Aristides de
Sousa Mendes, o antigo cônsul português em Bordéus, foi homenageado pelo Estado
Português numa cerimónia que aconteceu 67 anos depois da sua morte e que lhe
deu justas honras de Panteão Nacional, através de uma placa evocativa de
homenagem junto de um túmulo sem corpo, uma vez que os seus restos mortais
permanecem em Cabanas de Viriato, a sua terra natal.
Decorria a
Segunda Guerra Mundial e milhares de refugiados procuravam atravessar a
fronteira francesa para fugir à barbárie nazi e chegar à península Ibérica.
Nessas circunstâncias e à revelia das ordens do governo de Salazar, em Junho de
1940 o cônsul Aristides de Sousa Mendes emitiu vistos que permitiram a
travessia da fronteira franco-espanhola e salvaram cerca de dez mil judeus e
outros refugiados, embora haja fontes que referem que foram “mais de 30 mil
pessoas salvas”. A sua corajosa e humanitária atitude desobedecia à “Circular
14”, que condicionava a emissão de vistos a pessoas refugiadas por diplomatas
portugueses, sem prévia autorização governamental. Porém, Sousa Mendes enfrentou a dura
realidade que tinha perante os seus olhos e não perdeu tempo a pedir prévias
autorizações. Salazar não lhe perdoou e isso valeu-lhe a expulsão da carreira
diplomática e uma vida cheia de dificuldades económicas, vindo a morrer na
miséria em 1954 no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa, com 69 anos
de idade.
A reabilitação
pública de Aristides de Sousa Mendes só aconteceu em 1988, quando a Assembleia
da República decretou por unanimidade a sua reintegração na carreira diplomática,
alguns anos depois do seu nome ter sido inscrito no Memorial do Holocausto, em
Jerusalém, onde recebeu o título de “Justo entre as Nações”.
Só o Diário
de Notícias destacou esta homenagem a Aristides de Sousa Mendes. Os outros jornais portugueses, ditos de referência, encheram as suas primeiras páginas com as vitórias do Sporting sobre o Besiktas e
do FC Porto sobre o Milan. Que ignorância cultural, que mediocridade cívica e
que falta de sentido do que é o jornalismo.