As eleições
autárquicas ontem realizadas decorreram com normalidade e foram a prova provada de que
a democracia portuguesa está viva, pois a campanha eleitoral e as votações decorreram sem incidentes.
Os portugueses escolheram livremente e
mostraram que a alternância do poder é um valor importante e que responde à
necessidade de mudança a que aspiram as pessoas e as comunidades.
A possibilidade de escolher através do voto aqueles que devem governar em nome do povo é uma arma democrática e as eleições constituem a forma de satisfazer as naturais vontades de mudança. Há muitos anos, já Camões
escrevera:
Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se
o ser, muda-se a confiança;
Todo
o mundo é composto de mudança,
Tomando
sempre novas qualidades.
Era assim no século XVI e é assim agora, isto é, o mundo é composto de mudança. Porém, lamenta-se tanta
abstenção, o que constitui um aspecto negativo dos processos eleitorais a que
os agentes políticos não têm querido dar resposta, pois quase sempre escolhem
candidatos gerados pelos aparelhos e não as pessoas interessadas em prestar um
serviço público à comunidade. Para muitos eleitores é tudo “farinha do mesmo
saco” e, por isso, tornam-se indiferentes e acabam por não participar. Os resultados de
ontem não tiveram expressão nacional e não significam grandes mudanças, mas
serviram para abalar alguns interesses instalados ou, como refere o jornal
Público, as eleições abalaram o PS e animaram o PSD. A resposta às
exigências das populações implica um poder autárquico muito dedicado a essas
populações, o que nem sempre acontece, pois há muitos autarcas mais apostados
no seu carreirismo político do que na satisfação das necessidades das pessoas –
os transportes, a habitação, a limpeza urbana, o ambiente, a segurança, entre
outras. Porém, muitos dos autarcas acomodam-se a pensar nas suas carreiras
políticas e os eleitores já não engolem facilmente essas situações. Isso terá
acontecido em Coimbra, no Funchal e em outros concelhos, mas sobretudo em
Lisboa onde o excesso de confiança daqueles a quem as sondagens garantiam a
vitória, os conduziu à derrota.
Foi uma grande
lição e um acertado aviso, porque governar uma cidade é servir e não pode ser
um trampolim para qualquer outras coisa.