quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Os americanos retiram tropas da Síria

Com alguma solenidade e muita demagogia, pudemos ver ontem Donald Trump a anunciar que os cerca de dois mil militares americanos que se encontram na Síria iriam regressar a casa, porque o Daesh tinha sido derrotado e não havia razões para que lá se mantivessem. O jornal USA Today foi um dos jornais americanos que destacou essa notícia, com a qual o Donald espera melhorar a sua reputação interna.
A surpresa por esta declaração foi enorme e provocou reacções do Pentágono e de alguns aliados dos Estados Unidos, que a consideram irrealista e prematura. Não é preciso conhecer a actual situação política e militar na Síria - um tema que foi abandonado pela imprensa ocidental - para saber que o Daesh ainda não foi derrotado, nem militar nem ideologicamente. Ao anunciar a derrota do Daesh no território sírio, o Donald mentiu aos americanos e, seguramente, tem qualquer coisa "escondida na manga". De facto, num país onde se cruzam tantos e tão divergentes interesses, em que Bashar al-Assad resistiu a oito anos de guerra e em que os russos têm sido decisivos, a decisão do Donald é enigmática e terá resultado de um acordo com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. A ser assim, em vez de tensão no terreno entre turcos e americanos, a retirada americana pode ser uma jogada de reaproximação à Turquia e, ao mesmo tempo, um apoio claro para que os turcos lancem uma ofensiva contra os curdos. Como tantas vezes aconteceu ao longo do processo histórico, parece que estamos em presença de uma situação em que o interesse do mais forte sacrifica e deixa à sua sorte o interesse do mais fraco. Parece, de facto, que o Donald escolheu trair os curdos. Veremos o que vai acontecer.