A notícia de La
Voz de Galicia é surpreendente, sobretudo depois da grave crise
financeira de 2008 da qual nem o sistema financeiro nem os contribuintes já se
livraram. Quando mais de cem mil galegos fazem as suas férias com recurso ao
crédito, significa que já estamos num novo paradigma das relações entre
rendimento e consumo ou, então, que ninguém aprendeu as lições do passado
recente. E o que é válido para a Galiza deve ser válido para Portugal, porque os
galegos e os portugueses são demasiado parecidos e tanto os comportamentos
gananciosos da banca como os apetites irresponsáveis de quem a ela recorre para
financiar as suas férias ,são certamente muito parecidos tanto para norte como para sul
do rio Minho.
Não está em causa
a necessidade de fazer férias, de descansar das rotinas laborais e de desfrutar
de um ambiente diferente durante algum tempo para recuperar energias, mas o que
admira é a nova forma de vida que se vem acentuando de fazer férias a crédito, seja para
uma estadia no Algarve, para uma viagem aos Açores, para um cruzeiro no
Mediterrâneo ou, até mesmo, para uma estadia “paradisíaca” nas Sheychelles. O "viaje agora e pague depois" tornou-se uma moda.
As economias
europeias estão cada vez mais alavancadas na poderosa indústria do turismo e as
férias de uns tornaram-se num negócio para muitos outros, como nos anos mais
recentes se vê claramente em Portugal. Nessa lógica, o recurso ao crédito é um
alimento essencial para alimentar essa indústria, embora seja perturbador para
o princípio individual de que as poupanças que cada um faz com sacrifício para
adiar o consumo para melhor oportunidade, se transformam em créditos para quem vai
consumir sem que já tenha poupado. Antigamente ainda havia a compensação dos
juros, mas agora é a banca que tudo engole na sua ganância e irresponsabilidade
social.