quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O exemplo de Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes, o antigo cônsul português em Bordéus, foi homenageado pelo Estado Português numa cerimónia que aconteceu 67 anos depois da sua morte e que lhe deu justas honras de Panteão Nacional, através de uma placa evocativa de homenagem junto de um túmulo sem corpo, uma vez que os seus restos mortais permanecem em Cabanas de Viriato, a sua terra natal.
Decorria a Segunda Guerra Mundial e milhares de refugiados procuravam atravessar a fronteira francesa para fugir à barbárie nazi e chegar à península Ibérica. Nessas circunstâncias e à revelia das ordens do governo de Salazar, em Junho de 1940 o cônsul Aristides de Sousa Mendes emitiu vistos que permitiram a travessia da fronteira franco-espanhola e salvaram cerca de dez mil judeus e outros refugiados, embora haja fontes que referem que foram “mais de 30 mil pessoas salvas”. A sua corajosa e humanitária atitude desobedecia à “Circular 14”, que condicionava a emissão de vistos a pessoas refugiadas por diplomatas portugueses, sem prévia autorização governamental. Porém, Sousa Mendes enfrentou a dura realidade que tinha perante os seus olhos e não perdeu tempo a pedir prévias autorizações. Salazar não lhe perdoou e isso valeu-lhe a expulsão da carreira diplomática e uma vida cheia de dificuldades económicas, vindo a morrer na miséria em 1954 no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa, com 69 anos de idade.
A reabilitação pública de Aristides de Sousa Mendes só aconteceu em 1988, quando a Assembleia da República decretou por unanimidade a sua reintegração na carreira diplomática, alguns anos depois do seu nome ter sido inscrito no Memorial do Holocausto, em Jerusalém, onde recebeu o título de “Justo entre as Nações”.
Só o Diário de Notícias destacou esta homenagem a Aristides de Sousa Mendes. Os outros jornais portugueses, ditos de referência, encheram as suas primeiras páginas com as vitórias do Sporting sobre o Besiktas e do FC Porto sobre o Milan. Que ignorância cultural, que mediocridade cívica e que falta de sentido do que é o jornalismo.

1 comentário:

  1. É o dinheirinho, meu caro, o dinheirinho, a sobrepor-se aos valores dos melhores que a Humanidade tem...

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