sábado, 21 de maio de 2022

Ainda é possível a paz na Ucrânia?

Desde o dia 24 de Fevereiro que, em relação à invasão russa da Ucrânia, temos aqui defendido um cessar-fogo sob a égide das Nações Unidas, que conduza a negociações e à paz. Diversos mediadores juntaram as partes em confronto, trocaram-se prisioneiros e foram abertos corredores humanitários, mas como disse um ministro turco “há alguns países no seio da NATO que querem que a guerra na Ucrânia continue”, porque isso enfraquece e humilha a Rússia, mas também porque alimenta a indústria americana do armamento, nomeadamente a Lockeed Martin, a Raytheon Technologies, a General Dynamics e outros grandes tubarões. Há também quem defenda que a guerra só pode acabar com a derrota da Rússia como responsável pela invasão, mas há outros países que não escondem que se deve evitar humilhar a Rússia, até porque os lobos enfurecidos tendem a morder mais e ninguém pode ignorar as ameaças nucleares russas. Enquanto isto e depois de várias derrotas em Kiev e Kharkiv, a Rússia terá conseguido a sua primeira vitória em Mariupol. Assim, as duas partes já têm algumas vitórias registadas, pelo que poderão estar reunidas as condições para que russos e ucranianos ouçam os mediadores e se sentem à mesa de negociações, sem que se apresentem na condição de derrotados.
Porém, já foram acumuladas tantas provocações, insultos e acusações que, na sua última edição, o Courrier international pergunta se a paz ainda é possível. Sem ser especialista, atrevo-me a dizer que a paz tem que ser possível, porque a alternativa à paz é sempre catastrófica, não só para a Ucrânia e para os ucranianos, mas também para a Europa e até para o mundo.
Entretanto, já há muita gente a quem a dor ucraniana pouco interessa e que recorre à famosa análise SWOT, tratando a guerra como uma oportunidade e procurando posicionar-se para fazer negócios no futuro.

Timor Leste: 20 anos de independência

A República Democrática de Timor-Leste celebrou o 20º aniversário da sua independência e, ao mesmo tempo, empossou José Ramos-Horta como o seu sétimo presidente da República.
Portugal esteve representado neste evento através do presidente da República Portuguesa, que viajou num voo especial da EuroAtlantic Airways e que se fez acompanhar por uma comitiva de 18 pessoas, segundo indicam alguns relatos. As várias estações de televisão portuguesas também acompanharam Marcelo Rebelo de Sousa, pelo que o pudemos ver no cemitério de Santa Cruz e na sua intervenção no Parlamento Nacional, durante a sessão solene comemorativa dos 20 anos da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, mas também em múltiplas situações de grande excitação de cariz populista e entusiasmo desproporcionado, em que abraçou, beijou, dançou e tirou selfies, exactamente como se estivesse em campanha eleitoral em Alcabideche ou em Carrazeda de Ansiães. Porém, o momento porventura mais emocionante desta visita, sobretudo para quem viveu localmente uma parte do processo independentista timorense, foi a merecida condecoração do padre João Felgueiras, um jesuíta natural de Caldas das Taipas, concelho de Guimarães, que dentro de um mês completará 101 anos de idade e que muitos timorenses consideram um símbolo da resistência e da preservação da língua e da cultura portuguesas em Timor, durante os anos da ocupação indonésia.
Lamentavelmente, com a excepção do Diário de Notícias, a imprensa escrita portuguesa ignorou o 20º aniversário da independência de Timor Leste.
A deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa a Timor Leste coincidiu com a visita de António Costa ao Leste europeu e aquele não quis que este tivesse mais protagonismo do que ele e, por isso, tratou de comentar aquilo que um presidente da República não deve comentar. Alguns jornais chamaram-lhe gafes presidenciais. Tendo ambos feito importantes visitas de Estado, não havia necessidade destas guerras de popularidade.