Anteontem e ontem
o país assistiu pela televisão a situações de desnorte e de puro populismo
interpretadas pelo Supremo Magistrado da Nação, que me surpreendem e
apoquentam.
A primeira
aconteceu em Sacavém na passada sexta-feira. Na sessão de encerramento da Web
Summit, lá esteve Marcelo Rebelo de Sousa a dar espectáculo como tanto gosta,
ao comportar-se como um bom entertainer.
Convidado para ir ao palco por Paddy Cosgrave, o organizador do evento, entrou
como se fosse um show star, chamando
a atenção do auditório com um aperto de mão despropositado e intimista ao
surpreendido Cosgrave, como se fosse um velho amigo dos tempos do liceu e sem a
dignidade que a sua função presidencial lhe exige, como mostra a fotografia
publicada no Dinheiro Vivo, o suplemento económico do Diário de Notícias. Além disso, decidiu exibir-se perante o auditório,
enunciando as orientações estratégicas que competem em exclusivo ao governo e
cuja fiscalização deve ser feita pela Assembleia da República.
Poucas horas
depois, Marcelo Rebelo de Sousa estava na Trofa para inaugurar o novo edifício
dos Paços do Concelho e, aparentemente, usou essa cerimónia para promover o líder
do partido a que já presidiu que, antes de tempo, ali estava num lugar de
destaque. O seu discurso foi uma invulgar página de populismo, ao dirigir-se à
ministra que estava presente em nome do governo, com a ameaça de estar “muito
atento” à execução dos fundos europeus e não lhe perdoar uma eventual falha,
quando tudo isso está fora das funções presidenciais. Foi um despropósito, um
acto de populismo barato e até uma ofensa. A ministra Ana Abrunhosa, que é uma
prestigiada académica da Universidade de Coimbra, riu-se. Fez bem. Há certos
dichotes que não merecem resposta.
Marcelo Rebelo de
Sousa foi muito infeliz, tanto em Sacavém como na Trofa e, como ele próprio disse,
“há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois
dias felizes por dez dias infelizes”. Estes foram dois dias muito infelizes
para o Supremo Magistrado da Nação.