Os principais jornais portugueses noticiam hoje que Portugal decidiu pedir ajuda financeira à Comissão Europeia e ao seu fundo de estabilização. A palavra “ajuda” aparece em todas front pages, enquanto a generalidade da imprensa internacional também chama Portugal para as suas primeiras páginas. Depois da Grécia e da Irlanda, chegou a vez de Portugal que, assim, se torna a terceira vítima das receitas do FMI, embora também seja uma vítima por culpa própria.
Os partidos e a sua gente, os sindicatos e algumas corporações tomaram conta disto cegamente, gastando o que não havia, alimentando clientelas, promovendo mediocridades e reivindicando utopias. Alguns chamavam à situação um regabofe. O desvario era visível desde há muitos anos. Não foi apenas agora. Era uma irresponsabilidade total. A corrupção alastrou sem que fosse combatida. O enriquecimento delituoso foi facilitado. A justiça adormeceu à sombra dos seus privilégios. O facilitismo e a mediocridade impuseram-se. Era o deslumbramento, o sucesso fácil e o novo-riquismo exibicionista. Os bancos entusiasmaram-se com a facilidade dos milhões de lucro e estimularam consumos e endividamentos. Compraram-se casas, segundas casas, novos carros e muitas viagens. Numa geração, os portugueses passaram da carroça para o BMW.
Agora virá o chamado programa de estabilização, que vai ser duro.
Dizem as sondagens que há meio Portugal que concorda e que há outro meio que discorda. Há inúmeras interpretações quanto às causas e às culpas desta situação que é humilhante para os Portugueses. Os políticos acusam-se mutuamente. Como se não fossem o rosto desta humilhação. Porém, em boa verdade, todos nós somos culpados desta situação, porque fomos nós que os escolhemos e fomos nós que, com os nossos silêncios, os temos alimentado.
E agora?