segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Como está doente a Justiça em Portugal!

A SIC transmitiu no passado dia 8 de Setembro uma entrevista com o juiz Carlos Alexandre, o homem que tem nas mãos alguns dos mais importantes e polémicos processos judiciais que correm em Portugal. Depois do que tem acontecido nesse campo, com medidas de coação desproporcionadas e com constantes violações do segredo de justiça, a entrevista da personagem não me interessou. Não vi.
Porém, na edição de 10 de Setembro do jornal Sol e talvez partindo  daquela entrevista, o Presidente da República veio “aconselhar reserva aos juízes”, isto é, deu um raspanete ao meritíssimo juiz Alexandre. Depois, nos jornais e nos espaços de comentário televisivo, começaram a aparecer as demolidoras opiniões dos comentadores sobre o juiz de Mação.
Consegui aceder à entrevista e fiquei embasbacado com aquilo que vi e ouvi. Foi demasiado mau para o juiz, para as gentes de Mação, para os antigos alunos da Faculdade de Direito, para o Ministério Público, para o Estado e para o respeito que os portugueses ainda têm pela Justiça. A personagem é fraca. Trabalha sem descanso e não tem tempo para ler, nem para escrever, nem para ir ao teatro, a concertos, a exposições ou a museus. Continua agarrado ao pequeno mundo de Mação e confidencia que os seus colegas o conhecem como o "saloio de Mação”. Sem pudor e traindo a sua função de árbitro entre a acusação e a defesa de qualquer processo, ele toma partido. Diz que “não tenho dinheiro ou contas bancárias em nome de amigos” (eventualmente para pagar o seu BMW 520) e isso é, obviamente, um juízo de valor sobre um caso que está a investigar e do qual ainda não foi deduzida acusação. Um juiz deve dar garantias de imparcialidade relativamente aos cidadãos, mas este juiz serviu-se da comunicação social para antecipar um julgamento popular num caso em que ele próprio tem revelado incompetência e parcialidade, parecendo não confiar no julgamento em tribunal. Uma vergonha que merece o repúdio de toda a gente e é uma afronta ao Estado de Direito.
Não se sabe o que o homem quer, mas há que desconfiar. Eu desconfio desta gente humilde, séria e trabalhadora. Eu desconfio de gente tão pequena. Talvez o Conselho Superior da Magistratura, que vai apreciar a entrevista, também desconfie. Como está doente a Justiça em Portugal!

Um ciclista que faz vibrar a Colômbia

Toda a imprensa colombiana destaca hoje a vitória do ciclista Nairo Quintana na Vuelta 2016, dedicando-lhe as suas primeiras páginas e publicando a sua fotografia a seis colunas, ora a pedalar nas montanhas espanholas, ora a exibir o troféu conquistado. É o novo herói nacional da Colômbia! Os títulos escolhidos pela imprensa colombiana são muitos semelhantes: Nairo Rey de España, Orgullo colombiano, Nairo conquistó España, Nairo qué orgullo, Baño de gloria, etc.
Não é habitual tanta uniformidade jornalística em torno de um acontecimento ou de uma figura popular, sobretudo num país muito diverso e multicultural que tem em mãos o complexo processo de desmobilização das FARC, mas talvez seja por isso que o feito desportivo de Quintana está a ser aproveitado para estimular sentimentos de unidade nacional que andaram perdidos durante muitos anos sob o efeito do narcotráfico e da guerrilha. Um país que tem quase cinquenta milhões de habitantes e que, depois do Brasil, é o mais populoso país da América do Sul, precisa de símbolos nacionais inequívocos, como até agora tem sido Gabriel Garcia Márquez, o Prémio Nóbel da Literatura de 1982. Embora num outro plano de notoriedade e de popularidade, o ciclista Nairo Quintana e a sua vitória em Espanha beneficiaram naturalmente de uma excelente cobertura televisiva, que deu a conhecer ao mundo o seu desempenho atlético e a sua inequívoca vitória sobre o britânico Chris Froome. A Colômbia acompanhou e está orgulhosa do seu ciclista.
Depois do fim da guerra com as FARC, o Presidente Juan Manuel dos Santos teve agora um prémio merecido que o ajuda a cimentar a paz e a unidade nacional que persegue e de que a Colômbia precisa.

O independentismo catalão reapareceu

Ontem celebrou-se o Dia Nacional da Catalunha, conhecido por La Diada, em que cinco cidades catalãs – Barcelona, Tarragona, Salt, Lleida e Berga – acolheram manifestações independentistas convocadas pela Assembleia Nacional da Catalunha. Todos os jornais catalães destacaram esse acontecimento e um deles foi o ara, um diário de Barcelona que se publica em catalão. Segundo os dados fornecidos pela Polícia Municipal de cada uma das localidades em que houve concentrações, cerca de 875 mil pessoas participaram nas cinco manifestações independentistas, com Barcelona a acolher 540 mil manifestantes. Entre eles, esteve presente Carles Puigdemont, que se tornou o primeiro presidente do governo da Catalunha a participar naquela manifestação nacionalista e que declarou que espera poder convocar “eleições constituintes” até Setembro de 2017.
O Dia 11 de Setembro ou La Diada, que assinala o dia da derrota dos catalães e da sua definitiva integração na Espanha em 1714, transformou-se nos últimos anos num símbolo do processo de luta  pela independência da Catalunha. Com cerca de 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha possui uma língua e cultura próprias, assim como uma longa tradição industrial e um importante sector turístico. Segundo uma sondagem realizada no passado mês de Julho, metade da população catalã apoia a independência da região.
Porém, o governo de Madrid  tem rejeitado todas as pressões independentistas. No momento actual, em que não há sinais claros para ultrapassar o impasse político espanhol resultante das duas últimas eleições legislativas, a pressão catalã aumenta. Seguramente que o problema da independência da Catalunha, que tem estado adormecido, vai voltar às agendas das autoridades de Barcelona e de Madrid.