segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Para que a Líbia não seja uma nova Síria

Realizou-se ontem em Berlim uma grande cimeira com a presença de vários dirigentes mundiais com o propósito de parar os combates entre grupos rivais e procurar uma solução para a Líbia, que ameaça tornar-se numa nova Síria. Depois da queda de Kadafi instalou-se um vazio de poder que, tal como no Iraque, na Síria e no Iémen, transformou o país em mais um campo de batalha na guerra silenciosa entre as grandes potências. Alguma imprensa publica hoje um mapa editado pela Agência Reuters, a maior agência de notícias do mundo com sede em Londres, que mostra as posições no terreno das forças que disputam o controlo do território da Líbia, parecendo um caleidoscópio em que estão misturadas as cores que identificam as forças do governo chefiado por Fayez al-Sarraj que é reconhecido pela ONU, as forças do general Khalifa Haftar ou Exército Nacional Líbio, as forças tribais tuaregues, os combatentes tubus e até o Daesh, cada um deles com os seus aliados. Uma perfeita confusão. Os combates já duram há nove meses e o conflito já se internacionalizou. O general Haftar tem o apoio da Rússia, do Egipto e dos Emirados Árabes Unidos e a simpatia da França, enquanto o governo de Fayez al-Sarraj é reconhecido pela ONU, tem o apoio da Turquia, que já tem tropas no terreno, bem como a simpatia da vizinha Itália. Há muitos mercenários no terreno e o armamento não deixa de chegar aos dois lados.
Ontem as potências com interesses na guerra líbia conseguiram um acordo de cessar-fogo, apesar de continuar paralisada a produção petrolífera no Leste do país por acção de Haftar, o que afecta as receitas governamentais. Apesar da pressão internacional e dos chefes das facções em luta na Síria terem estado em Berlim, não se encontraram pessoalmente. Pelo contrário, Putin e Erdogan que são os principais intervenientes na Líbia, encontraram-se mais uma vez e é natural que não estejam interessados em levar para a Líbia os problemas que ambos têm enfrentado na Síria. A Líbia foi uma colónia italiana até 1951 e, por isso, a trégua agora acordada tem particular interesse para a Itália e para a sua opinião pública.