Muitas vezes há pequenas notícias que têm a capacidade de nos impressionar, não tanto pelo seu conteúdo objectivo, mas sobretudo pelo seu valor simbólico. Assim acontece com uma notícia que o jornal i publica hoje na sua primeira página:
“Orçamento da Assembleia pagou torneio de golfe para deputados”.
De acordo com essa notícia a Associação dos ex-Deputados do Parlamento (AEDAR) e o Grupo Desportivo receberam nos últimos cinco anos cerca de 286 mil euros do orçamento da Assembleia da República. No corrente ano, quando se esperava contenção e bons exemplos, a mesma Assembleia da República decidiu voltar a financiar um torneio de golfe para deputados, na Quinta da Marinha, que se realizou entre os dias 11 e 13 de Julho, tendo a AEDAR recebido 42,5 mil euros, enquanto o Grupo Desportivo recebeu 15,2 mil euros.
Ninguém põe em causa que os nossos deputados e os ex-deputados tenham uma associação, nem que organizem torneios de golfe, de xadrez ou de bisca. Isso é lá com eles, desde que os paguem com o seu dinheiro. Porém, esta iniciativa ilustra a falta de sensibilidade e até de valores dos nossos deputados golfistas, bem como de quem gere o orçamento parlamentar. Quando se cortam os salários e as pensões, quando se anuncia uma razia na função pública e se aumentam os impostos, os transportes, as taxas moderadoras e tantas coisas mais, a nossa classe política não prescinde de jogar golfe na Quinta da Marinha à custa do erário público. É difícil classificar a maneira como esta gente gasta o nosso dinheiro e dá tão maus exemplos à sociedade. Como diria um amigo meu, é preciso ter muita lata!