terça-feira, 2 de outubro de 2012

Lusas vaidades e carros de gama alta

No contexto da nossa crise, o que está a acontecer no mercado automóvel é surpreendente e até parece um paradoxo, conforme revelam as Estatísticas de Vendas de Veículos Ligeiros de Passageiros divulgadas pela ACAP.
Entre Janeiro e Setembro do corrente ano verificou-se uma quebra de vendas de 39.7% relativamente ao mesmo período do ano anterior, o que não surpreende pois está em linha com a quebra de rendimento das famílias portuguesas. Porém, enquanto as vendas de quase todas as marcas automóveis estão a sofrer quebras muito acentuadas, as marcas de gama alta estão a ser menos castigadas, acontecendo inclusive que, entre as 34 marcas que venderam automóveis em Portugal no mês de Setembro, há duas que conseguiram aumentar as suas vendas, casos da BMW e da Audi, o que já surpreende.
As marcas mais vendidas em Setembro foram a Volkswagen (607), a Renault (563), a Mercedes (560), a Peugeot (555), a BMW (506), a Audi (471) e a Opel (380), o que significa que entre as sete marcas mais vendidas em Portugal estão cinco marcas alemãs, incluindo os fabricantes de gama alta – Mercedes, BMW e Audi – que, conjuntamente, têm uma quota de mercado de 25%. Note-se, ainda, que em Setembro foi vendido um Ferrari e 27 unidades da Porsche. É realmente surpreendente este resultado das vendas de veículos ligeiros de passageiros em Portugal no que respeita às marcas de gama alta, porque revela que a crise não é para todos e que há por aí muita gente, com muito dinheiro e com muita vaidade.

Entre a injusta legalidade e a imoralidade

O jornal i destaca hoje em primeira página que 17 ex-administradores da Caixa Geral de Depósitos recebem dois milhões de euros em reformas, embora a maioria continue no activo e a servir grandes empresas privadas. Certamente que não beneficiam de qualquer ilegalidade, mas seguramente que beneficiam de muita imoralidade. Trata-se de indivíduos que ocuparam lugares na administração da CGD por fidelidade partidária e não por mérito, independentemente de o terem ou não. Alguns deles não tinham qualquer formação ou experiência bancária. Muitas vezes não se sabe como essa gente chegou a esses posições, nem se procuraram apurar as suas responsabilidades nos descalabros, nas negociatas e nos favorecimentos em que a CGD esteve envolvida.
Mas a imoralidade não está apenas na CGD. Está também na EDP, na PT, na GALP, na CIMPOR, na LUSOPONTE, na MOTA-ENGIL e algumas outras empresas. São ex-ministros e ex-gestores públicos que se movem por aí, sem serem responsabilizados pelo que fizeram ou não fizeram no exercício de funções públicas. São um exemplo do proteccionismo de que beneficiam muitas figuras e alguns figurões da nossa República que, como agora se vê, fazem parte do grupo dirigente que têm conduzido a gestão do Estado e de algumas empresas públicas à melindrosa situação em que hoje se encontram.
Numa altura em que estão a ser cortadas as pensões de milhares de portugueses e já se anunciam novas medidas de austeridade, esta gente não tem vergonha nenhuma e, sem qualquer moralidade, acumula. Com este tipo de exemplos não sairemos desta situação e só aumentará a contestação e a revolta.