A edição de fim-de-semana do jornal i faz manchete, em destaque semelhante ao do casamento real do Reino Unido, com a seguinte notícia: “Câmaras municipais falidas. Salários dos trabalhadores em risco”.
Os Municípios têm uma grande tradição em Portugal. Foram inicialmente criados em 1822 e têm evoluído até aos nossos dias, quanto ao seu número, poderes e âmbito de intervenção. No regime democrático saído do 25 de Abril e como representantes do Poder Local, os 308 Municípios existentes em Portugal têm desempenhado um papel notável no apoio às populações, na revitalização urbana, na dinamização cultural e, muitas vezes, são apontados como símbolos de boa gestão, do progresso social e de consenso político. Porém, enquanto a maioria dos Municípios tem uma dimensão e uma gestão que lhes permite uma vida financeira equilibrada, há outros que têm dificuldades financeiras e estão em risco de ruptura, havendo a ameaça de não haver liquidez para pagar salários e fornecedores.
Só a análise, caso a caso, permite conhecer a realidade. No entanto, ao percorrermos o país, deparamo-nos com inúmeras situações nada abonatórias para os gestores municipais, em termos de despesismo e desperdício: o excesso de empresas municipais injustificadas, as obras de fachada, a desproporcionada dimensão de alguns equipamentos sociais, o excesso de funcionários e de assessores, a desnecessária burocracia, a suspeita de muita corrupção ou as dispendiosas festas de Verão. Tal como noutras dimensões da nossa vida pública, também alguns Municípios perderam a noção dos limites. Muitas vezes, em nome do interesse e da vaidade pessoal.