quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A austeridade está a asfixiar Portugal

Gerhard Schröder, o homem que entre 1998 e 2005 desempenhou as funções de chanceler alemão, declarou numa conferência ontem realizada em Lisboa que o Diário de Notícias noticiou, que “a austeridade está a asfixiar Portugal”, defendendo a primazia das políticas voltadas para o crescimento e uma menor ênfase na austeridade.
Há uns meses, comentando a austeridade imposta aos portugueses, Adriano Moreira tinha dito que “nunca viu uma situação tão severa na vida portuguesa”. Depois, perante o peso dos encargos da dívida portuguesa, foi Miguel Cadilhe que veio defender “a renegociação honrada da dívida pública", para um prazo "muito mais alargado" e com uma "taxa de juro mais suportável". Não foi, portanto, apenas a oposição a criticar a austeridade e a falta de estratégia para o crescimento e o emprego. Nem foi apenas a oposição a criticar o fundamentalismo e a desorientação do passos-gasparismo, cada vez mais afectado pelas consequências sociais da austeridade. Muitas vozes têm alertado para a cegueira do núcleo duro do governo, inclusive na sua família política.
Hoje, o Chefe do Estado veio defender que Portugal deveria ver reduzidos os juros que paga pelos empréstimos europeus e ter um alargamento do prazo de reembolso, apesar de viver uma situação muito diferente da Grécia, tendo essas declarações sido apoiadas pelo MNE. Como é possível que os nossos contabilistas do passos-gasparismo asfixiem os portugueses e continuem a engolir sapos em Bruxelas e Frankfurt?

Ainda há ‘jobs for the boys’

A edição de hoje do Correio da Manhã informa com grande destaque que as chefias partidárias se têm instalado na máquina do Estado, titulando que “boys de Portas e Passos na Segurança Social”. A notícia não constituirá uma verdadeira surpresa pois todos conhecemos como o poder político sempre instalou na estrutura do Estado os seus amigos - aqueles a quem António Guterres chamou “boys” - e, ao avançar com esta notícia, o jornal terá recorrido certamente a fontes credíveis.
Entretanto, questionado hoje sobre esse assunto, o presidente da Comissão de Recrutamento e Selecção da Administração Pública (CRESAP) garantiu que não é influenciável e que as nomeações de topo na função pública passam apenas pela meritocracia, tendo afirmado que se acabaram os "jobs for the boys". Depois, informou que foram introduzidos critérios objectivos para as nomeações governamentais - liderança, colaboração, motivação, orientação estratégica, orientação para resultados, orientação para o cidadão e serviços de interesse público, gestão da mudança e da inovação, sensibilidade social, experiência profissional, formação académica, formação profissional e aptidão para o cargo.
Devem ambos ter razão – o jornal e o presidente do CRESAP – a revelar que o poder político pode ter boas intenções no sentido de se orientar pela meritocracia, mas que continua a não resistir aos vícios da partidocracia, como denunciou o Correio da Manhã.

A corrupção continua a dominar o mundo

A Transparência Internacional (TI) é uma organização não-governamental que tem como principal objectivo a luta contra a corrupção e que, desde 1995, publica um relatório no qual são analisados os Índices de Percepção da Corrupção dos diferentes países do mundo.
A TI acaba de divulgar o Índice de Percepção da Corrupção relativo ao ano de 2012, no qual Portugal aparece colocado em 33º lugar entre 174 países. Esta classificação tem um valor muito subjectivo, mas é a mais conhecida e mais utilizada medição da corrupção utilizada em estudos académicos. Porém, é natural que nos interroguemos sobre se Portugal é ou não um país corrupto. Quando se está em 33º lugar no ranking da corrupção é mau, porque se está ao nível do Butão e do Porto Rico, mas é menos mau, porque ainda se está acima de muitos países da Europa, como a Itália, a Grécia e a República Checa, entre outros e, além disso, é o país da CPLP melhor colocado no ranking da TI. O facto é que os portugueses acham o país mais corrupto do que aquilo que o ranking do TI mostra, porque as leis não são claras e quase ninguém vai preso, mas também porque há gente que fica rica de repente sem se perceber como.
A falta de autoridade do Estado infiltrado por interesses corporativos e partidários e a ineficiência e morosidade da Justiça, parecem ser as raízes da corrupção. Porém, inacreditavelmente, os portugueses revelam uma enorme indiferença perante a corrupção, pois não querem colocar-se no papel de denunciantes, um estigma que é uma triste memória do nosso passado recente. A corrupção continua a dominar o mundo, mas a Dinamarca, a Finlândia e a Nova Zelândia são os campeões da transparência.