O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um tratado assinado pelos países lusófonos, cujo objectivo é a criação de uma ortografia unificada para ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa. No caso de Portugal, o Acordo foi aprovado em 1991 pela Assembleia da República, entrou em vigor no dia 13 de Maio de 2009 e, até 2015, decorrerá um período de transição, durante o qual ainda se pode utilizar a actual grafia. Entretanto, o governo decidiu que, a partir de 1 de Janeiro de 2012, todos os serviços, organismos e entidades na sua dependência, bem como o Diário da República, passassem a utilizar as regras do novo Acordo.
A questão do novo Acordo Ortográfico é um tema que tem suscitado muita discussão mas que não me tem interessado, porque não domino os critérios fonéticos e etimológicos subjacentes, mas também porque estou convencido de que não alterarei a minha forma de escrever. A minha língua e a minha escrita maternas fazem parte da minha identidade e não se muda por decreto aquilo que nós somos. Eu posso, ou não, falar inglês ou francês, mas é sobretudo em português que organizo os meus pensamentos, os meus sentimentos e a minha compreensão do mundo. Podem assinar todos os acordos ortográficos, melhores ou piores, mas eu continuarei a escrever afecto, baptismo, colecção, electricidade, projecto ou rectângulo, como sempre fiz. Será o tempo que, eventualmente, me fará adaptar a uma outra ortografia e não os decretos.
A língua portuguesa faz parte da minha identidade mas é, também, um património universal partilhado por muitos milhões de pessoas. Por isso, me entristeço quando vejo a prestigiada editora Larousse a esquecer essa realidade e a ceder aos interesses comerciais, publicando um dicionário français-brésilien/brésilien-français, como se a minha língua já não existisse.