A revolução e a
guerra na Síria começaram, tal como na Líbia, como uma contestação ao regime
autoritário que vigorava há décadas no país e que assentava numa luta contra a
falta de liberdade e a corrupção. Pedia-se o fim do regime de Bashar El-Assad e
a democracia. Era mais um episódio da Primavera Árabe. Porém, havia na Síria um
outro ingrediente explosivo que é a luta sectária entre dois ramos do Islão - os
xiitas e os sunitas - que também lutam no Líbano e no Iraque. Nesta complexa
teia que é arco sul do Mediterrâneo e o Médio Oriente, ainda há Israel e a
Turquia, o Egipto e o Irão. E os poderosos apoios internacionais que cada
um dos beligerantes tem. Era necessário procurar a paz e parar a guerra, mas os poderosos não quiseram ou não foram capazes.
As mais recentes
notícias sobre a Síria são muito preocupantes e nós sabemos muito pouco sobre o
que lá se passa. O recente massacre resultante de bombardeamentos com gás
tóxico ainda está por esclarecer, mas todos sabemos como pode ser manipulada a
opinião pública mundial. Lembramo-nos do pretexto para os ataques aéreos a
Belgrado, do pretexto para bombardear Bagdad e invadir o Iraque ou, ainda, do
pretexto para intervir na Líbia: são sempre as imagens da televisão a
pressionar a opinião pública, a denúncia de “crimes contra a Humanidade” e as declarações concertadas entre Washington e Londres. Agora, a
cena é exactamente a mesma. Antes de se saber o que se passou no terreno já a opinião
pública mundial está preparada para aceitar e apoiar uma acção militar contra a
Síria. Os Tomahawk, os famosos
mísseis de cruzeiro de longo alcance, estão prontos e a General Dyanamics precisa de os vender. Veremos como os aliados da
Síria – Rússia, China e Irão – vão reagir se a ameaça se concretizar.