terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O entendimento entre Londres e Bruxelas

O antigo primeiro-ministro britânico David Cameron, quando pressionado pelo seu próprio Partido Conservador, decidiu realizar um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, que ficou conhecido por Brexit. A realização desse referendo foi aprovada pelo Parlamento Britânico, realizou-se no dia 23 de Junho de 2016 e, contra todas as previsões, deu a vitória ao sim com 51.8% dos votos. Como consequência, o Reino Unido deixou a União Europeia no dia 31 de Janeiro de 2020, depois de um longo e complexo processo de saída, em que intervieram os primeiros-ministros Theresa May (2016-1019) e Boris Johnson (2019-2022). Porém, ficaram alguns assuntos por resolver, designadamente os que se relacionam com a Irlanda do Norte, que é um território que, conjuntamente com a Inglaterra, a Escócia e o País de Gales, formam o Reino Unido. Esse território situa-se na vizinha ilha da Irlanda e tem uma fronteira de cerca de 500 quilómetros com a República da Irlanda, que faz parte da União Europeia.
Acontece que a pandemia do covid 19 e as medidas restritivas que se seguiram ao Brexit provocaram dificuldades diversas, que a recente crise da Ucrânia mais acentuou. Após mais de três anos de oficialização do Brexit, o Reino Unido e a União Europeia chegaram a acordo, ao estabelecerem uma espécie de “via verde” comercial entre a Irlanda do Norte (território do Reino Unido) e a República da Irlanda (membro da União Europeia), que permitirá eliminar o controlo das mercadorias nas suas fronteiras que tem vigorado até agora.
A imprensa inglesa, nomeadamente o jornal The Times, destacou esta notícia e publicou a fotografia dos sorridentes Rishi Sunak e Ursula von der Leyen. No entanto, há quem pense que o Brexit foi um grave erro e que, qualquer dia, o Reino Unido vai regressar à União Europeia e Rishi Sunak disse mesmo que este acordo “inaugura um novo capítulo nas relações do Reino Unido com a União Europeia”, que tão abaladas foram com o Brexit.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

As tensões separatistas no sul da Europa

O conceito de “Europa das pátrias” tem subjacente a ideia de uma confederação de Estados que, embora unidos por diversos interesses comuns, não renunciam aos seus direitos de soberania nacional, nem às suas especificidades culturais, nem à sua história.
Embora defendendo uma Europa forte e unida, o general De Gaulle foi, porventura, um dos grandes defensores da “Europa das Pátrias” ao rejeitar uma integração europeia centralista e dominada pelos interesses instalados em Bruxelas. Porém, os tempos não evoluíram no sentido defendido pelo general francês e hoje é cada vez mais evidente que não há lugar à lógica de “cada país um voto”, pois alguns países constituem um verdadeiro directório para a governação da União Europeia e daí que, muitas vezes, se fale na “ditadura de Bruxelas”.
Porém, numa lógica diversa daquela que hoje domina a Europa, existem muitas tensões separatistas por todo o continente, resultantes de um processo histórico muito complexo que gerou inúmeras culturas, línguas, religiões e mentalidades, isto é, muitas pátrias.
Ontem o jornal Berria, que se publica no município de Andoin, na província basca de Guipuzcoa, escolheu como tema de fundo da sua edição os movimentos separatistas da Catalunha, em relação à Espanha, e da Córsega, em relação a França. Apresentando as suas lutas como se estivessem a ser disputadas numa mesa de ping-pong, o jornal lembra que tanto os movimentos independentistas catalães como a Frente de Libertação Nacional Corsa, são os protagonistas de um processo histórico e identitário que embora pareça estar adormecido, conserva bem viva uma tensão latente.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Novas lanchas no combate ao narcotráfico

O narcotráfico internacional pode ser considerado como uma rede ilegal que faz a ligação entre os países produtores de cocaína e os mercados consumidores, sobretudo nos países ocidentais, sendo um grave problema que afecta as sociedades modernas. As drogas proibidas chegam aos mercados consumidores sob as mais diferentes formas, designadamente por via aérea e por via marítima, pelo que as autoridades nacionais mantêm estruturas policiais de combate à sua entrada. A península Ibérica parece ser a região europeia em que, por razões diversas, o narcotráfico é mais activo, verificando-se a regular apreensão de toneladas de cocaina e outras drogas nas águas territoriais portuguesas e espanholas. Nos últimos meses, as notícias referem a apreensão de várias embarcações rápidas designadas por narcolanchas. Por isso, segundo revela a edição de ontem do jornal La Voz de Galicia, o governo espanhol encomendou aos estaleiros galegos Moaña Aister, a concepção e construção de lanchas rápidas de cerca de 30 toneladas e com um desenho pioneiro e inovador, que poderão navegar à incrível velocidade de 60 nós, ou cerca de 110 quilómetros por hora. Estas lanchas destinam-se à Guardia Civil e poderão ser utilizadas sobretudo na área do estreito de Gibraltar.
La Voz de Galicia anuncia na sua primeira página as “veloces patrulleras hechas en Galicia contra el narcotráfico del Estrecho” e publica uma fotografia dos ensaios no mar de uma dessas lanchas rápidas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

A única opção é entre “la paix ou le caos”

A guerra na Ucrânia já se trava há um ano e essa enorme catástrofe, bem como os seus mortos e as suas destruições são hoje assinalados por toda a imprensa mundial. De entre todos os títulos que hoje são publicados destacamos de forma especial La Marseillaise, um jornal regional francês com sede em Marselha, cuja manchete é esclarecedora como nenhuma outra: la paix ou le caos. Desde há um ano que, explícita ou implicitamente, tem sido essa a nossa posição, pois torna-se evidente que nesta guerra todos sairemos derrotados, sobretudos os ucranianos e os russos, mas também toda a humanidade.
Depois da agressividade dos discursos dos últimos dias, uma Resolução ontem aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas veio exigir a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia e pedir “uma paz abrangente, justa e duradoura”, tendo sido aprovada por 141 votos, com 7 votos contra e 32 abstenções, isto é, mais ou menos o mesmo resultado de outras anteriores resoluções sobre o conflito russo-ucraniano.
Entretanto, também ontem, o secretário-geral das Nações Unidas e o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês vieram lançar veementes apelos à paz. No caso da China, não foi apenas o apelo para o cessar-fogo entre a Ucrânia e Rússia, mas também a defesa do diálogo como única forma de alcançar uma solução viável, tendo feito uma proposta para a paz em doze pontos, cujo aspecto mais saliente é a afirmação da importância de “respeitar a soberania de todos os países de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas”. É um bom princípio, como já foi reconhecido. Porém, a China que afirmou ser neutra no conflito, apelou ao fim da “mentalidade da Guerra Fria” e afirmou que mantém uma relação “sem limites” com a Rússia, recusando-se a criticar a invasão da Ucrânia e acusando o Ocidente de provocar o conflito ao alimentar a guerra através do fornecimento de armas defensivas à Ucrânia.
Não são necessárias mais palavras para além daquelas que La Marseillaise escolheu para a manchete da sua edição de hoje: la paix ou le caos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Brasil: pra tudo se acabar na quarta-feira

Nos últimos dias, a imprensa de diversos países de expressão ibérica destacou os festejos de Carnaval, sobretudo no Brasil, em Portugal e no sul da Espanha, mas também nas ilhas Canárias, no arquipélago de Cabo Verde e na cidade de Luanda, onde foi considerada a maior manifestação cultural do país. Mais longe, no pequeno território de Goa, também os festejos de Carnaval tiveram destaque na imprensa goesa.
Porém, a grande festa do Carnaval acontece no Brasil, que é conhecido como o “país do Carnaval”, em especial na cidade do Rio de Janeiro, onde é o acontecimento da cultura popular mais emocionante que ocorre na cidade, com os seus sumptuosos desfiles das escolas de samba e o entusiasmo do povo. A competição entre as escolas é semelhante à competição entre as equipas de futebol e a rivalidade entre escolas é indescritível, como se verifica nos relatos da imprensa e nas multidões de apoiantes que acorrem ao sambódromo para assistir aos desfiles e apoiar a sua escola, para que seja considerada a melhor ou a campeã.
O jornal carioca O Globo destaca o mérito da escola Beija-Flor, mas neste ano de 2023 a campeã foi a escola Imperatriz Leopoldinense, a vice-campeã foi a escola Unidos do Viradouro, seguidos da Unidos de Vila Isabel, da Beija-Flor de Nilópolis, da Estação Primeira de Mangueira e da Académicos do Grande Rio. Depois, como diz a canção do cantor e compositor Martinho da Vila, o nome artístico de Martinho José Ferreira, “pra tudo se acabar na quarta-feira”.

A grande paixão / Que foi inspiração / Do poeta é o enredo
Que emociona a velha-guarda / Glória a quem trabalha o ano inteiro 
São escultores, são pintores, bordadeiras 
São carpinteiros, vidraceiros, costureiras/Figurinista, desenhista e artesão  
Gente empenhada em construir a ilusão / E que tem sonhos
Como a velha baiana / Sonho de rei, de pirata e jardineira 
Pra tudo se acabar na quarta-feira.

Um ano de guerra na Ucrânia (III)

Desde há muito tempo que o conflito ucraniano já era uma “sfida diretta”, ou um desafio directo entre a Rússia e os Estados Unidos, como hoje destaca o jornal milanês Corrierre della Sera, mas os discursos ontem pronunciados por Vladimir Putin e por Joe Biden apenas vieram confirmar essa realidade, o que mostra como Zelensky, Rishi Sunak, Macron e Scholtz são figuras importantes mas secundárias, ou que a Europa não foi capaz de resolver o problema ucraniano. Nessa perspectiva, tanto Ursula von der Leyen, como Jens Stoltenberg e Josep Borrell pouco valem, enquanto essa fulgurante figura da diplomacia mundial que é João Gomes Cravinho, se vem esforçando por aparecer, embora só diga banalidades e asneiras. Ontem também se destacaram as declarações de Wang Wenbin, o porta-voz do ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, que pediu aos Estados Unidos “para não alimentarem o conflito ucraniano” e acusou-os de estarem “a lucrar imensamente com a guerra”, ao mesmo tempo que lhes recordava a retirada do Afeganistão. Hoje, Putin e Xi Jinping reúnem-se em videoconferência e entre os temas em discussão vai estar “a retórica extremamente agressiva da NATO e dos Estados Unidos”.
Estamos, portanto, num patamar de conflito em acelerado agravamento e cada vez mais perigoso. Desde há muito tempo que algumas vozes diziam que a paz na Ucrânia devia ser negociada entre Moscovo e Washington, mas as declarações ontem proferidas em Moscovo e Varsóvia, tal como o que ontem também foi dito em Pequim, vieram lançar enormes preocupações quanto ao futuro e confirmar que terão que ser Putin e Biden a resolver o problema e acabar com o sofrimento do povo ucraniano e com esta ameaça que paira sobre a Europa e o mundo. Eles conhecem-se há muitos anos e, no seu último encontro presencial que aconteceu em Genebra em Junho de 2021, não ficaram amigos, mas elogiaram-se mutuamente e foram classificados como bons negociadores.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Um ano de guerra na Ucrânia (II)

Apesar dos festejos de Carnaval e das catástrofes que afectaram o Brasil e que voltaram a causar destruições na Turquia nas últimas horas, o acontecimento do dia de ontem foi a visita não anunciada do presidente Joe Biden a Kiev e, por isso, é destacada hoje nas primeiras páginas da imprensa mundial. Ao contrário da generalidade dos políticos europeus que, num exercício de hipocrisia, costumam ir a Kiev para serem vistos nos seus próprios países, a deslocação de Joe Biden é um acto de muita coragem e significa o seu “apoio inabalável” à Ucrânia, como hoje destaca a edição americana do jornal Finantial Times.
Joe Biden salientou que “a guerra pela conquista da Ucrânia lançada por Putin está a falhar” e afirmou que “não nos vamos embora”, enquanto Volodymyr Zelensky agradeceu o apoio americano, afirmou que “esta conversa nos deixa mais próximo da vitória” e disse esperar que “este ano de 2023 seja o ano da vitória”. Todas estas declarações visam um efeito mediático e são destinadas a impressionar ambas as partes e o mundo, porque parece ser cada vez mais evidente que ninguém vai ganhar este conflito e que todos vamos perder. Por outro lado, a imprensa internacional continua a divulgar notícias e opiniões contraditórias sobre o que se passa, mas é lamentável que não se fale de paz. Assim, uns dizem que a visita de Biden foi “a dramatic show of solidarity with Ukraine’s leader” (The Wall Street Journal), outros reclamam “send jets to Ukraine, Truss and Johnson tell PM” (The Daily Telegraph) e outros anunciam que “le monde entier voudrait que tout cela s’arrête” (Le Monde).
Entretanto, mais uma sondagem foi divulgada ontem em Paris pelo jornal Le Figaro, anunciando que “les opinions européennes [sont] divisées sur l’aide militaire”, mas que a Ucrânia beneficia de “boa opinião” ou alta popularidade na Europa, designadamente no Reino Unido (82%), Polónia (79%), Espanha (74%), Países Baixos (71%), França (64%), Itália (62%) e Alemanha (61%), o que mostra que “l’aide militaire crée des clivages profonds dans les populations et d’un pays à l’autre”.
Portanto, nem Biden nem Zelensky atenuaram os seus discursos. Ninguém parece ter vontade de ceder. A paz parece que está longe.  

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Um ano de guerra na Ucrânia (I)

Quando se perfaz um ano sobre o início da invasão russa da Ucrânia a que Vladimir Putin chamou “operação militar especial”, são inúmeras as edições especiais impressas e televisivas dedicadas â passagem de “um ano de guerra”, com análises da situação, operações militares, armamentos em confronto, avanços e recuos, sucessos e insucessos das partes. Há muita destruição, muita propaganda e, lamentavelmente, há poucos apelos para que as armas se calem e se encontre a paz. As narrativas e as opiniões sobre o conflito são as mais diversas, sendo muito interessante analisar algumas sondagens nacionais e, sobretudo, os inquéritos de opinião realizados regularmente em nome da Comissão Europeia. 
Assim, os resultados do inquérito realizado entre 12 de Outubro e 7 de Novembro de 2022 que envolveu entrevistas presenciais a 26.443 cidadãos dos 27 estados-membros e deu origem ao Eurobarómetro de Outono de 2022 do Parlamento Europeu, foi publicado em Janeiro. Relativamente à invasão russa da Ucrânia há uma larga maioria de 74% de cidadãos europeus que aprovam o apoio da União Europeia à Ucrânia, com 33% a aprovar fortemente, 41% a aprovar moderadamente, mas com 16% a desaprovar moderadamente e 17% a desaprovar fortemente.
Apesar de Portugal ser o país da União Europeia situado mais longe da frente de batalha, há 92% de portugueses que concordam com o apoio financeiro, militar e humanitário que a União Europeia tem dado à Ucrânia, o que o coloca como um dos países mais favoráveis a esse apoio, só superado pela Suécia (97%), pela Finlândia (95%) e pelos Países Baixos (93%), enquanto do lado dos menos entusiastas com esse apoio, se encontram a Bulgária e a Grécia (48%), a Eslováquia (49%), o Chipre (53%) e a Hungria (59%). É bem curiosa esta quase unanimidade portuguesa, numa Europa onde nem todos pensam da mesma maneira e onde há posições bem diferentes. Enquanto Mateusz Morawiecki, o primeiro-ministro polaco, diz que o mundo precisa de uma “desputinização”, porque Putin “é mais perigoso que Hitler e Estaline” e que “a Rússia não vai parar em Kiev”, já Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, afirma que a Europa se envolveu indirectamente no conflito ucraniano ao enviar armas, ajudas e dinheiro para Kiev, ao mesmo tempo que acusa a União Europeia e a NATO de serem a favor da guerra e defende que a paz deve ser negociada entre Moscovo e Washington. 
O facto é que não se vislumbra a forma de apagar este incêndio que arrasa a Ucrânia e que ameaça o mundo.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Airbus constrói, lucra e vai na frente

O Grupo Airbus, nome por que é conhecida a Airbus Commercial Aircraft, anunciou esta semana um lucro recorde de 4,2 mil milhões de euros no ano de 2022. É o maior lucro de sempre na sua história e reflecte o dinamismo da procura do transporte aéreo mundial, mas também a boa resposta tecnológica, industrial e comercial da empresa aeronáutica que tem sede em Toulouse e que, no último ano, entregou 661 aviões saídos das suas nove linhas de montagem final, localizadas em Toulouse (França), Hamburgo (Alemanha), Sevilha (Espanha), Tianjin (China), Mobile (Estados Unidos) e Mirabel (Canadá).
A Airbus e a região de Toulouse, vivem um momento de grande euforia e o jornal La Dépêche du Midi que se publica naquela cidade, escreve na sua edição de hoje “quelle semaine folle pour Airbus! Rarement, l’avionneur toulousain n’aura vécu une telle succession de (bonnes) nouvelles”. De facto, na passada semana, foram anunciados os resultados de 2022, mas também foram recebidas novas encomendas, pelo que o respectivo caderno do grupo inclui actualmente 7.239 pedidos de novos aviões, o que representa cerca de dez anos de produção industrial e de emprego! Nunca a Airbus e as empresas que lhe estão associadas, mas também muitos dos seus fornecedores em mais de trinta países, tiveram tão boas perspectivas comerciais. Se à produção de aviões comerciais se juntarem os negócios dos ramos espacial, da defesa e dos helicópteros, o caderno de encomendas do grupo atinge actualmente cerca de 450 mil milhões de euros!
Depois de ter havido muitos construtores aeronáuticos, o mercado evoluiu e tornou-se um duopólio dos gigantes Boeing e Airbus, tendo “obrigado” alguns construtores como a Lockheed e a McDonnell Douglas, entre outros, a retirarem-se do mercado ou a mudarem de ramo de actividade. O sucesso comercial da Airbus é notável e o La Dépêche du Midi diz na sua edição de hoje que a “Airbus reste le maître du ciel”.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Grandes espectáculos mundiais em Lisboa

Hoje vou ao Campo Pequeno porque é dia de assistir, mais uma vez, ao espectáculo musical Cats da autoria de Andrew Lloyd Webber, o genial compositor londrino que, entre muitas outras obras, compôs o Jesus Christ Superstar (1970), o Evita (1976), o Cats (1981) e o Fantasma da Ópera (1986). 
Actualmente com 74 anos de idade, Lloyd Webber é considerado um dos mais importantes ícones da cultura britânica contemporânea pela reinvenção que fez da música. Com a sua obra ganhou inúmeros prémios internacionais e é uma das dezoito personalidades mundiais que já venceram um Oscar, um Emmy, um Grammy e um Tony, isto é, as mais importantes distinções do mundo musical contemporâneo.
O musical Cats estreou-se em Londres, no West End, no ano de 1981 e esteve em cena durante 21 anos. No ano seguinte, aquela produção foi apresentada em Nova Iorque, na Broadway, tendo estado em cartaz durante 18 anos. Ambos os espectáculos bateram recordes de espectadores naquelas duas cidades, mas o sucesso daquele musical inspirado em poemas sobre gatos escritos pelo poeta americano e britânico T. S. Eliot, que foi o prémio Nobel da Literatura em 1948, levou o espectáculo a todo o mundo, através de vários grupos e de traduções em mais de vinte idiomas.
A apresentação do Cats em Lisboa confirma que a oferta cultural da capital portuguesa está mais próxima do que antes da oferta cultural das grandes cidades europeias.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Aí estão as grandes festas do Carnaval!

O Carnaval está à porta e começa a ser objecto de notícia. Trata-se de um festival típico do cristianismo ocidental que ocorre 47 dias antes da Páscoa, que é caracterizado por festas de rua e desfiles populares, em que muitas pessoas usam trajes e máscaras que, por uns dias, lhes alteram a individualidade e lhes permitem alguns excessos comportamentais. Nos tempos modernos, em muitas comunidades, o Carnaval também se tornou um espectáculo turístico, tanto pelo entusiasmo e pelo colorido visual e sonoro da participação popular, como pelas multidões de curiosos que atrai, havendo muitos a reivindicar que o seu Carnaval é o melhor Carnaval do mundo, pois cada festividade carnavalesca adquiriu características próprias, mais ou menos exuberantes. Assim acontece em muitas cidades portuguesas e em todo o Brasil, mas também em outras regiões do mundo, sobretudo as que foram aculturadas pela influência ibérica. Do Rio de Janeiro à ilha Terceira, ou de Goa às ilhas Canárias, o Carnaval é sempre uma grande festa e , em alguns casos, um grande negócio.
Ontem em Santa Cruz de Tenerife, numa gala a que assistiram 4.700 pessoas e que foi transmitida em directo pela televisão estatal espanhola, foi eleita a “nueva Reina del Carnaval y sus cuatro damas de honor”. A escolhida chama-se Adriana Peña Fumero, representou o Centro Comercial Añaza Carrefour e apresentou-se com uma fantasia intitulada “Lisboa”. Nas suas edições de hoje, alguns jornais da ilha de Tenerife, como o Diario de Avisos e outros, esqueceram quaisquer outros acontecimentos regionais, nacionais ou internacionais e, nas suas primeiras páginas, destacaram a “nueva Reina del Carnaval 2023 de Santa Cruz de Tenerife”.
Pois que em Tenerife, mas também no Rio de Janeiro, em Ovar, Loulé ou Torres Vedras, todos se divirtam. Eu limito-me a recomendar os bailinhos da ilha Terceira.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A difícil equação das políticas de saúde

Há dois dias tratamos aqui algumas notícias respeitantes aos graves problemas dos serviços de saúde de alguns países da Europa ocidental. O tema continua a dominar a esfera mediática desses países e hoje, o jornal inglês The Independent, revela “o real custo das greves do NHS”.
Segundo revela o jornal, devido às greves dos servidores do NHS, há milhares de pacientes forçados a engrossar as listas de espera para consultas, tratamentos e cirurgias, como por exemplo a cirurgia do joelho ou do cérebro, o que significa que o NHS está em vias de não cumprir a sua principal missão. Na passada semana, os serviços de saúde britânicos tinham afirmado que estavam em vias de cumprir as suas metas, mas as prolongadas paralisações que se têm verificado, a somar a uma procura sem precedentes dos serviços de urgência, tornaram esse objectivo muito mais improvável de atingir. Acontece que mais de 10.000 pacientes esperarão provavelmente 18 meses ou mais por uma cirurgia, que haverá um cancelamento de cerca de 140.000 consultas durante o período da greve e que, em cada semana de greve, haverá mais 7.000 pessoas a ingressar nas listas de espera. Mais paralisações estão previstas para as próximas semanas e muitos agentes políticos pedem negociações com os sindicatos.
Naturalmente, o SNS português passa por situações semelhantes às que se estão a verificar nos países indicados, parecendo sugerir que o problema tem características estruturais. Os cuidados de saúde são cada vez mais eficientes, mas são muito mais caros do que antes, ao mesmo tempo que a procura não cessa de aumentar. Não é uma situação que se enquadre na chamada lei da oferta e da procura. É uma equação orçamental e social muito difícil de resolver e todos os governos têm dificuldades em encontrar soluções.

Os países ibéricos observados de França

A edição de hoje do diário francês Libération escolheu os países ibéricos como tema de primeira página, publicando as fotografias de António Costa e de Pedro Sánchez e escolhendo como título: Espagne, Portugal. La gauche qui marche.
O jornal fundado em 1973 por Jean-Paul-Sartre nasceu no campo da extrema-esquerda, evoluiu e, actualmente, posiciona-se no espaço político do centro-esquerda. Nesta edição, o jornal destaca que com Sánchez em Madrid e Costa em Lisboa, “os dois governos da península Ibérica progridem e são sustentáveis” e pergunta: De quoi inspirer la gauche française? Numa altura em que a França e alguns países vizinhos, como o Reino Unido e a Itália, têm governos de direita, a esquerda francesa e o seu jornal de referência olham com curiosidade e inveja para o sudoeste do continente europeu, elogiando “estas esquerdas da península Ibérica que mostram o caminho”, como se não houvesse problemas em Portugal e na Espanha.
Em Portugal, onde governa António Costa desde 2015 e agora com maioria absoluta do PS, o jornal diz que “a esquerda está a balançar, mas a manter o rumo”, apesar das demissões no governo, dos protestos sociais, sobretudo dos professores, das perturbações na TAP e da apatia governamental perante a necessidade de reformas.
Na Espanha, onde Pedro Sánchez governa desde 2018 em coligação do seu partido (PSOE) com uma outra coligação de várias esquerdas mais ou menos radicais denominada Unida Podemos, o jornal diz que “é uma esquerda que não conhece o sinistro”, embora se aproximem tempos difíceis com as eleições municipais e regionais a realizar no próximo mês de Maio e as eleições gerais no final do ano.
Significa, portanto, que a visão deslumbrada do Libération em relação aos seus vizinhos do sul talvez não se justifique porque, como diz o povo, só quem está no convento, sabe o que lá vai dentro.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Os graves problemas dos serviços de saúde

A revista italiana L’Espresso que se publica em Roma, destaca na sua última edição os problemas dos serviços de saúde italianos e ilustra a sua capa com muitas pessoas alinhadas numa extensa fila que conduz a uma estreita porta pintada com as cores da Itália, tendo escolhido para manchete a frase “um ano na fila por uma TAC (tomografia axial computorizada). Significa que, conforme salienta a reportagem da revista, as listas de espera são o primeiro problema do sistema de saúde italiano, que está em colapso e que está a obrigar os cidadãos a recorrer à medicina privada, muitas vezes exercida no interior dos próprios hospitais públicos. Segundo a revista, nos hospitais públicos é necessário esperar “dois anos por uma mamografia e “falta tudo, desde bisturis a seringas”.
No Reino Unido a situação não parece ser muito melhor, pois a procura por cuidados de saúde excede largamente a oferta e a crise por que passa o NHS (National Health Service) é um assunto corrente na imprensa britânica. Actualmente existem 133.446 vagas no NHS, o que representa 9.7% da força de trabalho necessária ao sistema.
Entretanto, a edição de hoje do jornal El País salienta com destaque de primeira página que “las marchas por la sanidad pública desbordan Madrid” e que, em protesto, “decenas de miles de manifestantes abarrotaron ayer el centro de Madrid”. Os 250.000 manifestantes confluíram “en una abarrotada Plaza de Cibeles” em protesto contra “el desmantelamiento del sistema sanitario” e “en defensa de la sanidad pública madrileña”.
Aqui em Portugal temos problemas semelhantes aos que se relatam na Itália, no Reino Unido e na Espanha. O SNS de que tanto nos temos orgulhado, está ameaçado. Não é preciso ser especialista em questões de saúde para perceber isso. Basta entrar num hospital público e observar, embora nem todos sejam iguais…

sábado, 11 de fevereiro de 2023

O Brasil retomou o seu lugar no mundo

O presidente Lula da Silva visitou Washington e encontrou-se ontem com o seu homólogo americano Joe Biden, que o recebeu na Casa Branca. Foi um acontecimento muito relevante da política externa brasileira e, desta forma, Lula da Silva iniciou o processo de levar o Brasil para o patamar mais alto da diplomacia e das relações internacionais. Antes, o actual presidente tinha estado seis vezes na Casa Branca, onde foi recebido quatro vezes por George W. Bush e duas vezes por Barack Obama, mas com esta sua sétima visita, o prestígio internacional do Brasil recuperou uma boa parte do tempo perdido com a gestão isolacionista de Jair Bolsonaro.
Acontece que nos últimos tempos, tanto os Estados Unidos como o Brasil têm enfrentado desafios semelhantes ligados à radicalização política e ao discurso do ódio que inunda as redes sociais, pelo que este encontro entre os líderes das duas maiores democracias do hemisfério americano era muito desejado.
Lula da Silva criticou o seu antecessor por ter marginalizado o Brasil durante quatro anos e por ter vivido e governado na base de fake news, enquanto Joe Biden salientou que as democracias dos Estados Unidos e do Brasil foram duramente testadas em Washington e Brasília por extremistas, mas que prevaleceram. Essas declarações mostraram que tanto Donald Trump como Jair Bolsonaro “estiveram na Casa Branca” e que “foram lembradas” as tentativas de assalto ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021 e à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2022.
Segundo foi revelado, nomeadamente pelo jornal O Estado de S. Paulo, os dois presidentes mostraram sintonia na defesa da democracia e nas questões climáticas, bem como nas estratégias de luta contra o extremismo antidemocrático, na preservação do meio ambiente e, de forma especial, na defesa da floresta amazónica.
Luiz Inácio Lula da Silva falou e foi ouvido e, sem qualquer dúvida, o grande Brasil reentrou na alta-roda da comunidade internacional.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Zelensky, a guerra e a incerteza do futuro

A visita de Volodymyr Zelensky a Londres, Paris e Bruxelas foi um êxito político para o presidente da Ucrânia, porque foi recebido com manifestações de grande solidariedade em todas essas capitais, discursou no Parlamento Europeu e participou numa reunião do Conselho Europeu. Em Londres e Paris houve bastante discrição na recepção ao presidente ucraniano, mas em Bruxelas ele foi recebido em apoteose. Porém, apesar da enorme publicidade que teve a fotografia de Zelensky com Charles Michel e Ursula von der Leyen, por exemplo no The Wall Street Journal, foram os encontros com Sunak, Macron e Scholz que foram realmente importantes para o futuro da Ucrânia, pois são eles que podem ou não podem dar o apoio militar que Zelensky vem requerendo ou, por outras palavras, são eles que podem enfrentar a ambição de Putin.
A Rússia não gostou desta visita de Zelensky às capitais europeias, nem do entusiasmo que os seus resultados suscitaram, pelo que tratou de lançar “o mais intenso ataque desde o início da invasão”, dirigido a pontos essenciais da produção e distribuição da energia ucraniana, designadamente contra a cidade de Zaporijia que “foi atingida 17 vezes no espaço de uma hora”.
O actual momento do conflito ucraniano é difícil, complexo e, até, perigoso. Com mais ou menos oscilações, há muito tempo que as linhas da frente não se alteram, que é cada vez mais evidente que nenhuma das partes terá uma vitória militar e que todos vamos perder, a começar pelo martirizado povo ucraniano, sobretudo aqueles que não abandonaram as suas casas. Assim, era necessário saber o que Sunak, Macron e Scholz disseram a Zelensky, bem como o que pensa Biden, para fazermos prognósticos sobre o que possa acontecer nos próximos tempos. Não sabemos. Estamos preocupados.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Uma grande vitória política de Zelensky

Numa viagem surpresa, Volodymyr Zelensky esteve ontem em Londres e Paris e, hoje, estará em Bruxelas. Encontrou-se com Rishi Sunak, com Emmanuel Macron e com Olaf Scholz, isto é, com os mais importantes líderes europeus. Independentemente dos apoios adicionais que conseguiu ou venha a conseguir, tanto em termos militares como em ajuda humanitária, bem como da evolução da guerra no terreno, esta deslocação de Zelensky é um grande acontecimento e uma vitória para a causa ucraniana.
Em Londres, a mensagem principal de Zelensky – give us the wings for freedom – que o jornal The Times e toda a imprensa britânica hoje publicam, representa a pressão feita junto do Reino Unido para que forneça aviões de combate às forças ucranianas, o que pode representar uma escalada na guerra, como ontem também alertou Izumi Nakamitsu, a alta representante da ONU para assuntos de desarmamento.
De seguida, Zelensky foi a Paris, onde tanto Macron como Scholtz o esperavam e afirmaram estar juntos ao lado da Ucrânia e que “a Rússia não pode nem deve vencer”, acrescentando que já existe um plano de paz de dez pontos e que deverão haver conversações que conduzam a uma conferência de paz, isto é, eles fornecem armas mas eles querem a paz.
Depois de figuras secundárias, como Ursula von der Leyen, Jens Stoltenberg e Josep Borrell, terem andado numa roda-viva de exibicionismo belicista, os líderes europeus apareceram e falaram alto para que Putin os ouvisse. Desafiaram-no a parar a invasão, mas ao mesmo tempo anunciaram o envio de armamentos. Nunca os líderes europeus tinham ido tão longe no apoio político e militar à Ucrânia, tendo declarado que é o futuro da Europa que está em jogo.
Volodymyr Zelensky teve uma grande vitória política, pois vai receber armamento pesado e foi reconhecido como antes não acontecera. Porém, ninguém sabe se o que se passa é apenas um instrumento para fazer recuar a Rússia e levá-la a sentar-se à mesa numa conferência de paz, ou se será mais um passo numa perigosa escalada.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Basta guerra. È l’ora della pace

O jornal L’Osservatore Romano, que se publica no Vaticano e que, embora independente, costuma veicular os pontos de vista da Santa Sé, numa das suas mais recentes edições e a propósito da visita do papa Francisco ao Sudão do Sul, um país devastado pela violência e pela miséria, escreveu em manchete:

          Basta guerra
          È l’ora della pace

Essas frases que serviram de manchete ao mencionado jornal inspiraram-se no apelo feito pelo papa Francisco na capital do país visitado, para a deposição das armas e para a reconciliação nacional. Ao escolher aquela manchete, o jornal também pensou na paz desejável para os diversos conflitos que estão a abalar o mundo, sobretudo a guerra na Ucrânia.
Ontem, também António Guterres discursou em Nova Iorque perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas para apresentar as suas prioridades para 2023 e abordou as diversas crises que assolam o mundo, como as guerras e os conflitos, a fome e a pobreza, as alterações climáticas e o desrespeito por minorias, pela diversidade e por direitos civis. Partindo da invasão russa da Ucrânia e das suas “profundas implicações globais”, Guterres alertou para a degradação das perspectivas de paz, considerando que “continuam a diminuir”, enquanto as probabilidades de uma maior escalada e perda de vidas “continuam a aumentar”. As notícias que diariamente nos chegam vão no mesmo sentido, isto é, aumentam os sinais da escalada bélica e o agravamento da luta no terreno, bem como os riscos de uma confrontação mais alargada. "Os deuses devem estar loucos" e há que fazer alguma coisa para parar com a tragédia ucraniana. As condições são difíceis e as partes estão radicalizadas, mas o alívio no sofrimento do povo justifica que sejam dados passos ousados para parar com a guerra e não faltam mediadores, a começar em António Guterres.
Curioso é o facto de tanto Zelensky como Putin terem oferecido ajuda às vítimas do sismo que atingiu a Turquia, a mostrar que há coisas em que ambos estão de acordo... e não serão só estas.

A Turquia, a Síria e as forças da Natureza

Na madrugada de ontem, um terramoto de magnitude 7,8 abalou a Turquia e a Síria, provocando o desabamento de muitas centenas de edifícios em diversas cidades de ambos os países. É uma enorme tragédia para milhares de turcos e de sírios. Segundo é referido pelas agências noticiosas, é um dos maiores sismos registados no mundo desde há muitos anos, embora o balanço do desastre ainda esteja a ser feito. O número de vítimas anunciado pelas autoridades tem vindo a ser actualizado, mas já estão contabilizados mais de cinco mil mortes, vinte milhares de feridos e centenas de milhares de desalojados, tanto nas cidades do sul da Turquia como nas áreas não controladas pelo governo da Síria. Entretanto, “praticamente a cada dez minutos” têm-se sucedido dezenas de réplicas com magnitudes em torno dos 3 e 4 na escala de Richter, o que perturba e dificulta as operações de socorro.
As imagens transmitidas pelas cadeias televisivas mostram a enorme destruição provocada pelo sismo e os esforços feitos pelas equipas de socorro para recuperar sobreviventes soterrados nos escombros. Um jornal diário lisboeta escreveu hoje que "na Turquia é a maior tragédia desde 1939, no noroeste da Síria é pior do que a guerra".
Com a guerra e a sua onda destruidora ali tão perto – antes no Iraque e na Síria e, agora, na Ucrânia – o terramoto da Turquia vem mostrar-nos que os homens se devem poupar à crueldade das guerras, pois que as tragédias naturais se encarregam de lhes trazer o sofrimento e a desumanização da vida. De facto, as guerras podem e devem ser paradas, enquanto “as forças da Natureza nunca ninguém as venceu”, como escreveu António Gedeão no poema “Fala do homem nascido”.
A imprensa internacional, tal como a imprensa turca, destacam a enorme tragédia humana e patrimonial provocada pelo sismo, bem como a solidariedade da comunidade internacional para com os países e as pessoas sinistradas, aqui se publicando a imagem da capa da edição de hoje do Milliyet, um dos maiores jornais diários de Istambul.

sábado, 4 de fevereiro de 2023

O apoio da Comissão Europeia à Ucrânia

Charles Michel, Ursula von der Leyen e quinze comissários europeus visitaram Kiev nos últimos dois dias para reuniões bilaterais e para uma cimeira entre a União Europeia e a Ucrânia. Podiam ter reunido em Bruxelas ou por vídeo conferência, mas escolheram participar numa operação de marketing e em vez de lutarem pela paz, trataram de mandar mais gasolina para a fogueira. Na agenda estiveram a adesão da Ucrânia à União Europeia, o próximo pacote de sanções à Rússia e os apoios financeiros, militares e humanitários à Ucrânia, mas sobretudo a vontade de mostrar à Rússia que a União Europeia está unida no apoio solidário à Ucrânia. Segundo uma notícia recente “Bruxelas já desembolsou 49 mil milhões de euros em menos de um ano e vai continuar a ajudar Kiev”, sem que fossem necessárias estas operações de marketing.
Ursula von der Leyen ultrapassa-se a si própria num protagonismo exagerado e num exercício de poder que o seu cargo não lhe dá, enquanto Volodymyr Zelensky sobe o nível das suas reivindicações, pedindo mais urgência na entrega do armamento prometido e esperando que as negociações de adesão comecem “quanto antes”.
Nesta data há oito países candidatos a juntar-se aos 27 da União Europeia, que são a Albânia, o Montenegro, a Macedónia do Norte, a Sérvia, a Turquia, a Moldávia, a Bósnia-Herzegovina e a Ucrânia, pelo que esta terá certamente que esperar a sua vez, ao mesmo tempo que deverá fazer muitos ajustamentos institucionais e lutar contra a sua elevadíssima corrupção, em que aparece na 116ª posição no Corruption Perceptions Index 2022 elaborado pela Transparency International.
O jornal belga Le Soir destacou em título “soutenir Kiev, à tout prix”, mas o facto é que a cimeira de Kiev não apareceu mencionada nas primeiras páginas da imprensa europeia, a mostrar que a “cimeira” foi uma mera operação de propaganda destinada a impressionar a Rússia e a promover Ursula von der Leyen, que já está a trabalhar para o seu segundo mandato à frente da Comissão Europeia.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

O triste fim de um famoso porta-aviões

O antigo porta-aviões francês Foch, que durante 37 anos foi o navio-almirante da Marinha francesa, vai acabar a sua carreira no fundo do mar ao largo da costa brasileira, segundo informa hoje o jornal Le Télégramme, que se publica em Brest. O navio foi construído na Bretanha por muitos operários e engenheiros bretões, pelo que a sua vida sempre despertou o interesse emocional da população daquela região, como mostra o destaque dado àquela notícia por um diário local.
O porta-aviões Foch (R99) foi construído nos Chantiers de l’Atlantique, em Saint-Nazaire, tendo entrado ao serviço em 1963, mas no ano de 2000 foi vendido ao Brasil por doze milhões de dólares, tomando o nome de São Paulo (A12). A Marinha Brasileira deu-lhe pouco uso por estar obsoleto, enquanto a sua modernização foi rejeitada por ser excessivamente cara. Por essas razões e por ter pouca utilidade operacional, em Fevereiro de 2017 foi decidido desarmar o navio e, pouco tempo depois, foi anunciada a sua aquisição por um estaleiro turco para ser desmantelado e aproveitado como sucata. 
Porém, porque havia a bordo algumas toneladas de amianto com elevado teor tóxico, as autoridades turcas impediram o navio de entrar nas suas águas territoriais e obrigaram-no a regressar ao Brasil. No passado mês de Agosto, um jornal das ilhas Canárias escrevia que “una colossal montaña de material tóxico y radioactivo” navega entre as ilhas de Gran Canaria e Fuerteventura, “sin que conste finalmente cuál será su destino”. Sabe-se agora que o velho porta-aviões, que tem sido rebocado por um rebocador de alto-mar holandês, já estará ao largo das costas brasileiras e que em breve vai ser afundado, apesar dos protestos das organizações ambientalistas, mas o Brasil pretende acabar com uma polémica que, desde há muitos meses, envolve aquele navio. 
É um triste fim para um navio famoso, pelo menos para os franceses e para os bretões.

Os lucros obscenos da Shell e suas irmãs

A multinacional petrolífera Shell PLC, que tem sede em Londres e foi fundada em 1907, anunciou que no exercício de 2022 obteve lucros de 38.455 milhões de euros (42.309 milhões de dólares), isto é, mais 110% do que no ano anterior. Nunca nos seus 115 anos de vida aquela companhia tivera lucros tão altos, como refere a imprensa e hoje destaca o britânico Morning Star!
Este valor compara bem com a Despesa Geral do Estado Português que é da ordem dos 75.000 milhões de euros, isto é, os lucros da Shell podiam financiar seis meses da actividade do Estado Português. Porém, também as irmãs da Shell, nomeadamente a Exxon Mobil, a Chevron, a BP e a Total Energies anunciaram os maiores lucros dos seus historiais que, combinados, atingem 190.000 milhões de dólares. Num tempo em que as alterações climáticas preocupam a Humanidade e em que se apela ao fim dos combustíveis fósseis que estão a destruir o nosso planeta, mas também num ano em que os preços da energia dispararam devido à invasão russa da Ucrânia, as maiores companhias petrolíferas mundiais ultrapassaram todas as previsões e conseguiram os maiores lucros da sua história. Naturalmente, estes lucros têm uma contrapartida que são os milhões de pessoas que caíram na pobreza devido ao aumento exponencial dos preços dos combustíveis e, mais especificamente, a tragédia que atravessa a sociedade ucraniana. Perante a voracidade das multinacionais petrolíferas, diversos países têm procurado que os seus lucros excessivos paguem mais impostos, mas parece que ninguém as consegue travar. Simultaneamente, também a banca anuncia lucros exorbitantes, enquanto se espera que as indústrias do armamento nos venham impressionar com os seus resultados que a guerra da Ucrânia está a engordar.
Assim vai o mundo…

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Ucrânia e as propostas de Lula da Silva

As notícias relativas à invasão russa da Ucrânia continuam a encher os noticiários internacionais, sobretudo a respeito do que se espera possa acontecer na primavera que se aproxima. As duas partes afirmam querer vencer a guerra, mas enquanto uns dizem que a Rússia está a preparar a “escalada máxima”, outros insistem que a Ucrânia está em vias de iniciar a contra-ofensiva. 
Muito acertadamente, a maioria silenciosa acha que ninguém sairá vencedor desta guerra e que todos iremos perder. Depois das discussões relativas ao fornecimento de modernos carros de combate à Ucrânia, em que se viu muita hesitação ou prudência ocidental, os ucranianos pedem agora aviões de combate, o que significaria uma maior escalada da guerra, pelo que mereceu uma imediata resposta negativa dos Estados Unidos e da Alemanha. Porém, apesar de ainda ser ouvida a voz dos belicistas, começam a surgir sinais de que é preciso acabar com a guerra, pois todos estão cansados, a catástrofe humanitária já é demasiado grande e a destruição patrimonial é enorme.
Foi neste quadro que o chanceler Olaf Scholz esteve no Brasil, tornando-se no primeiro líder mundial a visitar o presidente Lula da Silva em Brasília. Na conferência de imprensa conjunta, Lula da Silva defendeu “a criação de um grupo de países que se envolva numa mediação para pôr fim à guerra na Ucrânia” e possa “sentar com os dois lados”. Defendeu a criação de um organismo semelhante ao G20, que foi criado quando da crise económica de 2008, prometendo levar esta ideia a Joe Biden em Fevereiro e a Xi Jinping em Março, nas visitas que brevemente fará aos Estados Unidos e à China. Pode ser que a voz de Lula da Silva seja ouvida.
O que é lamentável é que o jornal Público tivesse escolhido como manchete da sua edição de hoje o belicismo e os aviões F-16, ignorando por completo a proposta de paz do presidente brasileiro.