quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O reaparecimento do “legado do medo”

No último texto que aqui publicamos foi tratado o ex-jornalismo independente e era referida uma comunicação de massas que produz e reproduz ideologias mascaradas de independência e neutralidade em relação aos interesses comerciais, políticos e até do próprio Estado. Os efeitos sociais dos mass media são intensos e são estudados desde há muitos anos, até existindo a “teoria das balas mágicas” que afirma que o processo de comunicação de massas é equivalente ao que se passa numa carreira de tiro, pois bastava atingir o alvo para que este caísse.
No actual contexto em que a comunicação social é um negócio, o jornalista deixou de ser um profissional independente e de valores próprios, para passar a partilhar os valores do seu patrão ou da sua empresa. Esta realidade tem-se agravado nos últimos anos e aplica-se à imprensa, à radio e à televisão. Nessa linha de pensamento, também o iluminado Marshall McLuhan afirmou que a rádio e a televisão estavam a fazer do nosso planeta uma “aldeia global”. De facto, são bem conhecidos os efeitos sociais e culturais dos mass media e, há poucos anos, um jornalista português de referência dizia que “a televisão vende sabonetes e até vende presidentes da república”.
Quando, na sua edição de hoje, o Diário de Notícias diz que “40% dos juízes admite que comunicação social influencia decisões”, confirmamos aquilo que há muito tempo era uma evidência e ficamos preocupados com os correios da manha e outros pasquins que, servindo duvidosos valores e princípios, utilizam a difamação, a inverdade, o sensacionalismo, a violação do segredo de justiça e o “vale tudo”, para estimular os julgamentos e as condenações na praça pública. Assim se ressuscita aquilo que os cientistas sociais americanos designam por “legado do medo”, isto é, o medo dos jornais e das televisões, o medo da difamação e da propaganda, o medo da suspeita malévola e sem fundamento, o medo das redes sociais, isto é, o medo da comunicação de massas.

Sem comentários:

Enviar um comentário