quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A festa continua na RTP

Apesar de ser um assunto transversal a todos os governos, a gestão da RTP, os seus vícios, as suas mordomias e os seus números não deixam de nos surpreender.
Sabemos, inclusive através do actual primeiro-ministro, que o Estado gasta 400 milhões de euros com a RTP em indemnizações compensatórias e sabemos, também, que a dívida bancária total da empresa em finais de 2010 era de 717 milhões de euros.
Agora ficamos a saber através do jornal i que, até Julho de 2012, o Estado vai assumir 520 milhões de euros das dívidas da RTP, porque a empresa se viu obrigada contratualmente a antecipar o reembolso que lhe foi exigido por um banco alemão. Deste montante, há 150 milhões de euros já avançados, que correspondem ao custo de aquisição do arquivo da estação!, mas o Estado ainda terá de garantir mais 370 milhões de euros à empresa para pagar dívidas que se vencem até meados de 2012.
Costuma dizer-se que para grandes males, grandes remédios.
Era essa a expectativa que havia há poucos meses quando o sargento Catroga falava a denunciar o despesismo da RTP e a afirmar que havia soluções para tudo através do corte de gorduras. Afinal, não era assim e, recentemente, até foi criada uma comissão de peritos para estudar o assunto.
Entretanto, nós vamos pagando para aquele pequeno BPN, que nos desgraça, como diria a minha avó. Da sobretaxa extraordinária em sede de IRS, a cobrar no próximo subsídio de Natal, cuja receita esperada é de cerca de 840 milhões de euros, já sabemos que mais de metade vai para a RTP.
A festa continua na RTP.

Dinheiros públicos e maus exemplos

A presidência da Assembleia da República é um cargo de grande importância institucional e política desempenhado pela segunda figura do Estado, pelo que o affaire Fernando Nobre foi um fiasco que cobriu de ridículo os seus patrocinadores.
Porém, em sentido inverso, a eleição de uma jovem mulher da transmontana vila de Val-passos foi um acontecimento relevante, consensual e muito justamente aplaudido.
A eleita está na política há mais de vinte anos e, aparentemente, saberá de leis e de regulamentos, mas parece saber pouco de gestão orçamental e, menos ainda, da realidade sociológica em que vivemos.
De facto, a jovem presidente ainda estará deslumbrada com a sua meteórica carreira política, parecendo ignorar que estamos em grandes apertos e que é preciso poupar, reduzir despesas e dar exemplos ao Parlamento e à sociedade.
A atribuição de um BMW com motorista ao deputado Amaral merece a nossa crítica, por revelar um fraco pelos amigos que alguma vez lhe deram a mão. A amizade e a gratidão ficam-lhe bem, mas não podem ser pagas com dinheiros públicos.
Agora, ignorando que o seu gabinete tem um quadro de pessoal com 8 motoristas oficiais, a jovem presidente nomeou o senhor António da Conceição Leitão para o cargo de motorista do seu gabinete, por ser o seu anterior motorista privado e pessoa da sua confiança. É legítimo manter estes luxos privados, mas não podem ser pagos com dinheiros públicos.
São estes tipos de maus exemplos que empurram muita gente para o protesto e para a indignação e, muitos mais, para a descrença.