sábado, 30 de setembro de 2023

A “escultura de Picasso” no Guggenheim

Bilbau é uma cidade espanhola que é a capital da Biscaia, uma das três províncias da Comunidade Autónoma do País Basco, ou Euskadi. Com um património histórico importante e enquadrada numa atraente paisagem de mar e montanha, a cidade também se tornou num polo de atracção turística, sobretudo depois do Museu Guggenheim Bilbao ter sido aberto ao público em 1997. A cidade passou a receber milhares de turistas para ver aquela imponente construção, embora muitos deles fiquem desolados com a quase vulgaridade dos conteúdos. Este equipamento cultural foi concebido pelo famoso arquitecto americano Frank Gehry, é coberto exteriormente com placas de titânio e é atravessado por uma artística ponte elevada. É uma construção sumptuosa cujo exterior é mais impressionante que o seu interior, cujas características são mais de centro cultural e menos de museu. Apesar disso, é hoje um símbolo da arte contemporânea, pelas colecções de arte moderna que mostra na sua exposição permanente e pelas suas exposições temporárias.
A direcção do museu está atenta a novas iniciativas e às oportunidades da tecnologia, sobretudo o scanning e a impressão 3D, que abriram as portas a novas formas de produção artística, como a recriação de obras do passado. É o caso da obra do pintor malaguenho Pablo Picasso, uma parte da qual foi recriada em escultura. O Museu Guggenheim Bilbao expõe actualmente 54 obras em escultura produzidas a partir da obra pictórica de Picasso. O jornal El Correo, de Bilbao, destacou na sua edição de ontem esta exposição da “escultura de Picasso” e o facto é que Museu bem precisa de iniciativas como esta, porque só o edifício é pouco...

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Cooperação no Espaço, rivalidade na Terra

Depois de 371 dias no espaço, o astronauta americano de origem salvadorenha Francisco Carlos Rubio, ou simplesmente Frank Rubio, regressou à Terra a bordo da nave espacial russa Soyus MS-23, juntamente com os cosmonautas russos Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin. A nave aterrou nas estepes do Kazaquistão depois de ter efectuado 5.963 órbitas à Terra e, na sua edição de ontem, o The Wall Street Journal deu grande destaque a este acontecimento. A missão foi iniciada no dia 21 de Setembro de 2022 a bordo de uma nave russa e estava previsto ter uma duração de seis meses na Estação Espacial Internacional, mas uma avaria provocada por uma colisão com lixo espacial, impediu o regresso da nave. Em Fevereiro de 2023 a NASA e a Roscosmos chegaram a acordo para trazer os astronautas de regresso à Terra, o que aconteceu agora. O inesperado prolongamento desta missão resultou de atrasos na preparação na equipa de substituição constituída pela americana Loral O’Hara e pelos russos Oleg Kononenkop e Nikolai Chub, que chegaram à Estação Espacial Internacional no dia 15 de Setembro. Este imprevisto tornou Frank Rubio no recordista da maior permanência de um americano no espaço, embora o recordista mundial seja o russo Valeri Polyakov que esteve 437 dias seguidos em órbita a bordo da estação espacial Mir, entre Janeiro de 1994 e Março de 1995. Porém, o que é de salientar neste acontecimento é a boa cooperação espacial mantida entre a Rússia e os Estados Unidos, o que nos obriga a pensar nas razões porque não param a guerra na Ucrânia, ou a perguntar que interesses separam estes dois cooperantes espaciais.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O reaparecimento do “legado do medo”

No último texto que aqui publicamos foi tratado o ex-jornalismo independente e era referida uma comunicação de massas que produz e reproduz ideologias mascaradas de independência e neutralidade em relação aos interesses comerciais, políticos e até do próprio Estado. Os efeitos sociais dos mass media são intensos e são estudados desde há muitos anos, até existindo a “teoria das balas mágicas” que afirma que o processo de comunicação de massas é equivalente ao que se passa numa carreira de tiro, pois bastava atingir o alvo para que este caísse.
No actual contexto em que a comunicação social é um negócio, o jornalista deixou de ser um profissional independente e de valores próprios, para passar a partilhar os valores do seu patrão ou da sua empresa. Esta realidade tem-se agravado nos últimos anos e aplica-se à imprensa, à radio e à televisão. Nessa linha de pensamento, também o iluminado Marshall McLuhan afirmou que a rádio e a televisão estavam a fazer do nosso planeta uma “aldeia global”. De facto, são bem conhecidos os efeitos sociais e culturais dos mass media e, há poucos anos, um jornalista português de referência dizia que “a televisão vende sabonetes e até vende presidentes da república”.
Quando, na sua edição de hoje, o Diário de Notícias diz que “40% dos juízes admite que comunicação social influencia decisões”, confirmamos aquilo que há muito tempo era uma evidência e ficamos preocupados com os correios da manha e outros pasquins que, servindo duvidosos valores e princípios, utilizam a difamação, a inverdade, o sensacionalismo, a violação do segredo de justiça e o “vale tudo”, para estimular os julgamentos e as condenações na praça pública. Assim se ressuscita aquilo que os cientistas sociais americanos designam por “legado do medo”, isto é, o medo dos jornais e das televisões, o medo da difamação e da propaganda, o medo da suspeita malévola e sem fundamento, o medo das redes sociais, isto é, o medo da comunicação de massas.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Os jornais e o ex-jornalismo independente

Os tradicionais meios de comunicação social ou mass media são a imprensa, a rádio e a televisão, mas com o aparecimento de novos suportes como a internet e as redes sociais, a imprensa e a rádio têm perdido influência no espaço mediático. Dessa forma, esses meios de comunicação têm menos leitores e menos ouvintes, as suas audiências regridem, as suas receitas publicitárias descem e as suas equações económicas tornam-se mais difíceis de resolver. Por isso, o jornalismo e os jornais independentes são cada vez mais raros, sendo os leitores e os ouvintes confrontados com manipulações e inverdades de toda a ordem.
No caso dos jornais – mas não só nos jornais – a sobrevivência “obriga” a que os seus espaços cedam a lógica noticiosa e informativa, às lógicas da publicidade comercial e da propaganda política. Assim, para que possam “sobreviver”, os jornais disponibilizam e vendem cada vez mais o seu espaço para fins não informativos, deixando de ser suportes com notícias, para se transformarem em plataformas ao serviço de quem paga para vender produtos, serviços ou ideias. É, evidentemente, o fim do jornalismo independente.
No passado dia 19 de Setembro a primeira página do The New York Times era ocupada com um anúncio das malas de alumínio da marca Rimowa e no dia 21 de Setembro o diário espanhol ABC cedia toda a sua primeira página para expressar a sua gratidão à Coca-Cola, “por estos 25 años juntos”. Ontem foi a Folha de S. Paulo e outros jornais brasileiros, que publicaram em primeira página, um “informe publicitário” relativo à reunião do G20 do próximo ano no Rio de Janeiro, numa evidente cedência à propaganda do governo brasileiro.
Nestes casos, o The New York Times, o ABC e a Folha de S. Paulo puderam facturar muitos milhares para equilibrar a sua tesouraria, mas cada um deles “violou” a sua independência jornalística e abalou a sua credibilidade junto dos seus leitores.  

sábado, 23 de setembro de 2023

Macau: património de origem portuguesa

Quando um dos três jornais de língua portuguesa que se publicam em Macau apresenta com destaque na sua primeira página, uma fotografia aérea da Fortaleza do Monte, é caso para os apreciadores do património histórico ficarem agradados, ao por verem aquela obra de arquitectura militar portuguesa, com os seus quatro baluartes ou bastiões, que hoje integra a Lista do Património Mundial da UNESCO.
A Fortaleza de São Paulo do Monte, juntamente com as ruinas jesuítas da igreja de São Paulo, são os maiores símbolos da história da presença dos portugueses em Macau. Localiza-se no centro da pequena península de Macau e foi construída por iniciativa dos Jesuítas que a concluíram em 1617, tendo sido a sua artilharia dirigida por Lopo Sarmento de Carvalho, que impôs uma pesada derrota aos holandeses da VOC, quando no dia 24 de Junho de 1622 tentaram ocupar a cidade.
A edição de ontem do jtm – Jornal Tribuna de Macau noticia que o Instituto Cultural do governo de Macau e a Melco Resorts & Entertainment, a concessionária do jogo na Região Administrativa Especial de Macau, vão desenvolver um projecto de revitalização das pontes-cais nº 23 e 25 do Porto Interior, construídas em 1948 e 1950. Um outro projecto que vai avançar é relativo ao reforço da utilização dos espaços circundantes da Fortaleza do Monte, que já alberga o moderno e magnífico Museu de Macau, com a finalidade de reordenar e melhorar os espaços periféricos da fortaleza e da sua plataforma. Esses projectos visam o reforço da atractividade turística de Macau, mas irão traduzir-se na preservação do património histórico de origem portuguesa.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

É tempo de repensar a guerra da Ucrânia

O presidente Volodymyr Zelensky atravessou o Atlântico e levou a efeito uma acção de relações públicas, talvez a maior desde que começou a guerra na Ucrânia. Esteve nas Nações Unidas, na Casa Branca e foi ao Canadá, mas as imagens a que tivemos acesso mostraram um homem e uma comitiva cansados e sem ânimo, repetindo os mesmos argumentos contra a invasão russa e pedindo sempre mais dinheiro e mais armas.
A tão anunciada contraofensiva ucraniana que começou em Junho não tem tido sucesso e os americanos estão desolados com os seus resultados, apesar de envolver tropas bem treinadas em vários países ocidentais e ter o apoio de armas ocidentais modernas. A luta tem sido muito dura, têm sido anunciadas baixas elevadíssimas e as destruições têm uma dimensão inimaginável. É cada vez mais evidente que não haverá vencedores, nem vencidos. Todos perdem com esta guerra, sobretudo as populações. A linha da frente, que tem cerca de mil quilómetros, está quase nas mesmas posições desde há vários meses e a Ucrânia, segundo revela hoje o jornal Expresso, apenas terá recuperado menos de 0,25% do território que a Rússia ocupou até Junho. A própria narrativa da guerra parece estar a mudar e, exceptuando as indústrias do armamento, há cada vez mais gente a pedir a paz. Nos Estados Unidos já se duvida do sucesso ucraniano e fazem-se contas aos custos da guerra. Kevin McCarthy, o speaker da Câmara dos Representantes, já ousou perguntar se Zelensky irá prestar contas do dinheiro que lhe foi enviado pelos Estados Unidos, mas também pergunta qual é o seu plano para vencer. O facto é que a fadiga está a tomar conta de muitos americanos, que já enviaram 75 mil milhões de dólares em auxílio humanitário, financeiro e militar.
Hoje o prestigiada revista The Economist reflecte as incertezas que alguma propaganda já não consegue esconder e, com grande destaque escreve: time for a rethink. Talvez esta mensagem estimule os dirigentes que querem mais armas e mais guerra, para que repensem as suas posições, numa altura em que na mesma Europa há a trágica realidade dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo e outros problemas sociais e ambientais bem sérios.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Estarão à procura da paz em Nova Iorque?

A Assembleia Geral das Nações Unidas reuniu em Nova Iorque na passada terça-feira para iniciar a sua 78ª sessão e, porque a instabilidade mundial é grande, juntou muitos líderes mundiais que quiseram estar presentes para discutir a guerra na Ucrânia e as suas consequências a nível mundial, mas também a emergência climática, o aumento da insegurança alimentar, a erosão da democracia e dos direitos humanos, o terrorismo e as ciber-ameaças. O jornal The New York Times deu alargada notícia deste acontecimento. 
O secretário-geral António Guterres, mas também Joe Biden e Volodymyr Zelensky, criticaram aberta e duramente a Federação Russa pela situação que se vive na Ucrânia, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que tanto a Rússia como a Ucrânia têm responsabilidades no conflito. Lula da Silva é importante e falou com Biden e com Zelensky, porque sabe que em todas as guerras os bons não estão só de um lado e os maus do outro. De passagem por Nova Iorque, Marcelo Rebelo de Sousa esteve lá com os grandes e afirmou-se ao lado do povo ucraniano, do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas.
No dia seguinte reuniu o Conselho de Segurança para discutir a situação na Ucrânia e Marcelo Rebelo de Sousa também lá esteve a desejar um “roteiro de paz justo”, que dê origem a um “cessar-fogo imediato e duradouro”, mostrando-se preocupado com a situação humanitária na Ucrânia, isto é, disse em Nova Iorque coisas diferentes do que dissera em Kyev há 15 dias. Porém, todos se concentraram em Volodymyr Zelensky e em Sergey Lavrov, que estiveram frente a frente, mas não se falaram. Utilizaram linguagens muito agressivas e acusaram-se mutuamente. Talvez essa agressividade seja o prenúncio de que algo de esperançoso possa estar para acontecer. Nestas reuniões, contam mais os encontros bilaterais que se vão fazendo com discrição e realismo. Fechem-se numa sala como se faz nos conclaves papais em Roma, até que haja fumo branco. Quem sabe se, com russos e ucranianos em Nova Iorque, não estão a ser negociadas soluções que conduzam a um rápido fim da guerra como desejam as pessoas de bom senso e o mundo reclama?

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

La Vuelta 23 terminou. Viva La Vuelta 24!

A Volta à Espanha em bicicleta, ou simplesmente La Vuelta, que é uma das três grandes provas por etapas do calendário ciclista internacional, terminou ontem em Madrid com a vitória do ciclista americano Sepp Kuss, ficando nos lugares imediatos o dinamarquês Jonas Vingegaard e o esloveno Primoz Roglic. Pela primeira vez na centenária história do ciclismo, as três grandes voltas – Giro d’Italia, Tour de France e La Vuelta – foram ganhas por três ciclistas da mesma equipa, neste caso a holandesa Jumbo-Visma, pois Roglic ganhou em Itália, Vingegaard ganhou em França e Kuss ganhou em Espanha. O jornal desportivo as destacou esse feito desportivo com o título “Jumbo al cielo”, a mostrar que o domínio daquela equipa em La Vuelta 23 foi absolutamente avassalador, com aqueles três ciclistas nos três primeiros lugares.
Os portugueses cumpriram os mínimos, pois João Almeida ficou em 9º da classificação geral, Rui Costa ganhou a 15ª etapa disputada entre Pamplona e Lekunberri e outros três ciclistas portugueses concluíram a corrida.
As transmissões televisivas da Eurosport foram espectaculares, tanto no plano desportivo, como no plano turístico-cultural. As imagens captadas de helicóptero ou por drones, permitem que o espectador acompanhe a corrida como se fosse uma “visita guiada” ao país que um professor dizia ser “o maior museu ao ar livre da Europa”, mostrando o património e a paisagem, os castelos e os palácios, as igrejas e os conventos, os rios e as pontes, as montanhas e os vales, os bosques e as searas.
Consta que La Vuelta 24 partirá de Lisboa e terá duas etapas em Portugal. Se assim for, vai ser uma grande festa popular.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

As alianças e os interesses na Geopolítica

O negócio do armamento é um importante sector da economia de alguns países e, segundo revelou o Sipri – Stockholm International Peace Reserarch Institute, há cinco países que controlam três quartos do mercado mundial da venda de armas: Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e China. A produção e a venda de armamento é essencial para as suas economias, incluindo o emprego e a balança de pagamentos. Por isso, eles competem entre si pela conquista dos mercados mundiais, que se localizam sobretudo no Médio Oriente, que é o principal destino da produção de armamento, mas também em países como a Índia, o Paquistão, a Arábia Saudita, a Coreia do Sul e alguns outros. Este quadro exportador também se relaciona com as necessidades próprias de cada um dos nove estados que dispõem de armamento nuclear – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte – que continuam a reforçar os seus arsenais nucleares e convencionais. Pode mesmo afirmar-se que, todos estes países concorrem entre si e mostram que os egoísmos e os seus interesses nacionais se sobrepõem às alianças e às solidariedades, havendo algumas teorias que defendem que as guerras são uma necessidade para alimentar este sistema.
Hoje, o jornal francês Le Télégramme recorda a “traição” australiana anunciada no dia 15 de Setembro de 2021, exactamente há dois anos, quando aquele país, contra todas as expectativas das relações comerciais internacionais, decidiu anular o “contrato do século” relativo à encomenda de doze submarinos que seriam construídos pela França. Essa construção resultara de um concurso internacional que os franceses ganharam em 2016, mas os interesses de um acordo de cooperação militar denominado Aukus, assinado pela Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, traiu a França e a economia francesa. Para os franceses foi uma traição de "amigos e aliados" e “uma facada nas costas”, enquanto o primeiro-ministro Scott Morrison é acusado de ter feito jogo duplo e de ser desonesto. Egoísmos fortes e alianças fracas.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

As imensas preocupações do nosso tempo

A frequência com que se vão realizando cimeiras de alto nível e se vão afirmando solidariedades no mundo contemporâneo é muito preocupante, apesar das continuadas manifestações de vontade de cooperação económica e de redução das tensões internacionais. 
Os últimos meses têm acentuado essas preocupações e muita gente teme as políticas armamentistas que estão em curso por toda a parte. Poucos falam de paz, de cooperação, de desenvolvimento, da resolução dos problemas da fome e da doença. Ouvem-se os comentadores televisivos e parece que o futuro da Humanidade passa pela confrontação, o que exige que cada um se arme até aos dentes. Um dos mais evidentes sinais desta situação são as recentes reuniões da NATO em Vilnius, a cimeira dos BRICS em Joanesburgo, ou o encontro dos países do G20, mas também muitas outras cimeiras que se realizaram nos últimos meses para fazer negócios, sobretudo a venda de aviões, de mísseis e de outros armamentos, mas principalmente para procurar firmar alianças e afirmar solidariedades.
A lista é muito extensa. Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen visitaram a China, enquanto Narendra Modi foi recebido em festa em Washington e Paris. Xi Jinping visitou Moscovo e recebeu meio mundo em Pequim, incluindo Lula da Silva, Nicolas Maduro e Antony Blinken. Recep Tayyp Erdogan esteve na Arábia Saudita, no Qatar e nos Emirados, falando com Moscovo e com Kiev, enquanto Joe Biden esteve em Londres, em Bruxelas, em Vilnius e se prepara para ir ao Vietnam. Ontem Vladimir Putin encontrou-se com Kim Jong-un e a imprensa mundial, designadamente o londrino The Times, registou essa nova aliança entre dois líderes e dois regimes dispondo de armamento nuclear. Se havia quem se preocupasse com tanta "contagem de espingardas", a aliança entre estes dois dirigentes é um motivo adicional de preocupação para o mundo.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Até na América há líderes de pés de barro

O mundo anda muito agitado devido às lutas pelo poder mundial e às consequentes guerras ditas de “estratégia indirecta”, a que se juntam as alterações climáticas, as catástrofes naturais, os desequilíbrios regionais, as crises económicas e sanitárias, a pobreza, a fome e o subdesenvolvimento. A harmonia e a cooperação internacionais são ameaçadas demasiadas vezes e, utilizando a linguagem matemática, podemos afirmar que a paz não é um parâmetro, mas é cada vez mais uma variável.
Provavelmente, uma das causas de toda a agitação mundial que nos ameaça, é a falta de estatura moral de muitos líderes que, embora escolhidos democraticamente, resultam muitas vezes de criações mediáticas inspiradas em processos de propaganda, de marketing e de publicidade que, como todos sabemos, têm muito sensacionalismo e muita inverdade. Porém, acontece que os políticos “criados” pela comunicação social, também são “difamados” e “acusados” pela mesma comunicação social. São líderes de pés de berro. A fórmula mais eficaz para os abater é a acusação de corrupção, falsa ou verdadeira. São conhecidos os problemas por que passaram, justa ou injustamente, Silvio Berlusconi, Nicolas Sarkozy, Mariano Rajoy, Vladimir Putin, Lula da Silva, Dilma Rousseff ou Jair Bolsonaro, entre muitos outros líderes políticos, muitas vezes acusados de práticas corruptas e quase sempre vítimas das conjuras dos seus adversários políticos.
A luta pelo poder nos regimes democráticos incorporou nos últimos anos a difamação e a acusação de adversários políticos. 
O caso mais recente acontece com o presidente Joe Biden, como hoje destaca o New York Post e outros jornais americanos: Kevin McCarthy, o presidente da Câmara dos Representantes que é dominada pelo Partido Republicano, ordenou ontem um inquérito de impeachment visando a destituição do presidente dos Estados Unidos, por eventual envolvimento nos negócios do seu filho Hunter Biden, na Ucrânia e em outros países. 
A luta política tem cada vez menos regras e joga no “vale tudo”, mas acentua-se quando a estatura moral dos líderes está comprometida com outros interesses que não sejam os dos povos por que deviam zelar.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

A noite dos artistas aconteceu no Algarve

Foi uma noite de festa para os portugueses que gostam do futebol e apreciam a qualidade artística dos executantes que fazem aquele espectáculo, sem olhar à cor das suas camisolas. A selecção nacional nunca vencera um desafio por nove golos sem resposta e, por isso, o resultado de ontem à noite no Estádio do Algarve contra o Luxemburgo fica registado no historial do futebol português. Foi a noite dos artistas. Nunca se vira um resultado destes em 102 anos de história da selecção nacional. 
O jornal A Bola destacou a palavra “perfeito” para caracterizar uma excepcional exibição colectiva em que todos os jogadores brilharam e se sentiram apoiados pelo público algarvio. Provavelmente foi uma noite futebolística inesquecível.
O Luxemburgo é um pequeno país que é muito rico mas que não pertence à elite do futebol mundial e “pagou as favas”. A equipa luxemburguesa teve que defrontar uma equipa em que se destacam jogadores cujas credenciais são temíveis, pois jogam no Manchester City, no Manchester United, no Liverpool, no Paris Saint-Germain, no Milan ou no Barcelona. Quem não se assusta com esta gente? Os nove golos foram marcados por seis diferentes jogadores e, na defesa, não há golos sofridos exactamente há seis jogos.
Num tempo de tantas incertezas e de tantas interrogações, umas internas e outras internacionais, estes sucessos futebolísticos servem para animar o nosso povo e colocar a autoestima lusitana num plano mais elevado.

Evocando a coragem de Salvador Allende

Passaram ontem 50 anos sobre o golpe de estado que levou à morte de Salvador Allende, o presidente da República do Chile que fora eleito em eleições livres, a que se seguiu uma feroz ditadura militar encabeçada pelo general Augusto Pinochet. A perseguição feita aos democratas chilenos provocou milhares de mortos, desaparecidos e exilados, o que fez da ditadura chilena uma das mais sanguinárias da história moderna. 
Pinochet quis eternizar-se no poder mas essa intenção foi rejeitada pelo povo chileno num referendo nacional que em 1990 abriu as portas à restauração da democracia, embora só em 2006, depois da morte do ditador, é que a democracia chilena de facto regressou ao país.
Por razões diversas, sobretudo de natureza económica, mas também porque muitas organizações chilenas de direitos humanos continuam a reivindicar "verdade e justiça", as “evocações dos 50 anos do golpe” foram este ano mais polarizadas do que nunca.
Porém, muitos jornais sul-americanos evocaram a memória e lembraram a coragem de Salvador Allende nas suas edições de ontem. O diário colombiano El Espectador publicou uma destacada homenagem a Salvador Allende e aos milhares de vítimas de golpe de 11 de Setembro de 1973, com uma das mais expressivas imagens daquele dia, que mostra os soldados às ordens dos generais chilenos a cercarem o Palácio de La Moneda em Santiago do Chile, de onde irrompiam chamas provocadas pelos ataques da aviação chilena.
O país de Pablo Neruda tem actualmente como presidente Gabriel Boric, um político de 36 anos de idade, cuja linha política é semelhante à de Salvador Allende, um homem cuja coragem foi registada no filme "Chove em Santiago" e que permanece como um símbolo no imaginário dos democratas do mundo inteiro. 

domingo, 10 de setembro de 2023

As lições da tragédia de Marraquexe

O forte terramoto de 6,9 graus de magnitude que aconteceu na noite de sexta-feira em Marrocos teve a dimensão de uma grande tragédia, pois provocou mais de dois mil mortos e uma enorme destruição, sobretudo na área da cidade histórica de Marraquexe, que está classificada pela Unesco como património mundial. A imprensa mundial destaca hoje esse trágico acontecimento com a mesma fotografia, em que uma desesperada moradora da cidade chora a sua desgraça entre as ruínas.
Nos últimos tempos o número de grandes catástrofes naturais tem aumentado, por razões diversas, mas sobretudo devido às alterações climáticas e ao egoísmo das nações. As comunidades e os seres humanos estão a ser vítimas de incêndios florestais e de ciclones devastadores, de inundações e de sismos, mas também de secas extremas e do progressivo degelo polar. As Nações Unidas, sobretudo pela voz de António Guterres, têm denunciado a apatia geral dos líderes mundiais perante esta ameaça global e esta hecatombe, que se aproxima mais depressa do que tínhamos pensado. Porém, a generalidade dos líderes que nos governam parece pensar em mais armas, mais munições e mais aviões para a guerra da Ucrânia, e menos na solução dos problemas ambientais do mundo. Na recente visita que fez a Kiev, o nosso presidente da República apoiou a continuação da guerra com grande entusiasmo, parecendo ignorar que as guerras só aproveitam aos fabricantes de armamento, aos especuladores de alimentos e aos produtores de energia, mas que afectam seriamente a economia, a qualidade de vida e a confiança no futuro da Humanidade.
A tragédia que nas últimas horas se abateu sobre os nossos vizinhos de Marrocos é apenas mais um sinal, mas também uma lição, a aconselhar que pensemos mais e melhor quanto ao futuro do nosso planeta.

sábado, 9 de setembro de 2023

Há quem goste ou não goste de veleiros

Depois de ter passado por Lisboa, onde lamentavelmente ninguém lhe ligou, a Gran Regata ou a Tall Ships Race 2023, chegou a Cádiz. A cidade gaditana soube honrar a sua origem fenícia e a sua ligação ao mar, organizando um vasto programa de apoio às tripulações dos veleiros, ao mesmo tempo que a visita também está a ser um grande acontecimento cultural, como se pode verificar pela enorme cobertura que o evento está a ter por parte da comunicação social da cidade e pela diversidade de iniciativas, destinadas sobretudo à juventude. 
Ontem, realizou-se um grande desfile das tripulações pelas ruas do centro da cidade e La Voz de Cádiz destacou-o na sua primeira página com uma fotografia em que se pode observar a delegação do navio-escola Sagres a desfilar, com uma enorme bandeira nacional a ser transportada por jovens cadetes da Escola Naval.
Além da nossa Sagres, os jornais de Cádiz destacaram a presença dos veleiros mexicano Cuauhtémoc e do polaco Dar Mlodziezy, que classificou como "imponentes". Em Portugal, com a cidade de Lisboa provavelmente cansada pelo seu recente envolvimento com a JMJ, a presença da Gran Regata não interessou a comunicação social, muito mais interessada em saber o que se passou no Conselho de Estado, nas transferências dos futebolistas e até no ridículo caso Rubiales. Como aqui já tínhamos referido, toda esta mediocridade nos dói.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Evocando a independência do Brasil

Ontem, que foi dia 7 de Setembro, comemorou-se a histórica e simbólica efeméride ocorrida nesse dia do ano de 1822 nas margens do rio Ipiranga, no actual estado brasileitro de São Paulo, quando o príncipe-regente D. Pedro de Alcântara e Bragança assumiu a responsabilidade pela separação do reino do Brasil do reino de Portugal e gritou: Independência ou morte!
Viviam-se então tempos difíceis, tanto em Portugal como no Brasil. O rei D. João VI, bem como a Família Real, tinha regressado a Portugal em 1821 e nomeara o seu filho mais velho como príncipe-regente do Brasil, numa altura em que os territórios da América espanhola reivindicavam e lutavam pela sua independência, sob a inspiração de Simón Bolivar. A ausência do rei desgostava os brasileiros, enquanto em Lisboa se considerava que o príncipe-regente era “um mancebo ambicioso e alucinado”.
A declaração de independência acelerou os preparativos para resistir à esperada reacção portuguesa e, no dia 12 de outubro de 1822, data em que celebrava 24 anos de idade, dos quais passara quinze no Brasil, o príncipe-regente foi aclamado como D. Pedro I, Imperador do Brasil. Começou então a guerra em todo o território brasileiro e só a Marinha Imperial poderia defender a independência do Brasil e manter a unidade do vasto território nacional. Porém, enquanto as províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo aderiram à proclamação do príncipe-regente, a generalidade das unidades militares portuguesas permaneceram fiéis ao seu rei e ao seu governo, resistindo à onda independentista, sobretudo nas províncias da Cisplatina (Montevideu), Bahia (Salvador), Maranhão (S. Luís) e Pará (Belém). 
A guerra durou até Agosto de 1825 quando Portugal reconheceu formalmente a independência do Brasil. O jornal O Imparcial que se publica em São Luís, a capital do Estado do Maranhão, lembrou na sua edição de ontem que “o grito do Ipiranga não ecoou no Maranhão”.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Os portugueses estão na Rugby World Cup

Começa amanhã em Paris a décima edição da Rugby World Cup, um torneio que é considerado o terceiro acontecimento desportivo mais importante que se realiza no nosso planeta, só ultrapassado em audiência pelo Campeonato do Mundo de Futebol e pelos Jogos Olímpicos. 
Participam vinte selecções nacionais que foram divididas em quatro grupos e os jogos do torneio vão realizar-se entre os dias 8 de Setembro e 28 de Outubro, em nove diferentes cidades francesas. O jogo inaugural vai disputar-se amanhã no estádio de Saint-Denis entre duas das selecções favoritas: a França e a Nova Zelândia.
Depois de ter participado nesta fase final em 2007, que também se realizou em França, na qual perdeu os quatro jogos realizados e ficou em 19º lugar na classificação final, a selecção portuguesa volta a estar presente na fase final da Rugby World Cup, estando incluída no Grupo C com o País de Gales, a Austrália, Fiji e a Geórgia. A sua estreia nesta sua segunda participação neste torneio acontecerá no dia 16 de Setembro contra o País de Gales e, naturalmente, todos desejamos que a equipa portuguesa tenha bons resultados.
As nove anteriores edições da prova tiveram como vencedores a Nova Zelândia (3 vezes), a África do Sul (3 vezes), a Austrália (2 vezes) e a Inglaterra (uma vez), mas os franceses que já foram vice-campeões por três vezes esperam que desta vez possam vencer o torneio e, finalmente, possam ser campeões do mundo, como tanto desejam. É essa a mensagem que, na sua edição de hoje, o jornal La Dépêche du Midi, que se publica na cidade de Toulouse - a capital do rugby francês - transmite aos seus jogadores.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Lisboa quase ignorou a Tall Ships Race 23

A edição de hoje do jornal La Voz de Cádiz anuncia que os grandes veleiros que tomam parte na Gran Regata, ou na Tall Ships Race 2023, partiram ontem de Lisboa, esperando-se que amanhã cheguem ao porto de Cádis.
A Tall Ships Race é um evento organizado anualmente que reúne os grandes veleiros de diferentes países que cumprem uma itinerância por diferentes portos e que, por vezes, é associada a uma efeméride relevante para uma ou mais cidades de acolhimento. Este ano, essa grande festa de confraternização de veleiros a que se costuma chamar regata, celebrou a primeira viagem de circumnavegação iniciada em 1519 por Fernão de Magalhães e completada em 1522 por Sebástian de Elcano. O ponto de reunião dos veleiros aconteceu em Falmouth, no Reino Unido, seguiu-se a navegação para La Coruña e depois para Lisboa, onde os veleiros estiveram desde o dia 31 de Agosto até ontem.
Exceptuando, uma ou outra breve notícia televisiva, o assunto foi ignorado pela comunicação social portuguesa, o que é bem curioso, mas também muito triste. A presença de tantos veleiros num qualquer porto é um espectáculo de grande beleza e uma memória viva das navegações que descobriram o mundo, mas também uma afirmação de juventude e de apelo à preservação do ambiente marítimo. Isso não interessou os jornais portugueses que hoje falam de futebol, da crise da habitação, do arranque do ano escolar e do preço dos combustíveis, ao contrário do que fez o jornal La Voz de Cádiz que publicou hoje uma fotografia a toda a largura da sua primeira página do navio-escola Sagres, a sair o estuário do Tejo. 
Que pena não termos jornais assim.

sábado, 2 de setembro de 2023

O “Doble João” ou as loucuras do futebol

Como não há grandes notícias do estado do mundo para além do já famoso caso Rubiales, nem das meteorologias adversas que nos apoquentam, têm sido as politiquices internas a incomodar-nos e a indicar-nos que a corrida para Belém já começou. O pequeno Luís antecipou-se, mas o Pedro, o Paulo e o Cherne não ficaram calados e já mostraram que têm aspirações a ser frequent flyers dos nossos Falcon.
Nessas circunstâncias, são as transferências futebolísticas que ocupam as manchetes da imprensa e mostram que não falta dinheiro no mundo do futebol, embora poucas vezes se saiba de onde vem.
Hoje a imprensa desportiva espanhola destaca a transferência para o Fútbol Club Barcelona, não de um João, mas de dois Joãos. O jornal catalão L’Esportiu anuncia um Doble João. É uma alegria para os Joãos de Portugal!
O mesmo clube que gastou milhões com Messi e com Neymar, abriu os cordões à bolsa e comprou dois dos melhores futebolistas portugueses. Não se sabe onde foi buscar o dinheiro nem de quanto necessitou, pois os problemas financeiros do FC Barcelona têm uma escala inimaginável e até se diz que Messi abandonou o clube, apenas porque já tinha secado o pote do clube blaugrana, que terá uma dívida de três mil milhões de euros. O problema é que o clube e a afición querem vitórias, não havendo quem os obrigue a não gastarem o que não têm. E a situação tende a piorar…
Os Joãos estão certamente muito contentes, a afición vai exigir-lhes que joguem bem e metam muitos golos, enquanto nós lhes desejamos que sejam felizes.