domingo, 26 de abril de 2020

Brasil: zangas, traições e interferências

O Brasil está a atravessar um tempo difícil, não só pelos efeitos da pandemia do covid-19, mas também pelas perturbações políticas dos últimos tempos, devido às declarações imprudentes e incompetentes de Jair Bolsonaro e às demasiadas fissuras que fragilizam o seu aparelho de poder. 
Aconteceu agora que o ex-deputado federal Jair Bolsonaro, que é o actual presidente do Brasil, e o ex-juiz federal Sérgio Moro, que vinha desempenhando as funções de ministro da Justiça, se zangaram e fizeram mútuas acusações, daí resultando a demissão do ministro que era considerado o mais bolsonarista dos ministros brasileiros. As divergências e as tensões foram-se acumulando, mas parece que a gota de água que fez transbordar o copo foi a acusação que o Moro fez ao Jair, segundo a qual ele estava a querer interferir no processo em que um seu filho está sob investigação na Polícia Federal. O Jair não gostou dessa acusação e tratou de dizer que o Moro era demasiado ambicioso e que queria garantir um lugar no Supremo Tribunal Federal, que é um lugar de escolha presidencial. Não se sabe qual deles está a mentir mais ou qual deles está a jogar mais no seu próprio futuro político, mas uma sondagem revela que nesta polémica há 65% de brasileiros que acredita em Moro, enquanto 35% estão com o Jair.
Depois da demissão do popular ministro Luiz Henrique Mandetta, a demissão de Sérgio Moro que surgiu com gravíssimas acusações ao Jair, vem abrir uma crise governamental no Brasil, porque “quando se zangam as comadres, descobrem-se as verdades” e é isso que está a acontecer. Em tempos de pandemia e quando o número de óbitos continua a aumentar, os caminhos trilhados pela política brasileira são preocupantes e parecem mostrar que há “uma mão invisível” que a todos tritura, ou que os arquitectos que desenharam os processos contra Lula da Silva e, sobretudo, contra Dilma Rousseff, estão agora a “beber do seu próprio veneno”.