quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A mais perigosa fronteira do mundo

A guerra na Caxemira poderá estar de volta. A região situada no extremo noroeste do subcontinente indiano é disputada desde 1947 pela Índia e pelo Paquistão. Para separar os dois países foi estabelecida uma linha de controlo militar ou Line of Control (LoC) que resultou de um acordo assinado em 1949 e que estabeleceu a United Nations Military Observer Group in India and Pakistan (UNMOGIP), que é a mais antiga missão permanente das Nações Unidas no mundo.
A rivalidade entre ambos os países nasceu do desmembramento do Império Britânico ou British Raj em 1947 e com as suas independências, que resultaram da rivalidade entre os muçulmanos de Muhammad Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, e os hindus de Jawaharlal Nehru, líder do Congresso Nacional Indiano. Como a rivalidade religiosa e política são inultrapassáveis, os dois países já tiveram quatro guerras (1947, 1965, 1971 e 1999), além de muitas escaramuças menores nas suas fronteiras. 
Agora parece que o conflito está outra vez de volta com as duas potências, nucleares e bem armadas, a entrar numa perigosa escalada. Segundo foi anunciado, a aviação indiana atacou campos de treino do grupo islâmico Jaish-e-Mohammad (JeM), na Caxemira paquistanesa, tendo provocado muitas baixas, numa acção de retaliação a um ataque que esse grupo fizera recentemente e que matara 42 soldados indianos, o que foi o mais mortífero ataque dos últimos 30 anos. O Paquistão nega o sucesso da operação indiana e já disse que tem direito a uma resposta apropriada. Hoje, as informações são muito contraditórias e ambos os países anunciaram ataques aéreos e o derrube de aviões dos dois lados. As provocações mútuas já trouxeram preocupações internacionais, com os Estados Unidos, a China e a União Européia a pedir calma aos dois lados, até porque ambos possuem mísseis balísticos capazes de transportar armas nucleares.

A instabilidade continua na Venezuela

A operação montada pelos serviços secretos americanos em torno da ajuda humanitária à Venezuela nas fronteiras do Brasil e da Colômbia, chamou a atenção do mundo para a crise venezuelana, mas também mostrou como se encenam situações para fins políticos. Apesar do apoio mediático que teve, nomeadamente através da televisão portuguesa, a operação não atingiu os seus objectivos, porque nem a ajuda humanitária entrou no país, nem os militares desertaram em massa como alguns esperariam.
O regime de Maduro é mau, conduziu a uma grave crise económica e dele já fugiram dois ou três milhões de venezuelanos, mas parece que ainda tem muito apoio interno e que não está tão isolado internacionalmente como parecia. Se há duas venezuelas em termos políticos, seria bom que a imprensa mostrasse não só os que apoiam Guaidó, mas também os que continuam a apoiar Maduro. Além disso, é necessário que sejam os venezuelanos a resolver o problema e que seja estimulado o diálogo entre as partes. Como dizia Guaidó, e bem, é preciso lutar com inteligência e não é isso que têm feito os americanos que lideram a frente anti-Maduro, ao mesmo tempo que apoiam outros ditadores noutras regiões do mundo.
Ontem reuniu o Grupo de Lima e dez dos seus 14 membros, embora tivessem condenado a ditadura de Maduro, rejeitaram o cenário de qualquer intervenção armada externa e reiteraram que a saída para a crise deverá ser pacífica e pela via diplomática. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos levaram às Nações Unidas a sua pretensão para usar a força na Venezuela, mas foram contrariados pela França, Rússia, China, Perú e República Dominicana. A Venezuela reagiu e pediu ao Conselho de Segurança que aprove uma resolução condenando o eventual uso da força por parte dos Estados Unidos e de outros países, porque acredita que alguma coisa está a ser preparada, mesmo sem o apoio do Grupo de Lima e do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O jornal venezuelano Últimas Noticias dá conta do que se está a passar nas Nações Unidas e denuncia a obcecação americana contra a Venezuela de Maduro.