A crise que desde 2008 tem afectado a Europa devido
à especulação e à fraude praticada pelos grandes grupos financeiros internacionais, tem
conduzido ao crescimento dos défices e ao aumento das dívidas públicas da
generalidade dos países, sobretudo na orla euro-mediterrânica. Daí têm
resultado orientações ou imposições das instituições políticas e financeiras
europeias, no sentido dos défices públicos regressarem ao nível dos 3% do PIB e
das dívidas serem reduzidas para valores da ordem dos 60% do PIB. Assim, há diversos
países europeus que estão actualmente sujeitos a programas de ajustamento que
implicam enormes cortes orçamentais para reduzir os gastos públicos, mas que têm
conduzido à quebra da procura interna, à recessão e ao desemprego, sem atenuar
o peso da dívida pública. São as chamadas politicas de austeridade que se têm
mostrado muito violentas e com devastadores efeitos económicos e sociais, com destruição do tecido económico, o retrocesso nas políticas de educação e
de saúde, assim como no aumento da pobreza e da desigualdade. O protesto contra estas políticas
e contra os cortes orçamentais tem sido frequente em Espanha e na Itália, por vezes com sinais de alguma violência, mas
também em Portugal, França, Grécia, Irlanda e outros países, pois existe a convicção de que há
alternativas ao actual modelo, que passam pelo estímulo à economia e à criação de emprego. Nesta
onda de crítica ao falhanço das políticas de austeridade, a novidade surgiu
recentemente em Espanha, onde as marchas de protesto utilizam uma eloquente sinalética
que proibe a tesoura e os cortes como mostra a edição do El Periódico de Catalunya.
sábado, 26 de outubro de 2013
As viagens e passeios que nós pagamos
A proposta governamental do Orçamento do Estado para 2014 inclui uma
verba de 34,8 milhões de euros para deslocações e estadas dos titulares e do
pessoal dos gabinetes ministeriais, havendo sete ministérios que irão gastar mais
em 2014 do que no corrente ano de 2013. Numa altura em que o país está em grandes
dificuldades, em que há sinais de decadência e de progressivo empobrecimento, com
os salários e as reformas a serem intensamente penalizados, esta lógica despesista
parece não ter explicação. É uma situação incompreensível. É um abuso. Fazem-se
contas e não se percebe quem vai fazer e para que servem tantas viagens.
Provavelmente, os nossos governantes até deveriam viajar mais para melhor
conduzirem as suas actividades em prol do interesse nacional, mas deveriam
dispensar as suas numerosas e dispendiosas comitivas, com demasiados
assessores, ajudantes e convidados, para além dos habituais jornalistas que
outra coisa não fazem que não seja promover a Excelência que os convidou e
transmitir para o país algumas banalidades a respeito do país para onde a
Excelência viajou, pois não vão fazer jornalismo nenhum. E se isto é válido
para o governo, também se aplica às comitivas de Belém, porque são sumptuárias
e desproporcionadas. Este tipo de comportamentos é muito condenável, não tanto
pelo peso que estas despesas têm no Orçamento do Estado, mas sobretudo porque
constituem um mau exemplo e um sinal muito negativo para os sectores da
população que pagam impostos e têm sofrido uma brutal perda de rendimentos.
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