O caso
BPN está associado às mais negras nuvens e aos mais tenebrosos abutres que assolaram
Portugal nas últimas décadas, mas muitas vezes parece ter caído no esquecimento
da comunicação social e da opinião pública. É lamentável que assim suceda e não será difícil imaginar
porque assim acontece.
No entanto, a tragédia do BPN é uma vergonha nacional
pelos seus contornos criminosos e de absoluta indignidade, tendo mostrado que os
portugueses não viveram acima das suas possibilidades, mas que quem assim viveu
foram muitos banqueiros, empresários, gestores e políticos ligados ao regime e,
em especial, àquilo a que o portismo e os seus amigos abusivamente chamaram o “arco
da governação”.
A edição
deste fim de semana do semanário Expresso veio lembrar-nos que o caso
BPN existiu, ao anunciar em primeira página que o “Estado só recuperou €540
milhões do BPN”, que correspondem apenas a 12,9% dos 4,2 mil milhões de euros
de créditos em dívida de clientes e accionistas que foram considerados activos tóxicos. Segundo
a Parvalorem, a entidade pública responsável pela recuperação desses créditos, entre
2010 e 2014 foram recuperados 310 milhões de euros em dinheiro e o restante em
valores imóveis. É muito pouco, muitíssimo pouco. É inadmissível. Só pode ser por falta de vontade.
O governo
tinha anunciado em devido tempo que queria recuperar as dívidas do BPN e, nessa
altura, foi divulgado que havia 13 mil créditos em contencioso. Não se
compreende como persiste a impunidade de tanta gente, sobretudo dos
administradores do BPN antes da sua nacionalização e dos seus amigos, que
compraram e venderam acções sem nunca as pagar e beneficiaram de créditos sem
que lhes exigissem garantias.
É caso para perguntar se a Justiça também tem
dois pesos e duas medidas.