As manifestações que ontem se realizaram, um pouco por todo o país, em protesto contra a troika, o governo e as políticas de austeridade, tiveram a sua expressão mais evidente em Lisboa e no Porto e nem é importante saber quantos foram aqueles que nelas participaram.
Em Lisboa desfilaram muitos, muitos milhares de descontentes, de indignados, de desempregados, de reformados, de jovens sem futuro e de gente como eu, que cantou a “Grândola vila morena” e gritou palavras de ordem como “O povo unido jamais será vencido”, a evocar os tempos da conquista da liberdade e da luta contra a tirania. Os manifestantes reclamavam a demissão do governo e reagiam contra as políticas de austeridade e de ataque ao Estado social, de destruição da economia, de empobrecimento generalizado e de insensibilidade social, que estão a ser prosseguidas pelo governo e que ameaçam a coesão social e o futuro.
Embora as manifestações sejam uma prova de força popular e uma forma de expressão democrática e legítima, pouco mais conseguem do que desgastar politicamente o governo e de, eventualmente, levar a algumas alterações na sua orientação política. Porém, enquanto expressões da vontade popular, as manifestações não podem deixar indiferente o homem que elegemos em Janeiro de 2011 para ocupar o Palácio de Belém e que até tem um orçamento de 15 248 380 euros para pensar e para actuar. Por isso, o título do Jornal de Notícias é significativo e é dirigido ao governo, mas também ao homem do leme: oiçam-nos!