sexta-feira, 22 de setembro de 2023

É tempo de repensar a guerra da Ucrânia

O presidente Volodymyr Zelensky atravessou o Atlântico e levou a efeito uma acção de relações públicas, talvez a maior desde que começou a guerra na Ucrânia. Esteve nas Nações Unidas, na Casa Branca e foi ao Canadá, mas as imagens a que tivemos acesso mostraram um homem e uma comitiva cansados e sem ânimo, repetindo os mesmos argumentos contra a invasão russa e pedindo sempre mais dinheiro e mais armas.
A tão anunciada contraofensiva ucraniana que começou em Junho não tem tido sucesso e os americanos estão desolados com os seus resultados, apesar de envolver tropas bem treinadas em vários países ocidentais e ter o apoio de armas ocidentais modernas. A luta tem sido muito dura, têm sido anunciadas baixas elevadíssimas e as destruições têm uma dimensão inimaginável. É cada vez mais evidente que não haverá vencedores, nem vencidos. Todos perdem com esta guerra, sobretudo as populações. A linha da frente, que tem cerca de mil quilómetros, está quase nas mesmas posições desde há vários meses e a Ucrânia, segundo revela hoje o jornal Expresso, apenas terá recuperado menos de 0,25% do território que a Rússia ocupou até Junho. A própria narrativa da guerra parece estar a mudar e, exceptuando as indústrias do armamento, há cada vez mais gente a pedir a paz. Nos Estados Unidos já se duvida do sucesso ucraniano e fazem-se contas aos custos da guerra. Kevin McCarthy, o speaker da Câmara dos Representantes, já ousou perguntar se Zelensky irá prestar contas do dinheiro que lhe foi enviado pelos Estados Unidos, mas também pergunta qual é o seu plano para vencer. O facto é que a fadiga está a tomar conta de muitos americanos, que já enviaram 75 mil milhões de dólares em auxílio humanitário, financeiro e militar.
Hoje o prestigiada revista The Economist reflecte as incertezas que alguma propaganda já não consegue esconder e, com grande destaque escreve: time for a rethink. Talvez esta mensagem estimule os dirigentes que querem mais armas e mais guerra, para que repensem as suas posições, numa altura em que na mesma Europa há a trágica realidade dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo e outros problemas sociais e ambientais bem sérios.