinos
turísticos e na sua edição de Janeiro de 2025 destaca a ilha do Pico,
referindo-se-lhe como uma “[ilha] de beleza no coração do Atlântico”. Ao
escolher a ilha do Pico entre “12 destinos para amantes de séries e filmes”,
entre os quais se incluem a cidade de Budapeste e as ilhas Canárias, a revista
presta uma boa homenagem àquela ilha açoriana que designa como “a ilha
baleeira, a ilha de pedra, a ilha cinzenta, a ilha sofredora, de cujo ‘chão
roto’ um frei tirou um vinho ímpar, vai para séculos”. Para quem gosta da ilha
ou nela tenha raízes familiares ou culturais, esta reportagem é uma excelente
maneira de iniciar o ano de 2023.
Porém, a leitura
da reportagem deixa uma sensação de vazio ao leitor. De facto, a própria
reportagem anuncia que “a Volta ao Mundo
viajou a convite da Alma do Pico Nature Residence”, um empreendimento
localizado na vila da Madalena e, naturalmente, tem o formato editorial que se
classifica como publireportagem, isto
é, um texto de publicidade que elogia um produto ou serviço, por vezes de forma
exorbitante e desproporcionada, que é publicado para parecer um artigo
jornalístico objectivo, independente e verdadeiro. Dessa forma, ao comprar a
revista, o leitor e o potencial visitante estão a comprar gato por lebre.
Evidentemente que o texto se fundamenta na verdade e na recolha de depoimentos
de vários residentes mas, como escreveu o poeta popular António Aleixo
(1899-1949), “pra mentira ser segura e atingir
profundidade, tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade”.
E
há tanta coisa grandiosa, interessante, atraente e verdadeira na ilha do Pico,
que não é necessário recorrer a este tipo de reportagens por encomenda.