terça-feira, 27 de setembro de 2022

Giorgia Meloni agita a unidade europeia

O partido Fratelli d’Italia e a sua presidente Giorgia Meloni venceram as eleições legislativas italianas com 26,19% dos votos, enquanto os resultados dos partidos seus aliados, ou seja, a Liga do Norte de Matteo Salvini (8,93%) e a Força Italia de Silvio Berlusconi (8,28%), vão permitir que a coligação de direita e extrema-direita tenha a maioria parlamentar e Giorgia Meloni possa formar governo. A notícia do jornal La Stampa diz que será a primeira mulher a governar a Itália, mas a generalidade da imprensa diz que a Itália regressa à extrema-direita, com Meloni a governar na linha de Mussolini. Foi a escolha de 50 milhões de italianos que, desta forma, criticaram a política interna italiana e mostraram o seu desagrado com a política europeia seguida por Bruxelas.
A União Europeia reagiu com alguma surpresa a este resultado, pois a coligação italiana vencedora defende muitas posições que são contrárias à filosofia política comunitária, o que pode significar o início de um retrocesso na construção europeia, em que por vezes têm sido dados “passos maiores que a perna”, quer no seu alargamento com critérios discutíveis, quer nas suas posições relativamente aos grandes blocos, sobretudo porque muitas decisões são tomadas à margem da opinião dos cidadãos.
Se Robert Schuman, o francês que foi o verdadeiro pai da união europeia, regressasse à sua Europa, certamente ficaria estupefacto com a situação. Acabaram as discussões sobre a “Europa das Pátrias” ou a “Europa dos Estados”, mas também os debates sobre as soluções intermédias, entre um federalismo integrador europeu que ignora a existência de nações e culturas diferenciadas e os nacionalismos exacerbados e egoísmos nacionalistas. Bruxelas e a sua burocracia tornaram-se arrogantes e menos democráticos e, escondida num sorriso simpático, a presidente Ursula von der Leyen é hoje o símbolo de algum desnorte. 
A entrada em cena de Giorgia Meloni vai perturbar espíritos e agitar as águas mas, também, vai mostrar que a Europa não pensa toda da mesma maneira, ao contrário do que há dias dizia o eminente ministro Cravinho, quando afirmou que a força da Europa está na sua unidade.