Quatro dias
depois da entrada dos Taliban em Cabul, começam a ficar mais claras as
circunstâncias do que se está a passar. Os Estados Unidos estavam cansados da
sua mais longa guerra e os seus cofres pareciam já não aguentar mais a sangria
a que estavam sujeitos desde há quase vinte anos.
Quando em 2017
Donald Trump chegou à Casa Branca, prometeu acabar com os conflitos em que o
país estava envolvido e as negociações relativas ao Afeganistão começaram no
ano seguinte. Dessas negociações resultou o Agreement
for Bringinf Peace to Afghanistan between the Islamic Emirate of Afghanistan
which is not recognized by the United States as a state and is known as the
Taliban and the United States of America […] signed in Doha, Qatar on February 29, 2020. Foi esse o ponto de
partida para a retirada do Afeganistão das tropas americanas e da NATO, que
está em curso.
Por imposição
taliban que os americanos aceitaram, o presidente Ashraf Ghani Ahmadzai e o
governo afegão não tomaram parte nas negociações e não foram parte do acordo de
Doha, mas ficou estabelecido que os Taliban e o governo do Afeganistão teriam
negociações para um cessar-fogo e o fim da guerra civil. A exclusão do governo
afegão dessas negociações foi um grave erro e daí nasceu o actual imbroglio, a
humilhante derrota americana e da NATO, a implosão do governo afegão e,
consequentemente, a vitória dos Taliban. Os Taliban limitaram-se a seguir as
lições de Sun Tzu, o famoso general, estratega e filósofo chinês do século V
a.C. que escreveu em A Arte da Guerra
que, “pelejar e vencer todas as batalhas não é a excelência suprema: a
excelência suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem combater”.
Foi o que os Taliban, tal como os Vietcong, fizeram aos americanos.
Alguns dos
grandes estrategas militares como Mao Tse-Tung, Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap,
reconheceram que o seu sucesso se inspirou exactamente nas lições de Sun Tzu e,
até na recente Guerra do Golfo, é referido que os generais Norman Schwarzkopf e
Colin Powell puseram em prática alguns dos princípios de Sun Tzu. Hoje a revista francesa L'Express não poupa o comportamento dos americanos.