Quando ocorre uma
situação de conflito de qualquer natureza, seja numa guerra, num simples jogo
de futebol ou até nas relações humanas, há umas acções que podem ser
classificadas como ofensivas e outras
que são classificadas como defensivas.
As acções ofensivas destinam-se a produzir efeitos mais ou menos severos sobre
o adversário, mas quando ocorrem efeitos diferentes daqueles que se procuravam,
estamos perante os chamados efeitos secundários ou efeitos colaterais.
As acções conduzidas em Portugal pela troika entre 2011 e 2013 foram acções
ofensivas, que se destinaram sobretudo a retirar rendimentos aos funcionários públicos
e aos pensionistas, que se traduziram no desemprego, no empobrecimento e na
emigração generalizada, mas tiveram muitos efeitos colaterais, observáveis no
recuo da qualidade de vida e nos retrocessos na educação, na saúde, na cultura
e na ciência.
Hoje o Diário de Notícias revela
um outro importante efeito colateral que se verificou em Portugal: o número de
famílias que não pagam casa subiu e chega à beira de 150 mil. Estes números aproximam-se do máximo de incumprimento de
150.300 que se verificou em Junho de 2012. Na realidade, só no corrente ano de 2014 houve mais 4083 famílias que deixaram
vencer o crédito da casa, ou seja, uma média diária de 80 portugueses deixaram
de conseguir liquidar o empréstimo à habitação. Segundo o Banco de Portugal há
6,4% de famílias portuguesas que deixaram de cumprir o pagamento dos empréstimos à compra
de casa própria, enquanto uma responsável da DECO afirmou que “estamos a sentir que as
famílias estão numa situação muito mais difícil do que no ano passado e do que
no início da crise”, até porque "no início da crise as dificuldades foram
diluídas porque havia almofadas das famílias, amigos e dos próprios e hoje essa
rede de proteção é inexistente".
Quem é que nos falou na saída limpa? Quem é que nos disse que o país está muito melhor? Ora
aqui está mais uma consequência da brutalidade do ataque feito pela troika aos portugueses, com a subserviente
e insensível compreensão do passos perdido.