domingo, 27 de março de 2011

A chata borralheira

O cromo que hoje apresento nasceu de um emocionante conto de fadas.
Eu conto: era uma vez uma menina que vivia numa pequena cidade do Oeste, onde foi rainha das Vindimas. Embora não tivesse acabado o seu curso de Direito, entrou na televisão pública como soldado raso, isto é, como locutora de continuidade. Até adoptou um pseudónimo para vingar, porque o seu verdadeiro nome não lhe servia.
Foi o princípio do sonho. Tinha algum talento. Era sabidona e atrevida. Foi cantora. Fez rádio. Depois entrou na informação. A política e a ambição juntaram-se e foi eleita deputada. Tudo isto numa dúzia de anos!
Com tão promissora ascensão, mudou de estação e tornou-se pivot do diário informativo da TVI, então de formato sensacionalista e que era realizado por gente que fazia da informação uma coisa indigna e degradante. Ela era o rosto desse espectáculo. Dava as “nutícias”. Dava palpites. Humilhava quem queria, sem qualquer pudor. Indecentemente.
Era a concretização de um sonho de fadas, a vingança da menina que vivia numa pequena cidade do Oeste e a quem uma fada protegera com a sua varinha mágica. O poder subiu-lhe à cabeça. Até encontrou um príncipe encantado à porta do estúdio. Julgou-se uma cinderela, mas não passava de uma vulgar chata borralheira!
Até que surgiu alguém que lhe fez frente e em directo. Foi um acontecimento histórico que o youtube ainda regista. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro.
Alguns meses depois, foi posta na rua.

O efeito dominó

Quando um jornal europeu e, neste caso espanhol, chama Portugal à sua primeira página, então é porque o assunto é muito importante para a Espanha, para a Europa e, naturalmente, para Portugal.
Trata-se do problema do défice e da dívida portuguesas que a edição do ABC salienta, devido às crescentes dificuldades para controlar essas variáveis. Desde há muito tempo que um problema português não suscitava tanto interesse na Europa. É que, apesar da economia portuguesa representar apenas cerca de 2% da economia europeia, o problema não é exclusivamente português e tem a ver com a crise europeia. De forma semelhante ao que se dizia em 1975, também Merkel, Sarkozy e Barroso não estão preocupados, agora, com o que se passa junto ao Tejo, mas sobretudo com aquilo que se pode vir a passar junto dos rios deles.
Perante a crise financeira portuguesa, há muitas vozes, interna e internacionalmente, que sugerem que Portugal recorra à ajuda externa para satisfazer os seus compromissos e necessidades de financiamento, através do BCE e do FMI. Assim fizeram a Grécia e a Irlanda. Porém, outras vozes, incluindo a do Primeiro-Ministro demissionário e de outros líderes europeus, consideram que esse caminho representa a entrada num perigoso ciclo, se os países europeus passarem a recorrer à ajuda externa sempre que surgirem dificuldades.
É o chamado efeito dominó em que, um após outro, cada país cairá nas garras do FMI e das suas severas regras. É este efeito que os países do Euro querem travar em defesa da moeda única. Daí o inequívoco apoio que as instituições e os líderes europeus expressaram, para que Portugal seja o primeiro país a resistir e não o terceiro país a cair na armadilha do FMI. Durante as próximas semanas será à volta desta problemática que muito se falará em Portugal.