quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Um cavalo de Tróia do fundamentalismo?

 
Alguns dos meus amigos cultivam o yoga e, para além de elogiarem a sua prática e os benefícios que dele recebem, recomendam-no vivamente. O yoga faz parte das suas vidas e dos seus rituais, ocupando uma parte das suas agendas e prevalecendo sobre quaisquer outras das suas actividades sociais ou culturais.
O yoga é uma filosofia que tem a sua origem milenar na Índia e inspira-se no budismo e no hinduismo. Trabalha simultaneamente o corpo e a mente e, segundo os especialistas, assegura o fortalecimento do corpo, o desenvolvimento da flexibilidade, o relaxamento psíquico e a  tranquilidade mental. Na Índia o yoga também é uma cultura nacional e, nesse sentido, o novo governo indiano de Narendra Modi decidiu criar o Ministério do Yoga, cujo titular é o senhor Shripad Yesso Naik, com o objectivo de o relançar e promover por todo o país, não só para o reforço de um sentimento de identidade nacional e para benefício da população, mas também para a sua afirmação como um produto indiano que chega a todo o mundo. Porém, a criação de um Ministério com estes únicos objectivos parece esconder alguma coisa.  
Acontece que The Washington Post, o jornal que é reconhecido como um dos mais influentes do mundo, decidiu trazer o yoga e a designação de um Ministro do Yoga para a sua primeira página e esse facto não é nada irrelevante. De facto, estamos perante uma decisão que, para além dos seus aspectos culturais, tem evidentes contornos políticos. O 1º Ministro Narendra Modi é membro do BJP - Bharativa Janata Party, um partido nacionalista hindu que ganhou as eleições em Maio de 2014. Nunca um só partido obtivera uma maioria absoluta na Índia e esta decisão sobre o yoga já é uma consequência desse resultado. A fotografia que ilustra a notícia do The Washington Post mostra uma multidão de crianças a praticar yoga e evoca-nos o movimento ultranacionalista e paramilitar RSS, aliado do BJP, fomentador da violência e defensor do hinduismo como única religião, o que significa a exclusão de todas as outras religiões da Índia (muçulmanos, cristãos, sikhs). Assim, o yoga poderá estar a ser o cavalo de Tróia de um certo fundamentalismo hindu que visa apagar as políticas seculares e democráticas das eras de Ghandi e de Nehru. E Goa ali tão perto...