segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Anda por aí um chocante clientelismo

Na sua edição de hoje o jornal Público destaca o tema das nomeações feitas nos primeiros meses de actividade governamental, comparando as nomeações feitas pelos últimos cinco governos - três do PSD e dois do PS.
O estudo verifica que em relação aos últimos cinco governos, o actual tem tido um comportamento que se enquadra no tradicional clientelismo português, isto é, fez mais nomeações que dois deles e menos do que os outros dois, significando que em termos de satisfação de clientelas tem havido um certo equilíbrio entre os partidos do poder, isto é, "comem todos do mesmo prato".
Porém, durante a dura campanha eleitoral realizada há poucos meses, acusou-se o anterior governo de clientelismo e assegurou-se ao país que, no futuro, haveria a moralização das nomeações para os cargos públicos e tudo seria diferente. Quase que se anunciava uma regeneração. Prometia-se a transparência, a competência e a decência.
Afinal foi tudo conversa. A prática clientelar deste governo não se alterou em relação ao passado e até se agravou, sobretudo nos cargos melhor remunerados e mais influentes. São as nomeações das mesmas pessoas de sempre, em muitos casos sem habilitação nem qualificação apropriada e com currículos que nada têm de relevante, para além da militância partidária. Parece um assalto. Pagam-se fidelidades partidárias. Ignoram-se conflitos de interesses. Como se tudo fosse uma quinta de uns tantos. Assim sucede na CGD, na EDP, na AdP e no mais que se vai sabendo. É o clientelismo puro e duro, que nos desgraça e nos destrói. Tudo isto é chocante quando, simultaneamente, se exigem sacrifícios aos portugueses, se empurram os jovens para a emigração, se não controla o desemprego, se assiste ao empobrecimento da população e a fragmentação social é uma ameaça.
É como se houvesse um país para eles e outro para nós. E isso é muito mau!

A crise do euro está de volta

Desde há algumas semanas que o tema da dívida soberana e a crise do euro estavam ausentes das agendas políticas. As medidas de austeridade impostas na generalidade dos países europeus, sobretudo nos países do sul, pareciam ter sossegado as agências de ‘rating’ e os famosos mercados, assim como as mudanças de governo verificadas em Portugal, Grécia, Itália e Espanha. Havia uma clara descompressão nas opiniões públicas. Os juros estavam a baixar. A crise do euro parecia estar a resolver-se. Até que a Standard & Poor’s cortou as notações de ‘rating’ de nove países europeus, incluindo Portugal, Espanha e Itália, mas também da Áustria e da França, que perderam a sua notação máxima de AAA.
Portugal passou a ter a classificação de 'lixo' que antes já lhe tinha sido atribuída pela Moody's e pela Fitch, as outras duas grandes agências de 'rating' internacionais, pelo que os juros da sua dívida pública vão aumentar, tornando ainda mais exigente o esforço de recuperação. Porém, os ventos da crise também já chegaram a França, a segunda economia da União Europeia e o diário Le Fígaro destacou que, com a perda da sua notação máxima, a crise do euro se agravou e pode influenciar a reeleição de Sarkozy nas próximas eleições presidenciais.
Os governos e a Comissão Europeia reagiram à decisão da S & P que consideraram aberrante, pois entendem que não tem sentido numa altura em que estão a procurar respostas para a crise, mas o clima de incerteza quanto ao futuro da moeda única reactivou-se. Nessa linha, Mario Draghi, o presidente do BCE, veio hoje dizer que "a situação actual é muito grave". No entanto, a decisão da S & P também deixa no ar a dúvida sobre se a solução da crise está nas políticas de austeridade ou se, pelo contrário, a austeridade nos leva a uma recessão mais profunda e a uma crise mais grave.
O que é certo é que a crise do euro está de volta.