O partido Fratelli d’Italia e a sua presidente Giorgia
Meloni venceram as eleições legislativas italianas com 26,19% dos votos,
enquanto os resultados dos partidos seus aliados, ou seja, a Liga do Norte de Matteo Salvini (8,93%)
e a Força Italia de Silvio Berlusconi
(8,28%), vão permitir que a coligação de direita e extrema-direita tenha a
maioria parlamentar e Giorgia Meloni possa formar governo. A notícia do jornal La Stampa diz que será a primeira
mulher a governar a Itália, mas a generalidade da imprensa diz que a Itália regressa à
extrema-direita, com Meloni a governar na linha de Mussolini. Foi a escolha de
50 milhões de italianos que, desta forma, criticaram a política interna
italiana e mostraram o seu desagrado com a política europeia seguida por
Bruxelas.
A União Europeia
reagiu com alguma surpresa a este resultado, pois a coligação italiana vencedora
defende muitas posições que são contrárias à filosofia política comunitária, o
que pode significar o início de um retrocesso na construção
europeia, em que por vezes têm sido dados “passos maiores que a perna”, quer no
seu alargamento com critérios discutíveis, quer nas suas posições relativamente
aos grandes blocos, sobretudo porque muitas decisões são tomadas à margem da
opinião dos cidadãos.
Se Robert
Schuman, o francês que foi o verdadeiro pai da união europeia, regressasse à
sua Europa, certamente ficaria estupefacto com a situação. Acabaram as
discussões sobre a “Europa das Pátrias” ou a “Europa dos Estados”, mas também
os debates sobre as soluções intermédias, entre um federalismo integrador europeu
que ignora a existência de nações e culturas diferenciadas e os nacionalismos
exacerbados e egoísmos nacionalistas. Bruxelas e a sua burocracia tornaram-se
arrogantes e menos democráticos e, escondida num sorriso simpático, a
presidente Ursula von der Leyen é hoje o símbolo de algum desnorte.
A entrada em
cena de Giorgia Meloni vai perturbar espíritos e agitar as águas mas, também, vai
mostrar que a Europa não pensa toda da mesma maneira, ao contrário do que há
dias dizia o eminente ministro Cravinho, quando afirmou que a força da Europa está
na sua unidade.