Com alguma
solenidade e muita demagogia, pudemos ver ontem Donald Trump a anunciar que os
cerca de dois mil militares americanos que se encontram na Síria iriam
regressar a casa, porque o Daesh tinha sido derrotado e não havia razões para
que lá se mantivessem. O jornal USA Today foi um dos jornais
americanos que destacou essa notícia, com a qual o Donald espera melhorar a sua reputação interna.
A surpresa por esta declaração foi enorme
e provocou reacções do Pentágono e de alguns aliados dos Estados Unidos, que a
consideram irrealista e prematura. Não é preciso conhecer a actual situação
política e militar na Síria - um tema que foi abandonado pela imprensa
ocidental - para saber que o Daesh ainda não foi derrotado, nem militar nem
ideologicamente. Ao anunciar a derrota do Daesh no território sírio, o Donald
mentiu aos americanos e, seguramente, tem qualquer coisa "escondida na manga". De
facto, num país onde se cruzam tantos e tão divergentes interesses, em que
Bashar al-Assad resistiu a oito anos de guerra e em que os russos têm sido
decisivos, a decisão do Donald é enigmática e terá resultado de um acordo com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. A
ser assim, em vez de tensão no terreno entre turcos e americanos, a retirada
americana pode ser uma jogada de reaproximação à Turquia e, ao mesmo
tempo, um apoio claro para que os turcos lancem uma ofensiva contra os curdos.
Como tantas vezes aconteceu ao longo do processo histórico, parece que estamos
em presença de uma situação em que o interesse do mais forte sacrifica e deixa
à sua sorte o interesse do mais fraco. Parece, de facto, que o Donald escolheu trair os curdos. Veremos o que
vai acontecer.