Alguns dos meus
amigos cultivam o yoga e, para além
de elogiarem a sua prática e os benefícios que dele recebem, recomendam-no
vivamente. O yoga faz parte das suas
vidas e dos seus rituais, ocupando uma parte das suas agendas e prevalecendo
sobre quaisquer outras das suas actividades sociais ou culturais.
O yoga é uma filosofia que tem a sua
origem milenar na Índia e inspira-se no budismo e no hinduismo. Trabalha simultaneamente
o corpo e a mente e, segundo os especialistas, assegura o fortalecimento do
corpo, o desenvolvimento da flexibilidade, o relaxamento psíquico e a tranquilidade mental. Na Índia o yoga também é uma cultura nacional e,
nesse sentido, o novo governo indiano de Narendra Modi decidiu criar o Ministério do Yoga, cujo titular é o
senhor Shripad Yesso Naik, com o objectivo de o relançar e promover por todo o
país, não só para o reforço de um sentimento de identidade nacional e para benefício
da população, mas também para a sua afirmação como um produto indiano que chega
a todo o mundo. Porém, a criação de um Ministério com estes únicos objectivos
parece esconder alguma coisa.
Acontece que The
Washington Post, o jornal que é reconhecido como um dos mais influentes
do mundo, decidiu trazer o yoga e a
designação de um Ministro do Yoga
para a sua primeira página e esse facto não é nada irrelevante. De facto,
estamos perante uma decisão que, para além dos seus aspectos culturais, tem
evidentes contornos políticos. O 1º Ministro Narendra Modi é membro do BJP -
Bharativa Janata Party, um partido nacionalista hindu que ganhou as eleições em
Maio de 2014. Nunca um só partido obtivera uma maioria absoluta na Índia e esta decisão sobre
o yoga já é uma consequência desse
resultado. A fotografia que ilustra a notícia do The Washington Post mostra uma multidão de crianças a praticar yoga e
evoca-nos o movimento ultranacionalista e paramilitar RSS, aliado do BJP,
fomentador da violência e defensor do hinduismo como única religião, o que significa a exclusão
de todas as outras religiões da Índia (muçulmanos, cristãos, sikhs). Assim, o yoga poderá estar a ser o cavalo de
Tróia de um certo fundamentalismo hindu que visa apagar as políticas seculares
e democráticas das eras de Ghandi e de Nehru. E Goa ali tão perto...
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