Bodrum é uma
cidade turca situada nas margens do mar Egeu que nos últimos anos se tornou
numa das mais atraentes estâncias balneares, para onde se dirige a sociedade
turca mais ocidentalizada e mais próspera. Ontem, nas areias de uma das suas
praias mais procuradas apareceu o cadáver de Aylan Kurdi, uma criança síria de três anos de
idade, cuja família fugia da guerra no seu país e procurava atingir a ilha
grega de Kos, numa pequena embarcação que naufragou. A generalidade da imprensa
mundial publicou nas suas primeiras páginas uma fotografia em que um militar
turco recolhe o corpo de Aylan Kurdi. A imagem daquele menino tornou-se o
símbolo da grave crise migratória que já provocou milhares de mortos entre a
multidão de refugiados que foge à guerra e essa fotografia fez tremer a
consciência de uma Europa que se tem mostrado incapaz de promover a paz no
mundo e, em especial, nas suas fonteiras mediterrânicas. É a maior e mais grave
crise de refugiados desde a 2ª Guerra Mundial e o influente jornal The
Washington Post classificou aquela
imagem como "o mais trágico símbolo da crise de refugiados do
Mediterrâneo". No caso da Síria, mas não só, as grandes potências têm
enormes responsabilidades nas tragédias humanitárias que estão a acontecer,
pois foram elas que promoveram a instabilidade regional e que têm alimentado a guerra. Espera-se
agora que, perante o dramatismo do que se viu no areal de Bodrum, a imprensa
influencie, as opiniões públicas reajam e os dirigentes das grandes potências
arrepiem caminho em nome dos ideais humanitários que os deveriam nortear,
quando muitas das más memórias de um passado recente ainda estão vivas. A tragédia
de Bodrum alerta-nos para os nossos deveres morais de apoiar os refugiados e exige que se ponha fim da guerra.
Nesta Europa tão egoísta e a revelar tanta falta de
valores e tão má consciência, há entidades públicas e muitas organizações da nossa sociedade civil a dar
mostras de grande solidariedade e humanidade e, desta forma, a honrar a tradição portuguesa de
acolhimento a refugiados e, também, a memória de Aristides de Sousa Mendes.