Decorreu apenas
uma semana desde a fuga do ditador Bashar al-Assad e a entrada em Damasco dos
rebeldes do Hayat Tahir-al Shams (HTS) e do seu líder Abu Mohammad al-Jowlani.
Segundo as
imagens que nos chegam, a cidade de Damasco está em festa com a sua libertação
do regime dos Assad e uma onda de esperança e de optimismo alastra pelo país. A
diáspora síria também festeja e muitos querem regressar, embora também haja algumas
minorias que desconfiam dos novos poderes e querem abandonar o país.
A situação é de
euforia como mostra a capa da mais recente edição da revista Der
Spiegel, mas o mais elementar bom senso mostra que o mundo deve estar
apreensivo. A Síria viu-se livre de Bashar al-Assad, mas ninguém se atreve a
adivinhar o futuro, que tanto pode ser de estabilidade, como de mais uma dura
guerra. A Síria é uma
manta de retalhos de etnias, de religiões e de grupos armados rivais. O Estado
sírio implodiu, grande parte do país está destruido e as ambições dos vizinhos
são ilimitadas. A Turquia viu-se livre dos Assad e vê agora uma boa oportunidade
para resolver a seu favor a questão curda. Israel não disfarça a sua política
agressiva para com o vizinho sírio para o atemorizar e, provavelmente, para
ocupar uma parte do seu território. Os Estados Unidos já trataram de mandar
para a região o seu enviado especial Antony Blinken. A Rússia e o Irão,
aparentemente derrotados, continuam silenciosos e sem justificar porque
deixaram cair Bashar al-Assad. Este é o sombrio panorama sírio, que a alegria
da libertação parece esconder.
Entretanto, o
líder Abu Mohammad al-Jowlani começou a usar a sua verdadeira identidade –
Ahmed al-Sharaa – certamente para mudar a sua imagem radical e torná-la mais
moderada. Este sírio de 42 anos de idade, que nasceu na Arábia Saudita mas que
viveu na cidade de Damasco desde os 7 anos de idade, aderiu ao jihadismo da
al-Qaeda no Iraque, passou pelo Daesh e a partir de 2017 cortou com a al-Qaeda
e criou o Hayat Tahir-al Shams (HTS), uma organização que as Nações Unidas, os
Estados Unidos, o Reino Unido e muitos outros países consideram terrorista.
É caso para usar
uma famosa e popular frase: prognósticos só no fim do jogo…