sábado, 10 de maio de 2014

O Gabinete das Maravilhas

Está patente em Lisboa nas instalações do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) uma exposição intitulada “O Gabinete das Maravilhas: atlas e códices dos melhores arquivos e bibliotecas do mundo”, que reúne reproduções de algumas obras-mestras da cartografia portuguesa da época da expansão marítima e alguns dos tesouros bibliográficos mais relevantes do património histórico europeu do período compreendido entre os séculos VIII e XVI. Entre as três dezenas de obras incluídas na exposição, destacam-se especialmente algumas das jóias da cartografia portuguesa e universal: o Atlas Miller de 1519 (Bibliothèque Nationale de France), o Atlas Vallard de 1547 (The Huntington Library, San Marino, EUA), o Atlas Universal de Diogo Homem de 1565 (Biblioteca Nacional da Rússia) e o Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado de 1571, que é o único destes atlas que se conserva em Portugal no ANTT.
A editora M. Moleiro reproduz essas obras como quase-originais, isto é, com total fidelidade e de uma forma onde se torna imperceptível a fronteira entre o original e a sua reprodução e o Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado é a estrela da exposição. Além disso, a exposição apresenta outras reproduções “magníficas” de manuscritos iluminados de grande relevância no panorama do património histórico europeu de entre os séculos VIII e XVI, incluindo códices, livros de horas, livros de medicina e diversos tratados que “nos indicam o caminho para a felicidade”. A exposição foi inaugurada no dia 29 de Abril e poderá ser visitada até ao dia 21 de Junho. Para os profissionais e para os curiosos da História e da História da Cartografia, esta exposição é imperdível.
 

A diplomacia lusa e o gosto pelo turismo

A Presidência da República anunciou que, entre os dias 13 e 18 de Maio, o nosso Presidente vai realizar uma visita de Estado à República Popular da China e à Região Administrativa Especial de Macau, tendo havido uma fonte oficial que classificou essa deslocação como "uma das mais importantes de sempre em todo o seu mandato, pelo alcance político, económico, cultural e académico de que se reveste". De acordo com o comunicado que foi divulgado no site da Presidência, a visita tem um conteúdo político e diplomático, mas também incluirá fortes componentes económica, cultural e académica. É certo que as viagens presidenciais poderão ser uma necessidade da nossa diplomacia, se estiverem integradas numa estratégia nacional (que ninguém conhece), mas há estudos académicos que concluem que estas viagens não produzem resultados satisfatórios.
A comitiva é sumptuosa, como deve ser nos tempos de abundância e euforia por que passamos. Lá vão os assessores e os mais próximos do Presidente, mais alguns governantes, com o irrevogável a fazer mais uma passeata e talvez a inaugurar mais um ginásio. Lá vai mais uma delegação parlamentar e uma comitiva empresarial com mais de uma centena de empresários de áreas tão diversas como a banca, advocacia, farmacêuticas, imobiliário, turismo, vinhos, agro-alimentar, arquitectos, além de representantes de várias associações de jovens empresários. Lá vão os institucionais do costume. Lá vai Cátia Guerreiro, a fadista favorita da família Cavaco Silva e das gentes de Boliqueime, com lugar cativo nestas viagens. E muitos, muitos jornalistas, para que a sumptuosidade desta embaixada tenha o devido registo histórico. 
Depois de 4 séculos em Macau, ainda haverá quem precise de alguém para lhes abrir as portas da China? Claro que não. Toda a gente sabe isso. Por isso, estas grandes comitivas são um insulto aos nossos sacrifícios, uma exibição de novo-riquismo serôdio e um esbanjamento de dinheiros públicos. Como sempre acontece, a comitiva presidencial tem demasiada gente e, com frequência, repete os mesmos protagonistas. É muita gente a fazer turismo à custa dos dinheiros públicos. É tudo “à grande e à francesa” ou é “a mania das grandezas”! Devem precisar de um A380 para levar tanta gente, mas ao menos divulguem a lista nominal da comitiva e revelem quanto vai custar tudo isto que é pago com os nossos impostos. Depois queixam-se de serem apupados...