terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A auto-estima portuguesa em alta – II

Ainda a emoção estava presente por vermos e ouvirmos António Guterres nas Nações Unidas quando, sem surpresa, foi anunciado que Cristiano Ronaldo tinha sido galardoado com a Bola de Ouro 2016, isto é, que tinha sido eleito como o melhor futebolista do mundo em 2016, segundo os critérios da revista francesa France football.
Depois das Bolas de Ouro conquistadas em 2008, 2013 e 2014, o jogador Cristiano Ronaldo apresentou-se à votação dos jornalistas de todo o mundo com credenciais de peso, isto é, com uma vitória na Liga dos Campeões pelo Real Madrid, com o título de Campeão da Europa que conquistou com a selecção portuguesa e, ainda, com 51 golos em 55 jogos disputados. A votação que obteve foi esmagadora e os votos dos jornalistas mundiais traduziram-se em 745 pontos que superaram largamente os 316 e os 198 pontos conquistados pelos seus concorrentes directos, respectivamente o argentino Leonel Messi (Barcelona) e o francês Antoine Griezmann (Atlético de Madrid). A revista francesa que patrocina o troféu, até escolheu na sua última edição uma foto e um título sugestivos: "Sacré Cristiano Ronaldo".
Em termos futebolísticos é curioso anotar que outros dois jogadores portugueses se destacaram este ano na lista dos melhores do mundo do France football, com Pepe (Real Madrid) a ter 8 pontos e a classificar-se no 9º lugar e Rui Patrício (Sporting) a obter 6 pontos e a posicionar-se no 12º lugar. O mundo do futebol português, que continua a beneficiar de um tratamento televisivo desproporcionado e cansativo, deve estar eufórico. A auto-estima lusitana está em alta.  
Porém, não é só em Portugal que o futebol domina e perturba as mentes, pois enquanto Cristiano Ronaldo foi notícia em quase todo o mundo, António Guterres foi ignorado em quase toda a parte. É este o mundo de valores em que vivemos...

A auto-estima portuguesa em alta - I

António Guterres, cidadão português nascido em Lisboa em 1967 e antigo Primeiro-Ministro de Portugal, fez ontem em Nova Iorque o juramento sobre a Carta das Nações Unidas e perante a respectiva Assembleia Geral, tornando-se, oficialmente, o 9º secretário-geral das Nações Unidas, que vai iniciar o seu mandato de cinco anos no dia 1 de Janeiro de 2017.
Com a solenidade própria do momento, disse:
“Eu, António Guterres, declaro solenemente e prometo exercer em total lealdade, discrição e consciência as funções que me são confiadas enquanto servidor público das Nações Unidas, exercer estas funções e pautar a minha conduta apenas tendo em mente os interesses das Nações Unidas, e não procurar ou aceitar, no que respeita às minhas responsabilidades, instruções de qualquer Governo ou outra organização”.
Depois, António Guterres falou e o seu primeiro discurso foi notável, ao defender como uma das prioridades do seu mandato a necessidade de mudar e reformar internamente a organização que vai dirigir. “É chegada a altura de as Nações Unidas reconhecerem as suas insuficiências e alterar o que precisa de ser alterado. Chegou a hora da ONU mudar”. Alertou também para a necessidade de se desanuviar o ambiente internacional e disse que “é altura de trabalhar com os líderes e é tempo de reconstruir a relação entre os cidadãos e os líderes mundiais”.
Contrariamente ao que seria de esperar, poucos jornais destacaram o juramento de António Guterres, a mostrar o descrédito por que passa a ONU e a irrelevância de dez anos de gestão de Ban Ki-moon. O Diário de Notícias foi uma das raras excepções a homenagear o homem de quem o seu amigo Vitor Melícias disse ser "uma espécie de papa Francisco civil". O mundo espera que se cumpram as palavras e se concretizem as intenções com que Guterres concluiu o seu discurso:
"Farei o meu melhor para servir a nossa humanidade". Que a sorte o acompanhe.