As autoridades iraquianas anunciaram a libertação da cidade de
Mossul e os jornais internacionais ilustraram as suas primeiras páginas com as
habituais fotografias dos soldados a agitarem bandeiras e a erguer as suas
armas automáticas, enquanto o povo em delírio vitoriava os libertadores. Foi um martírio que durou três anos que deixou a cidade
totalmente destruida. Quase um milhão de pessoas passou por um enorme sofrimento e tudo perdeu.
Mossul estava em poder do Daesh desde Junho de 2014 e foi nessa cidade que,
no dia 29 de Junho de 2014, o seu líder
Abu Bakr al-Baghdadi proclamou a criação de um califado com o nome de Estado
Islâmico do Iraque e Levante (ISIS em inglês ou Daesh em árabe). A organização já tinha sido criada em 2004 com o objectivo de dominar todos
os muçulmanos do mundo, começando pelo estabelecimento de um califado nas
regiões iraquianas de maioria sunita, pelo que se envolveu nos conflitos do
Iraque e, mais tarde, na guerra civil síria. Classificado internacionalmente
como terrorista, o Daesh visa o domínio espacial e religioso de uma vasta área
que vai desde o sul da Turquia até à orla do Mediterrâneo oriental e do golfo
Pérsico. Na sua acção, usa de grande violência, recruta apoiantes no seio das
populações, faz perseguições religiosas, usa a violência sexual, executa os
adversários com crueldade e destrói o património arqueológico nos locais onde
se instala, como aconteceu em Palmira e noutras cidades históricas.
O Daesh tem beneficiado dos desentendimentos entre as grandes potências, das rivalidades regionais e de alguns apoios de países da região, mas parece que está agora a perder terreno,
sobretudo depois da entrada dos russos na Síria em meados de 2015 e do maior
envolvimento americano no Iraque. Depois da derrota em Alepo, o Daesh teve
outras derrotas no Iraque e na Síria e acaba de perder Mossul que, não sendo a
sua capital, era a mais emblemática das cidades que dominava. A sua capital
está instalada na cidade síria de Racca que também está cercada, mas ninguém
acredita que a derrota militar do Daesh seja o fim da ameaça jihadista, pois muitos
desses fanáticos desorientados hão-de querer voltar à Europa de onde sairam.
Porém, ninguém pode ficar indiferente às imagens da total destruição da cidade e do drama visível da população
de Mossul, porque são demasiado violentas para que não pensemos nas razões
porque tudo isto acontece.