Está prevista
para hoje a realização de um referendo sobre a independência no Curdistão
iraquiano, mas paira sobre esta iniciativa uma grande apreensão, havendo muitos
observadores que consideram que esta iniciativa pode dar origem a um
agravamento ainda maior da situação naquela região do mundo.
O Curdistão é uma
grande região do Médio Oriente, geográfica e culturalmente habitada pelo povo
curdo, com uma área de cerca de 500 mil quilómetros quadrados e que se estende por
vários países, estimando-se que existam cerca de 35 milhões de curdos,
sobretudo na Turquia (18 milhões), no Irão (8 milhões), no Iraque (5 milhões), na
Síria (2 milhões) e na diáspora curda (2 milhões). A ambição dos curdos para
criar um Estado independente acentuou-se depois do fim da I Guerra Mundial,
quando o Império Otomano foi derrotado e as potências vitoriosas redesenharam o
mapa político do Médio Oriente, mas deixaram o povo curdo sem um Estado
próprio. Essa ambição curda confronta-se com os interesses dos países que
“ocupam” o seu território e, por isso, tem sido vítima da sua hostilidade,
sobretudo na Turquia, onde cerca de um terço do seu território é habitado pelos
curdos. No caso do Iraque, em que 20% da população é curda, a perseguição
levada a efeito por Saddam Hussein foi brutal e foi um aviso que alertou a
comunidade internacional para a necessidade de proteger o povo curdo.
Por isso, após as
guerras do Golfo de 1991 e de 2003, o Curdistão iraquiano adquiriu um estatuto
de autonomia que é único em todo o “território curdo”, que as autoridades de
Bagdad foram “obrigadas” a aceitar. Agora, em nome dos direitos dos curdos, o Curdistão iraquiano mobilizou-se em torno do presidente Massoud
Barzani que é o principal promotor do referendo, que só os curdos querem e que todos
os “países ocupantes” rejeitam, ameaçando com represálias. Nada se espera deste
referendo e o The New York Times até sugere que o cancelem para evitar males maiores,
enquanto a ONU pediu que fosse cancelado.
O problema curdo
só terá uma solução justa num quadro de negociações alargadas e complexas que
ultrapasse as enormes rivalidades e as conflitualidades actuais dos “ocupantes”.
O direito à autodeterminação dos povos só valeu em África? Deveria ser um direito elementar sem discussão. Mas isto dizem os ingénuos...
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