Ontem foi o dia do regresso televisivo do ex-primeiro ministro Pinto de Sousa e a RTP chamou-lhe “O fim do silêncio”, pois tinham decorrido cerca de dois anos desde que se ausentara do panorama político nacional. Nesse período, houve inúmeros valentões que tudo disseram contra ele, incluindo o nosso corajoso primeiro magistrado da nação. Sem contraditório. Até que foi convidado pela RTP para ser entrevistado. Aceitou, mas logo se levantaram algumas vozes fundamentalistas a condenar a iniciativa da RTP. Também apareceram petições públicas, umas a recusar a sua presença em qualquer programa da RTP (134.023 signatários) e outras a favor da sua presença (7.492 signatários). Era o início de uma estéril polémica. Depois, sucederam-se declarações de diferentes tons, por vezes na fronteira do fanatismo. No dia da entrevista, juntaram-se nas instalações da RTP duas manifestações, uma contra a presença do ex-primeiro-ministro que contou com menos de duas dezenas de pessoas e, uma outra, a favor dessa presença, com um número de manifestantes ligeiramente maior. A primeira levou uma simbólica factura de 78 mil milhões de euros, enquanto a segunda levou ramos de flores.
E veio a entrevista que permitiu a denúncia de uma narrativa que, até agora, circulava sem contraditório. O ex-primeiro ministro, que tem sido o bode expiatório de tudo o que de mal nos está a acontecer, teve a oportunidade de se defender e de esclarecer muita coisa. E esclareceu quase tudo. Com factos e com números. Com muita habilidade. Segundo o Diário de Notícias a entrevista foi um ajuste de contas com Cavaco Silva. Não sei se esta entrevista contribuiu ou não para alterar os pontos de vista dos 1.721.300 espectadores que a ela assistiram, pois "a cada um, a sua verdade". Porém, seguramente que a entrevista incomodou muita gente. Era um desafio difícil, mas Sócrates ultrapassou-o.