Depois
de uma viagem aérea de muitas horas, um amigo muito estimável chegou ontem a
Goa para passar algumas semanas de férias. Sei que o esperam muitas amizades, muitos
antigos alunos, muitas boas memórias e uma meteorologia excepcional que lhe vai
permitir ir às boas praias goesas e usar roupas leves. Sei que vai rever muitos
dos traços arquitectónicos da herança cultural portuguesa, sobretudo em Velha
Goa, mas que também vai reapreciar a paisagem luxuriante dos coqueirais de onde
parecem emergir as torres brancas das igrejas e as várzeas verdejantes de
arrozais a perder de vista. O meu amigo não deixará de visitar as peculiares
feiras de Mapuçá e de Anjuna, apesar de estarem cada vez mais
descaracterizadas, nem deixará de ir ao Mum’s
Kitchen, ao Sher-e-Punjab, ao Coqueiro ou ao La-Goa Azul, entre tantos outros restaurantes de que gosta e onde a
comida goesa tem um gosto singular. Também não perderá a oportunidade de ir até
à Kala Academy, uma obra do arquitecto Charles Corrêa (que também foi o autor
do edifício da Fundação Champalimaud), para ver o mandó e o tiatr, que são
duas das mais interessantes expressões da cultura goesa. Naturalmente, o meu
amigo não faltará às festas que vão ser muitas, nas quais se apresentará com o
rigor e a solenidade das circunstâncias. Muitas vezes vai falar em português,
até porque ele próprio tem dado uma boa ajuda para a sobrevivência da nossa
língua em Goa.
Neste
quadro de interesses e de expectativas, procurei na imprensa de Goa pela
notícia da chegada do meu estimável amigo. Porém, nem o The Navhind Times, nem o Herald
falaram do assunto. Estranhei e fui procurar no The Goan. Nada. O meu amigo chegou incógnito. Na realidade, o JRL
que é um especialista em coisas goesas, sabe quanto vale estar incógnito em Goa,
porque dessa forma pode resistir melhor às inúmeras homenagens que os amigos
lhe gostam de prestar e às respectivas jantaradas que as acompanham. Pois que,
incógnito ou não, passe um bom tempo em Goa!