segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Eleições autárquicas: a lição e o aviso

As eleições autárquicas ontem realizadas decorreram com normalidade e foram a prova provada de que a democracia portuguesa está viva, pois a campanha eleitoral e as votações decorreram sem incidentes. 
Os portugueses escolheram livremente e mostraram que a alternância do poder é um valor importante e que responde à necessidade de mudança a que aspiram as pessoas e as comunidades. 
A possibilidade de escolher através do voto aqueles que devem governar em nome do povo é uma arma democrática e as eleições constituem a forma de satisfazer as naturais vontades de mudança. Há muitos anos, já Camões escrevera:

            Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
          Muda-se o ser, muda-se a confiança; 
          Todo o mundo é composto de mudança, 
          Tomando sempre novas qualidades.

Era assim no século XVI e é assim agora, isto é, o mundo é composto de mudança. Porém, lamenta-se tanta abstenção, o que constitui um aspecto negativo dos processos eleitorais a que os agentes políticos não têm querido dar resposta, pois quase sempre escolhem candidatos gerados pelos aparelhos e não as pessoas interessadas em prestar um serviço público à comunidade. Para muitos eleitores é tudo “farinha do mesmo saco” e, por isso, tornam-se indiferentes e acabam por não participar.  Os resultados de ontem não tiveram expressão nacional e não significam grandes mudanças, mas serviram para abalar alguns interesses instalados ou, como refere o jornal Público, as eleições abalaram o PS e animaram o PSD. A resposta às exigências das populações implica um poder autárquico muito dedicado a essas populações, o que nem sempre acontece, pois há muitos autarcas mais apostados no seu carreirismo político do que na satisfação das necessidades das pessoas – os transportes, a habitação, a limpeza urbana, o ambiente, a segurança, entre outras. Porém, muitos dos autarcas acomodam-se a pensar nas suas carreiras políticas e os eleitores já não engolem facilmente essas situações. Isso terá acontecido em Coimbra, no Funchal e em outros concelhos, mas sobretudo em Lisboa onde o excesso de confiança daqueles a quem as sondagens garantiam a vitória, os conduziu à derrota.
Foi uma grande lição e um acertado aviso, porque governar uma cidade é servir e não pode ser um trampolim para qualquer outras coisa.

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