segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Estado do Curdistão vai ter de esperar

Está prevista para hoje a realização de um referendo sobre a independência no Curdistão iraquiano, mas paira sobre esta iniciativa uma grande apreensão, havendo muitos observadores que consideram que esta iniciativa pode dar origem a um agravamento ainda maior da situação naquela região do mundo.
O Curdistão é uma grande região do Médio Oriente, geográfica e culturalmente habitada pelo povo curdo, com uma área de cerca de 500 mil quilómetros quadrados e que se estende por vários países, estimando-se que existam cerca de 35 milhões de curdos, sobretudo na Turquia (18 milhões), no Irão (8 milhões), no Iraque (5 milhões), na Síria (2 milhões) e na diáspora curda (2 milhões). A ambição dos curdos para criar um Estado independente acentuou-se depois do fim da I Guerra Mundial, quando o Império Otomano foi derrotado e as potências vitoriosas redesenharam o mapa político do Médio Oriente, mas deixaram o povo curdo sem um Estado próprio. Essa ambição curda confronta-se com os interesses dos países que “ocupam” o seu território e, por isso, tem sido vítima da sua hostilidade, sobretudo na Turquia, onde cerca de um terço do seu território é habitado pelos curdos. No caso do Iraque, em que 20% da população é curda, a perseguição levada a efeito por Saddam Hussein foi brutal e foi um aviso que alertou a comunidade internacional para a necessidade de proteger o povo curdo.
Por isso, após as guerras do Golfo de 1991 e de 2003, o Curdistão iraquiano adquiriu um estatuto de autonomia que é único em todo o “território curdo”, que as autoridades de Bagdad foram “obrigadas” a aceitar. Agora, em nome dos direitos dos curdos, o Curdistão iraquiano mobilizou-se em torno do presidente Massoud Barzani que é o principal promotor do referendo, que só os curdos querem e que todos os “países ocupantes” rejeitam, ameaçando com represálias. Nada se espera deste referendo e o The New York Times até sugere que o cancelem para evitar males maiores, enquanto a ONU pediu que fosse cancelado.
O problema curdo só terá uma solução justa num quadro de negociações alargadas e complexas que ultrapasse as enormes rivalidades e as conflitualidades actuais dos “ocupantes”.