quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A lição de Sun Tzu e a derrota americana

Quatro dias depois da entrada dos Taliban em Cabul, começam a ficar mais claras as circunstâncias do que se está a passar. Os Estados Unidos estavam cansados da sua mais longa guerra e os seus cofres pareciam já não aguentar mais a sangria a que estavam sujeitos desde há quase vinte anos.
Quando em 2017 Donald Trump chegou à Casa Branca, prometeu acabar com os conflitos em que o país estava envolvido e as negociações relativas ao Afeganistão começaram no ano seguinte. Dessas negociações resultou o Agreement for Bringinf Peace to Afghanistan between the Islamic Emirate of Afghanistan which is not recognized by the United States as a state and is known as the Taliban and the United States of America […] signed in Doha, Qatar on February 29, 2020. Foi esse o ponto de partida para a retirada do Afeganistão das tropas americanas e da NATO, que está em curso.
Por imposição taliban que os americanos aceitaram, o presidente Ashraf Ghani Ahmadzai e o governo afegão não tomaram parte nas negociações e não foram parte do acordo de Doha, mas ficou estabelecido que os Taliban e o governo do Afeganistão teriam negociações para um cessar-fogo e o fim da guerra civil. A exclusão do governo afegão dessas negociações foi um grave erro e daí nasceu o actual imbroglio, a humilhante derrota americana e da NATO, a implosão do governo afegão e, consequentemente, a vitória dos Taliban. Os Taliban limitaram-se a seguir as lições de Sun Tzu, o famoso general, estratega e filósofo chinês do século V a.C. que escreveu em A Arte da Guerra que, “pelejar e vencer todas as batalhas não é a excelência suprema: a excelência suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem combater”. Foi o que os Taliban, tal como os Vietcong, fizeram aos americanos.
Alguns dos grandes estrategas militares como Mao Tse-Tung, Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap, reconheceram que o seu sucesso se inspirou exactamente nas lições de Sun Tzu e, até na recente Guerra do Golfo, é referido que os generais Norman Schwarzkopf e Colin Powell puseram em prática alguns dos princípios de Sun Tzu. Hoje a revista francesa L'Express não poupa o comportamento dos americanos.