quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Efeitos colaterais da guerra na Ucrânia

As declarações de Emmanuel Macron na “Conférence de Soutien à l’Ukranie” que se realizou em Paris na passada segunda-feira foram muito criticadas e alguns comentadores declararam que o presidente da França foi longe demais.
Depois de dois anos de guerra na Ucrânia e de tanta destruição, parece evidente que é necessário parar e negociar. Não há alternativa. A Europa está farta de ver imagens da brutal tragédia e de ouvir falar de mísseis e de drones, de Leopards e de F16.
Ao sugerir o envolvimento de tropas da NATO na Ucrânia, o presidente Macron mostrou que não conhece o pensamento dos europeus, revelando um perigoso grau de ambição pessoal e de irresponsabilidade. Se isso viesse a acontecer, seria o início de uma guerra de proporções inimagináveis. A derrota da Rússia, que Macron e outros líderes desejam, deve ser procurada à mesa das negociações e não pela via das armas.
A Polónia acompanha com redobrada atenção a situação ucraniana, que é demasiado complexa em vários sentidos, mas a solidariedade europeia também é complexa, como revela a edição de hoje do jornal polaco Gazeta Wyborcza, que se publica em Varsóvia. Enquanto anuncia em primeira página que “a França não descarta a intervenção da NATO na Ucrânia”, o principal destaque da edição é o protesto dos agricultores polacos que bloquearam estradas e passagens fronteiriças, tendo realizado “a maior manifestação de sempre” no centro de Varsóvia, para exigir ser protegidos da concorrência desleal. O protesto polaco é, sobretudo, contra a importação intensiva de cereais ucranianos no espaço comunitário, que a União Europeia isentou de taxas alfandegárias devido à invasão russa.
E aqui está como a Polónia, que historicamente sempre foi ameaçada pela Alemanha e pela Rússia, vê com simpatia a eventual presença da NATO na Ucrânia, mas não vê com bons olhos a solidariedade europeia para com a Ucrânia.

Emmanuel Macron pequenino e tão vulgar

Após dois anos de guerra na Ucrânia e numa altura em que o Papa Francisco pede uma “solução diplomática em busca de uma paz justa e duradoura”, o presidente francês Emmanuel Macron decidiu convidar “os aliados da Ucrânia” para se reunirem em Paris, numa cimeira destinada a garantir a derrota da Rússia. Quando os Estados Unidos parecem cada vez mais afastar-se do conflito ucraniano, o presidente Macron decidiu “pôr-se em bicos de pés”, afirmando que “nous ferons tout ce qu’il faut pour que la Russie ne puisse pas gagnar cette guerre”, tendo anunciado novos fornecimentos de armas ao regime de Kiev e recusado excluir o envio de tropas ocidentais no futuro. 
"Escolheu a escalada", com hoje refere um jornal francês. Esta declaração feita perante duas dezenas de chefes de estado e de governo causou um “choque eléctrico” e deixou Macron isolado, como hoje noticia o jornal Le Figaro e outros jornais franceses. Numa sondagem online que está activa no jornal La Dépêche du Midi, verifica-se que 90% dos franceses criticam esta posição “imprudente” e solitária de Macron, enquanto Joe Biden, Olaf Scholz e vários líderes europeus se demarcaram destas declarações, recusando o envio das suas tropas para o teatro de guerra ucraniano.
Perante as trágicas imagens que diariamente nos chegam da guerra e da catástrofe humanitária que está criada na Ucrânia, o senhor Macron deveria imaginar soluções para poupar o sacrifício dos ucranianos, em vez de “lançar gasolina para a fogueira”, até porque parece ignorar a grave situação que lhe está a bater à porta, de que são exemplo as manifestações dos agricultores europeus em mais de uma dezena de países e em várias cidades como Bruxelas, Varsóvia, Paris ou Madrid.
Em vez de dirigentes excepcionais de que a Europa tanto precisa, vemos Emmanuel Macron a revelar-se como um homem pequenino, vulgar e com um estatuto que até envergonha os franceses.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Jair Bolsonaro nega tentativa de golpe

A cidade brasileira de São Paulo assistiu ontem a uma grande manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que juntou um pico de cerca de 185 mil pessoas na avenida Paulista, segundo foi calculado a partir de 43 fotos aéreas feitas durante a manifestação e que foram tratadas por um software específico utilizado pela Universidade de São Paulo. A manifestação foi convocada para protestar contra as investigações em curso relativas à suspeita de participação do próprio Bolsonaro na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, que negou ter tentado fazer um golpe e reclamou a sua inocência.
Bolsonaro, alguns ex-ministros, assessores e militares são alvo de um inquérito dirigido pelo Supremo Tribunal Federal, que investiga o assalto à Praça dos Três Poderes, os actos de vandalismo praticados e a tentativa de golpe de Estado.
Segundo a edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro declarou que “o que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado, é buscar maneira de nós vivermos em paz”. Pediu a concliação entre os brasileiros e a amnistia “para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília”, dirigindo-se a todos os 513 deputados e 81 senadores para promoverem um projecto nesse sentido.
Esta manifestação e este quase apelo de Bolsonaro à pacificação, estará certamente a ser trabalhada porque, embora suscite dúvidas quanto à sua sinceridade, pode ser uma janela de oportunidade para a construção de uma renovada unidade nacional da sociedade brasileira e para o reforço da democracia.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Dois anos de guerra entre Moscovo e Kiev

Passaram dois anos desde o dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia e, nas suas edições de hoje, muitos jornais europeus evocaram essa data. O diário inglês The Independent é um desses jornais e destaca em primeira página que “se a Ucrânia perder, o Ocidente será o próximo”, acrescentando que em dois anos de guerra pelo menos 10.582 civis ucranianos morreram, 19.875 foram feridos e que se estima que 70.000 soldados ucranianos foram mortos.
Nenhum dos muitos jornais que evocaram o dia 24 de fevereiro de 2022 e a guerra que desde então tem devastado as regiões do Leste da Ucrânia, fala em paz ou nos caminhos da paz, apesar dos sentimentos dos cidadãos europeus revelados no recente estudo do European Council on Foreign Relations. Como principal conclusão, esse estudo revela que 37% dos cidadãos europeus reclamam por negociações de paz, com destaque para os gregos (47%), os espanhóis (44%), os italianos (43%) e, até mesmo, os portugueses (35%).
Apesar desse sentimento nacional a favor da paz, o Supremo Magistrado da Nação veio dizer que “Portugal apoiará a Ucrânia pelo tempo que for preciso” e o ministro cravinho afirmou que “temos que redobrar os esforços de apoio à Ucrânia”. Numa altura de grande inquietação quanto ao nosso futuro, com demasiados problemas internos para serem resolvidos, aqueles dois responsáveis portugueses podiam ter falado da paz por que anseiam tantos europeus, mas não o fizeram. Referiram lugares comuns e a frase “o tempo que for preciso”, já antes repetida muitas vezes, quando se podiam ter aconselhado com António Guterres, que hoje afirmou que "chegou a hora de haver paz". É sabido que nunca é fácil parar com a guerra nem com todas as desgraças humanitárias e patrimoniais que a acompanham e, de forma especial, não é fácil acabar com esta guerra russo-ucraniana, que tem contornos de guerra civil ou de afrontamento entre superpoderes.
É cada vez mais evidente que nesta guerra não haverá vencedores e que todos serão perdedores, pelo que é cada dia mais urgente calar os canhões e atender à vontade dos 37% de europeus e 35% de portugueses que aspiram por negociações de paz.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

R.I.P. Artur Jorge

Com 78 anos de idade faleceu ontem o cidadão Artur Jorge Braga de Melo Teixeira, conhecido no mundo do futebol apenas como Artur Jorge. 
Foi um talentoso futebolista que, como avançado, integrou as equipas do FC Porto, Académica de Coimbra, SL Benfica e CF Os Belenenses, mas também a selecção nacional que representou 16 vezes. A partir de 1980 iniciou uma carreira de treinador de futebol, tornando-se o primeiro treinador português a triunfar na Liga dos Campeões Europeus na época de 1986-1987, quando a equipa do FC Porto bateu a equipa do Bayern de Munique em Viena. Enveredou depois por uma carreira internacional treinando várias equipas em França, Espanha, Holanda, Arábia Saudita, Rússia e foi seleccionador das selecções de Portugal, Suiça e Camarões. Hoje há vários treinadores com sucesso internacional, mas Artur Jorge foi o primeiro.
Era um universitário, um intelectual e um homem de cultura, que deixou obra poética publicada, mas também teve intervenção cívica em defesa dos valores da liberdade e da democracia, pelo que sempre foi uma referência do futebol português, sobretudo porque olhava para o futebol como uma arte e não como o negócio em que se tem transformado.
A imprensa portuguesa, sobretudo a imprensa desportiva, homenagearam-no nas suas edições de hoje, enquanto os jornais franceses L’Équipe, Le Parisien e Le Figaro, também lembraram a sua memória e, nas suas edições de hoje, anunciaram a sua morte nas suas primeiras páginas.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Os novos aviões comerciais chineses

Está a decorrer até ao dia 25 de fevereiro em Singapura, o famoso Singapore Airshow 2024 “onde os melhores da aviação se encontram”, como anuncia a sua promoção. Este evento realiza-se bienalmente desde 2008 e é o maior mercado asiático dos sectores aeronáutico e aeroespacial, onde se encontram a oferta e a procura mundiais, através das grandes empresas e das delegações governamentais e militares de alto nível. Este ano regista-se a participação de mais de mil empresas e são esperados mais de 50.000 participantes comerciais provenientes de mais de 50 países. Para além dos seus aspectos de apresentação tecnológica e de promoção comercial, o airshow foi enriquecido com a participação de equipas de acrobacia aérea da Índia, Indonésia, Austrália, Coreia do Sul e Singapura, bem como de um Airbus A350-1000, que é a maior aeronave bimotora da Europa com 74 metros de comprimento e que pode acomodar até 366 passageiros.
Porém, a China parece estar a assumir o maior protagonismo no Singapore Airshow 2024, pois apresentou dois aviões de passageiros C919 fabricados pela Commercial Aircraft Corporation of China (Comac) e três jactos ARJ21, que se estrearam com demonstrações de voo.
Durante muito tempo a China esteve ausente da competição aeronáutica mundial, dominada pelo duopólio Airbus/Boeing nas aeronaves com mais de 100 assentos mas, apesar da sua forte dependência da tecnologia ocidental, parece agora querer concorrer com aquelas empresas. Segundo revelou o jornal Shanghai Daily, duas empresas chinesas de serviços aéreos – a Tibet Airlines e o Henan Civil Aviaation Development and Investment Group – assinaram contratos para a aquisição de 40 aviões C919 e 16 unidades ARJ21. É um começo, mas só o tempo dirá se a indústria aeronáutica chinesa tem pés para andar num caminho em que estão bem instalados a Airbus e a Boeing.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Ucrânia: europeus querem paz negociada

Doze países europeus, incluindo Portugal, participaram num estudo de opinião sobre o conflito na Ucrânia organizado pelo European Council on Foreign Relations que, desde ontem, está disponível na internet.
A principal conclusão deste estudo que foi apoiado pela Fundação Gulbenkian, refere-se ao que pensam os europeus sobre o desfecho mais provável da guerra entre a Rússia e a Ucrânia em que, em média, apenas 10% acredita que a Ucrânia vai vencer, 20% entende que a Rússia vencerá e 37% deseja que seja negociada a paz. Dos 12 países do universo do estudo, a Polónia e Portugal são os únicos em que a percentagem daqueles que acreditam na vitória da Ucrânia é superior à percentagem daqueles que acreditam na vitória da Rússia. Portugal tem mesmo os valores extremos, isto é, há 17% que acreditam na vitória da Ucrânia e apenas 11 % que acreditam na vitória da Rússia, havendo 35% de portugueses que desejam que seja negociada a paz.
Outra das conclusões do estudo refere-se às opções que na opinião dos europeus deve ser feita em relação à guerra e, em média, há 31% de europeus que entende que a Europa deve apoiar a Ucrânia para reaver os seus territórios ocupados, enquanto 41% defende que a Ucrânia deve ser pressionada para negociar um acordo de paz com a Rússia. Também nesta questão Portugal se distingue com valores extremos, pois 48% dos portugueses acha que a Ucrânia deve ser apoiada para reaver os seus territórios e só 23% acha que a Ucrânia deve ser pressionada para negociar um acordo de paz com a Rússia.
Este estudo está referenciado nas edições de hoje do jornal Público e do jornal catalão La Vanguardia, podendo ser lido na internet. Os europeus estão pesssimistas em relação a uma vitória da Ucrânia e desejam que a paz seja negociada, mas o que mais surpreende é a posição dos portugueses que, como se constata, são muito permeáveis às campanhas da generalidade dos comentadores televisivos que não são independentes. Porém, importa reter que 37% dos europeus e 35% dos portugueses desejam que seja negociada a paz entre a Ucrânia e a Rússia.

O apelo para o fim dos combates em Gaza

Não é costume, mas falou e, numa “impassioned and unprecedented intervention”, William Arthur Philip Louis, o Príncipe de Gales que é o herdeiro do trono do Reino Unido e dos Reinos da Comunidade de Nações, declarou que “morreu muita gente no conflito de Gaza” e que, “como outros, eu quero o fim dos combates”. O jornal Daily Mail, bem como toda a imprensa britânica, publicou com grande destaque as declarações do Príncipe William que aqui saudamos vivamente.
No mesmo dia, no Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela terceira vez, os Estados Unidos vetaram um projecto de resolução apresentado pela Argélia que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, que recebera 13 votos a favor e a abstenção do Reino Unido.
É cada vez mais difícil compreender o apoio americano a Benjamin Netanyahu e ao seu governo que é uma “coligação de direita ultranacionalista”, considerada como “o mais conservador governo da história de Israel”. Depois de mais de quatro meses de conflito, os massacres do Hamas de 7 de outubro e a libertação de reféns parecem, cada vez mais, ser apenas um pretexto dos radicais israelitas para forçar os palestinianos de Gaza a abandonarem o seu território. Essa é a verdadeira intenção israelita e a comunidade internacional, que inicialmente compreendeu a musculada resposta de Israel, começa a ver que se foi longe demais e a acreditar que se está perante um caso de genocídio.
Provavelmente, o apoio dos Estados Unidos a Israel está relacionado com as eleições presidenciais que se aproximam, mas criam um ambiente hostil aos americanos naquela região que é demasiado preocupante para a paz mundial. Entretanto, a União Europeia instalada em Bruxelas continua cega, surda e muda. Incapaz. Irresponsável. Desumana. Sem respeito pelos seus valores fundamentais baseados nos princípios da liberdade, democracia, igualdade e direitos humanos.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Em memória da luta de Alexei Navalny

As autoridades russas anunciaram a morte numa prisão siberiana de Alexei Navalny, um advogado que foi líder da oposição russa e que ganhou notoriedade por organizar protestos contra Vladimir Putin e o seu governo, denunciando a corrupção nas estruturas estatais russas. Tendo sido objecto de uma tentativa de envenamento em 2020, veio a ser tratado na Alemanha e, após a sua recuperação, teve a coragem de regressar à Rússia, onde não ignorava que viria a ser perseguido, preso e sujeito a severas condições prisionais. A sua morte não surpreendeu ninguém, mas foi um duro golpe para aqueles que, no interior ou no exterior, o consideravam o rosto da luta contra Putin e que anseiam pela democratização da Rússia e pelo contributo russo para o apaziguamento internacional. A imprensa europeia tratou a morte de Navalny como um assassinato ordenado por Putin: “Putin must pay for Navalny murder” (The Daily Telegraph), “Navalny, omicidio de Stato” (La Reppublica) ou “Alexei Navalny, tué par Poutine” (Libération). Porém, a imprensa americana é menos objectiva e não faz acusações, limitando-se a anunciar a morte de Navalny, o adversário de Putin: “Top Putin critic Navalny dies in prision (The Wall Street Journal), “A sudden, predictable death for Alexei Navalny” (The Washington Post) ou “Navalny, thorn in Putin’s side, dies in Artic prison” (The New York Times).
Independentemente de se saber se a morte de Navalny foi acidental, promovida pelo regime de Putin ou ordenada pelo próprio Putin, é necessário enquadrá-la na cultura da violência política russa que vem desde Catarina II, a Grande, que em meados do século XVIII terá mandado assassinar o imperador Pedro III, seu marido, para se tornar na poderosa Imperatriz de Todas as Rússias.
Em quaisquer circunstâncias, quem defende a democracia e a liberdade, mas também o fim da guerra na Ucrânia, só tem que se curvar perante a memória de Alexei Navalny.

Arte e modernidade na cidade de Vigo

A cidade galega de Vigo inaugurou o ascensor Halo de Vigo, uma obra que custou 16 milhões de euros e responde a uma necessidade urbana, mas também acrescenta um valor artístico e arquitectónico à cidade. Apesar da região da Galiza estar em tempo de eleições regionais, a imprensa regional destacou a entrada ao serviço deste ascensor e o jornal Faro de Vigo foi um dos jornais que publicou a sua fotografia em primeira página.
Depois de 16 meses de trabalhos de construção e de alguns adiamentos de prazos, a obra foi inaugurada e a população acorreu à experimentação do novo equipamento, que é uma atracção e já é o novo ícone arquitectónico da cidade. Trata-se de um ascensor panorâmico que vai permitir ultrapassar um desnível de 50 metros entre a parte baixa e a parte alta da cidade, evitando “un rodeo de unos dos kilómetros”. O ascensor dispõe de dois elevadores com capacidade para 17 pessoas cada um, que percorrem os 50 metros de desnível em menos de 30 segundos e que ligam a uma passadeira circular que permite que os peões desfrutem da vista da cidade e da ria de Vigo, isto é, permite a mobilidade pedonal, serve de miradouro sobre a ria e irá transformar-se numa nova atracção da cidade. A estética do novo equipamento é ainda valorizada pela sua silhueta nocturna, pois está dotado de um sistema de iluminação que permite mostrar cores diversas e ajustadas a diferentes situações, o que é uma atracção adicional para o Halo de Vigo.
As cidades procuram cada vez mais potenciar os seus factores de atractividade e de modernidade através de edifícios e de equipamentos de valor arquitectónico.

Diogo Ribeiro é o nosso maior campeão!

Depois de ter vencido a prova dos 50 metros mariposa nos 2024 World Aquatics Championships, que se estão a disputar em Doha, no Qatar, o nadador Diogo Ribeiro ganhou ontem a prova de 100 metros mariposa. 
Não se imaginava que a natação portuguesa se distinguisse no plano internacional, mas estes sucessos talvez sejam os mais brilhantes resultados alguma vez alcançados pelo desporto português. Que me desculpem todos os grandes ídolos que estão sentados na galeria dos mais famosos desportistas portugueses, como Carlos Lopes e Rosa Mota, Alves Barbosa e Joaquim Agostinho, Fernamdo Pimenta e Teresa Portela, Eusébio e Cristiano Ronaldo, Fernando Adrião e António Livramento e tantos outros mais, mas Diogo Ribeiro é mesmo um caso singular.
Luís de Camões, o nosso poeta maior, escreveu na estância III do Canto I d’Os Lusíadas os versos seguintes:

Cesse tudo o que a Musa antiga canta / Que outro Valor mais alto se alevanta.

Estes versos aplicam-se, sem grande exagero, ao nadador de Coimbra que se tornou bicampeão mundial de natação e que, de facto, é “um valor mais alto que se alevanta”. Todos podemos gritar: Bravo!!! O jornal A Bola que se distingue por ser a bíblia do futebol e por se esquecer demasiadas vezes das outras modalidades desportivas, destacou na sua edição de hoje o extraordinário sucesso de Diogo Ribeiro e até alterou o layout da sua edição. Viva Diogo Ribeiro, que é o nosso maior campeão!

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Toulouse e a audácia da nova arquitectura

A cidade de Toulouse é a capital da região da Occitânia e é a quarta maior cidade da França, depois de Paris, Marselha e Lyon. Localiza-se no sul da França, próximo da fronteira com a Espanha e, na sua área metropolitana, vivem cerca de um milhão e meio de pessoas.
A cidade é o centro da indústria aeroespacial europeia e a sede do gigante aeronáutico AIRBUS, mas também do sistema de posicionamento Galileo, do sistema de satélite SPOT e de outros importantes centros e indústrias de alta tecnologia. Porém, a cidade não tinha um edifício que, pela dimensão e modernidade, estivesse à altura do seu prestígio e ambição. Na sequência de um concurso lançado pelo município de Toulouse, em 2017 foi escolhido um promotor parisience – a Compagnie de Phalsbourg – para desenvolver um projecto imobiliário no centro da cidade – a Tour Occitanie – que se previa ficasse concluído em 2022 e que iria constituir o primeiro aranha-céus da cidade. Tratava-se de um edifício urbano com 150 metros de altura e 38 pisos, incluindo 13.000 m2 de escritórios, mais de cem unidades habitacionais, dois restaurantes, um bar-restaurante panorâmico no topo da torre, um hotel de quatro estrelas e dois mil m2 de lojas. O projecto foi entregue ao famoso arquitecto Daniel Libeskind, em associação com Francis Cardete, um arquitecto local, mas a “audace architecturale” do projecto teve adversários que o consideraram um “désastre environnemental”. Daí que tivessem surgido dois recursos judiciais sucessivos para impedir a construção da Tour Occitanie.
Os tribunais declararam agora que Toulouse vai ter o seu aranha-céus e, na sua edição de ontem, o jornal La Dépêche du Midi dava essa notícia com grande destaque, com uma antevisão do que será a Tour Occitanie e a sua audaciosa arquitectura.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Bruxelas não toma medidas contra Israel

Desde há mais de quatro meses que as Israel Defence Forces (IDF) têm massacrado o povo palestiniano na Faixa de Gaza com destruidores bombardeamentos, a pretexto de perseguirem os radicais do Movimento de Resistência Palestiniana, conhecido pelo acrónimo Hamas. O mundo tem condenado a brutalidade israelita e o Tribunal de Haia decretou que o governo de Benjamin Netanyahu tem de tomar medidas para “prevenir o genocídio”. São referidos cerca de 30 mil mortos palestinianos e as imagens da destruição falam por si. António Guterres tem sido a voz que, tendo condenado o Hamas, tem considerado a “inaceitável” violência israelita em Gaza.
Nos últimos tempos, depois de muitos silêncios mais ou menos cúmplices, alguns líderes mundiais têm condenado Israel, com Joe Biden a considerar que a sua resposta em Gaza “tem sido excessiva”. Também o ministro britânico David Cameron tem insistido com Israel para “interromper o ataque a Rafah” onde cerca de 1,5 milhões de palestinianos estão cercados, enquanto Emmanuel Macron exprimiu “a firme oposição da França à ofensiva israelita em Rafah”. Como diria um conhecido grupo humorista português “há aí palhaços que falam, falam, falam e não os vejo a fazer nada”.
Hoje, o jornal El País informa que a “Espanha reclama que Bruxelas adopte medidas contra Israel” e esta posição espanhola distingue-se como um acto de coragem, quando comparado com a generalizada hipocrisia daqueles que se limitam a condenar Israel, mas continuam a fornecer-lhe tudo o que precisa e nada fazem para travar Netanyahu. A União Europeia deveria fazer ouvir a sua voz na condenação de Israel e tomar medidas concretas, como reclama a Espanha, mas isso ainda não foi feito, enquanto ainda é recordada a inacreditável visita de solidariedade e apoio que Ursula von der Leyen e Roberta Metsola fizeram a Israel em outubro de 2023, onde invocaram o “direito de Israel a defender-se” e, naturalmente, apoiaram a vingança de Netanyahu. 
Bruxelas  cala-se e, naturalmente, quem cala consente... 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Chegou ao fim "a doce ilusão do Carnaval"

Ontem foi a terça-feira de Carnaval e hoje, que é quarta-feira, todos os que se divertiram estão perante “a doce ilusão do Carnaval”, como rezam algumas canções brasileiras. Todos os nossos canais televisivos dedicaram extensos espaços às festividades e mostraram a maior ou menor extravagância dos desfiles carnavalescos. Próximo da fronteira portuguesa, o Carnaval de Badajoz atraiu milhares de pessoas para assistirem a um desfile que durou dez horas e em que participaram 10 mil pessoas, integradas em 54 comparsas ou grupos carnavalescos, 35 carros alegóricos e 16 grupos menores.
Um júri escolheu a comparsa Caribe como vencedora do primeiro prémio do Gran Desfile 2024, que assim obteve a sua terceira vitória em 18 anos, tendo-se apresentado com trajes de criação própria que custaram mais de 200 euros cada um.
Porém, na sua edição de hoje, o jornal La Crónica de Badajoz destaca que a cidade “transbordou” de Carnaval, mas ilustrou a sua primeira página com a fotografia da principal figura da comparsa Caretos Salvavidas que, com 220 elementos, incluindo 115 bailarinos e 73 músicos, foi uma das mais numerosas que se apresentaram. Certamente, muitos portugueses atravessaram a fronteira para assistir aos desfiles de Carnaval em Badajoz, mas estando anunciado pelo jornal Linhas de Elvas, a apresentação de grupos de mascarados e de trapalhões nas ruas do Alandroal, Arronches, Campo Maior, Elvas e Fronteira, ficamos sem saber quais foram as escolhas dos entusiastas carnavalescos daquela região alentejana.

A comunicação social como arma política

O jornal New York Post, um tablóide conservador americano que é o nono jornal de maior circulação nos Estados Unidos, é também o mais antigo jornal do país, pois foi fundado em 1801. Nos últimos tempos, o jornal tem-se destacado por tomar parte na campanha para as eleições presidenciais, por promover notícias e comentários contra o presidente e candidato Joe Biden. Há poucos dias chamava-lhe “velho” e, na sua edição de hoje, de forma depreciativa, chama-lhe “a marca”. Diz o jornal que Tony Bobulinski, um parceiro de negócios da família Biden, testemunhou no inquérito que está em curso visando Joe Biden, que foram feitos negócios em que “o vice-presidente Joe Biden era a marca que o filho Hunter e o irmão James estavam a vender por todo o mundo”, o que o jornal ilustra com uma embalagem de detergente da “marca Biden”.
Esta notícia é uma curiosidade em dois sentidos. Por um lado mostra como há quem se aproveite das suas ligações pessoais ou políticas para abrir portas e fazer negócios e, por outro, mostra como a imprensa escrita, ou televisiva, aproveita estes casos para difamar um qualquer cidadão com objectivos políticos, antes de ser provada a sua culpabilidade. Neste caso, uma declaração de um tal Bobulinshi serviu para “queimar Biden” perante os leitores do New York Post.
Por cá temos ambas as coisas como mostram dois casos recentes, isto é, temos gente que se aproveita do nome do pai para meter cunhas ou fazer negócios, mas também temos canais televisivos e jornalistas que se prestam a entrevistar ex-gestores da TAP, fora de tempo e com evidentes objectivos político-partidários.
A lição é simples: não há informação independente e temos que duvidar cada vez mais daquilo que dizem as televisões, os jornais e a internet.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Os estrangeiros e a identidade nacional

O jornal La Vanguardia que se publica em Barcelona, destaca na sua edição de hoje que em 40 anos, a Catalunha passou de 2% para 21% de população estrangeira. As autoridades catalãs anunciaram em 1987 que tinha sido ultrapassada a barreira dos 6 milhões de habitantes mas, 36 anos depois, registam-se 8 milhões de habitantes. Uma vez que o crescimento demográfico natural da Catalunha é negativo, isto é, há mais mortes que nascimentos, o principal motor desta tendência está na imigração. De acordo com os dados oficiais, só no último ano a Catalunha acrescentou mais 140.000 habitantes à sua população e passou a ser a comunidade espanhola que mais cresce, com a circunstância de 40% dos seus habitantes entre os 25 e os 40 anos ter nascido no estrangeiro.
O problema não é apenas catalão, pois acontece um pouco por toda a Europa e é muito complexo, pois tem a ver com inúmeras variáveis, como a preservação das identidades nacionais, as necessidades de mão-de-obra, o desenvolvimento das economias, a solidariedade e os direitos humanos, a segurança nacional, entre muitas outras.
Segundo os mais recentes dados estatísticos, Portugal também tem um problema semelhante ao da Catalunha. No ano de 2023 viviam em Portugal 798.480 cidadãos estrangeiros em situação legal, ou em regularização pelos serviços oficiais, correspondentes a 7,6% da população portuguesa e eram, sobretudo, brasileiros (29%), britânicos (6%), cabo-verdianos (5%), italianos (4,4%), indianos (4,3%) e romenos (4,1%). De acordo com a Pordata, o número de estrangeiros em Portugal duplicou em dez anos, tendo a nacionalidade portuguesa sido atribuída a cerca de meio milhão de pessoas, sobretudo oriundas dos países lusófonos, embora um em cada três deles viva em risco de pobreza.
Ocorre-me citar, sem quaisquer comentários, um excerto da estância 189 da Miscellania de Garcia de Rezende, publicada em Évora em 1554:
       Vemos no reyno metter / tantos captivos crescer / & iremse hos naturaes / 
       que se assi for, seram mais / elles que nos, a meu ver.
Porém, Garcia de Rezende não está cá para alertar sobre este problema.

Diogo Ribeiro é nome de gente famosa

Diogo Ribeiro foi um famoso cartógrafo português que em 1518 foi trabalhar para o rei Carlos I de Espanha na Casa de Contratación em Sevilha. Foi ele que desenhou os mapas utilizados por Fernão de Magalhães na sua viagem às Molucas por ocidente, que se tornou na primeira viagem de circumnavegação. Embora se tivesse naturalizado espanhol e passasse a ser conhecido como Diego Ribero, o seu nome português não se perdeu. Mais de 500 anos depois, o nome de Diogo Ribeiro volta a subir ao patamar dos famosos, através de um nadador de 19 anos de idade que nasceu em Coimbra e que se tornou o primeiro português campeão do mundo de natação, ao vencer a prova dos 50 metros mariposa nos 2024 World Aquatics Championships, que se está a disputar em Doha, no Qatar.
A natação é uma modalidade desportiva muito exigente e não tem tradição em Portugal, pelo que a proeza individual de Diogo Matos Ribeiro é realmente notável, no que tem de talento, trabalho e determinação. Ninguém imaginava que isso pudesse acontecer. No panorama desportivo nacional é difícil encontrar paralelo com este êxito de Diogo Ribeiro e, talvez, só Fernando Pimenta (canoagem) e Rui Costa (ciclismo), tenham conseguido ser "campeões do mundo". Não me ocorrem outros exemplos, mas esta circunstância não desvaloriza os nossos campeões olímpicos, nem os nossos desportistas de valor internacional que se têm distinguido em outras modalidades colectivas ou individuais.
O sucesso deste "campeão do mundo" foi tão importante que foi destacado pela imprensa portuguesa, tendo o jornal A Bola quase esquecido o futebol na sua edição de hoje e dedicado a sua primeira página ao Menino de Ouro. 
O meu aplauso a este jovem nadador que deu uma grande alegria aos desportistas portugueses!

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Carnaval: a fantasia, o excesso e a euforia

O Carnaval aí está e as televisões enchem-nos com as imagens dos festejos e dos desfiles, da euforia e do excesso, do deslumbramento e da extravagância.
O Carnaval é, sobretudo, um festival típico do cristianismo ocidental que ocorre 47 dias antes da Páscoa, com características diferenciadas em cada região, mas que representa sempre um desvio do quotidiano social e da realidade, com as pessoas a usarem máscaras e trajes de fantasia para se apresentarem com uma identidade diferente e entrarem no reino da utopia, “pra tudo se acabar na quarta-feira”, como escreveram Chico Buarque e Edu Lobo. As festas e os desfiles do moderno Carnaval tornaram-se um acontecimento turístico e embora não tenham perdido as suas características de festa popular, são o ex-libris de cidades tão diferentes como o Rio de Janeiro, Barranquilla e Santa Cruz de Tenerife, ou Veneza e Nice, ou ainda Nova Orleans e Toronto. Porém, o Carnaval do Rio de Janeiro é reconhecido pelo Guiness World Records como o maior do mundo, no qual participam diariamente cerca de dois milhões de pessoas. Na sua escala, o Carnaval também se festeja em Portugal um pouco por todo o país, tendo-se tornado um cartaz turístico em muitas localidades como Ovar e Torres Vedras, Sesimbra e Loulé, Nazaré e Mealhada, entre outras.
Apesar de não ser apreciador do Carnaval nem dos seus excessos, gosto sempre de destacar o Carnaval da ilha Terceira, com os seus bailinhos, que são uma expressão única e excepcional da cultura popular açoriana. Numa outra perspectiva, também se destaca a exuberância do Carnaval nas ilhas Canárias, onde o jornal La Provincia, um diário de Las Palmas, na sua edição de ontem destacava a jovem Katia Gutiérrez, uma carnavalera de 26 anos de idade, que foi eleita como a Reina del Carnaval de Las Palmas de Gran Canaria, mas que também foi “corazonada la Reina de los Carnavales del Mundo”. 
Pois que os carnavaleros de todo o mundo se divirtam!

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Um naufrágio em que não houve vítimas

O jornal El Diario Vasco que se publica na cidade de Donostia-San Sebastián, destaca na sua edição de hoje o afundamento do pesqueiro Maria Reina Madre, publicando uma sugestiva fotografia de primeira página a seis colunas. O pesqueiro hasteava bandeira francesa e tinha a sua base no porto galego de Burela, um dos mais importantes portos de pesca da costa cantábrica, tendo largado na madrugada de quinta-feira, com 14 homens a bordo, em direcção ao porto de Pasages, nas vizinhanças San Sebastián, onde seria submetido a uma revisão técnica periódica de rotina, antes de seguir para águas francesas onde se dedicaria à pesca da pescada. 
Cerca de 24 horas depois, na manhã de sexta-feira, o pesqueiro navegava a norte da costa guipuzcoana a cerca de nove milhas do porto de S. Sebastián, quando a maioria da tripulação ainda dormia. Nessa altura foi detectada a entrada abundante de água a bordo e, como referiu um dos tripulantes, “nos despertaron con el agua en el camarote”. De imediato foi emitido um pedido de socorro que foi recebido às 08.57 horas no Centro de Coordenação e Salvamento Marítimo de Bilbau, que mobilizou o salva-vidas Órion e um helicóptero Helimer 21, alertando também a navegação naquela área como é a prática de solidariedade entre as gentes do mar. Às 09.12 horas o mestre do pesqueiro decidiu que 13 dos tripulantes abandonassem o pesqueiro e embarcassem numa balsa salva-vidas. 
O salva-vidas Órion chegou às 09.35 horas, recolheu os homens que estavam na balsa e, depois, resgatou o mestre do pesqueiro que, corajosamente, não abandonara o seu navio. Todos os 14 homens do pesqueiro seguiram depois, sãos e salvos, para o porto de Pasages. Foi tudo muito rápido e a prontidão dos serviços espanhóis de salvamento marítimo foi exemplar. A edição de hoje do jornal El Diario Vasco divulgou esta boa notícia, ao publicar a fotografia do afundamento do Maria Reina Madre que ocorreu pelas 14.31 horas.

O próximo presidente dos Estados Unidos

A questão da avançada idade dos candidatos à presidência dos Estados Unidos é um assunto debatido desde há muito tempo, mas nos últimos dias tomou novas proporções. Os dois mais prováveis candidatos às eleições de 5 de novembro de 2024 são Joe Biden pelo Partido Democrata e Donald Trump pelo Partido Republicano que, nessa altura, terão 82 e 78 anos de idade, respectivamente. Ambos procuram contornar a questão da sua avançada idade e ambos evitam referir-se a essa situação desfavorável, pois a diferença de idades entre ambos é apenas de três anos e cinco meses. Aparentemente, ambos os prováveis candidatos estão “fora de prazo”, pelo que os seus partidos e o eleitorado americano estão muito preocupados com esse cenário presidencial e essa preocupação tem sido veiculada pela imprensa americana.
Na sua edição de ontem, o jornal New York Post classificava Joe Biden como um “homem idoso com memória fraca”, acusando-o de ser “demasiado senil para governar”. São cada vez mais frequentes as notícias sobre as suas capacidades mentais, a sua desgastada memória e os seus problemas cognitivos, que têm constituído argumentos poderosos para Donald Trump e para os seus apoiantes. Porém, a candidata Nikki Haley, que concorre com Trump pela nomeação pelo Partido Republicano, também tem usado a idade de Trump como argumento a favor da sua candidatura.
Assim, tanto os Estados Unidos como o mundo, olham com grande apreensão para o próximo inquilino da Casa Branca. Ambos têm a experiência de lá já terem vivido, mas ambos se encontram limitados pela idade, o que vai introduzir ainda mais incerteza no panorama internacional, num tempo de grande e crescente complexidade.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Jair Bolsonaro está a contas com a Justiça

Muitos recordam os acontecimentos ocorridos em Brasília no passado dia 8 de janeiro de 2023, quando milhares de pessoas invadiram e vandalizaram os edifícios monumentais que representam os três poderes da República Federativa do Brasil, respectivamente o Palácio do Planalto (poder executivo), o Congresso Nacional (poder legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (poder judicial). Foi um ataque efectuado por uma multidão de bolsonaristas, a fazer lembrar Washington e o assalto dos fanáticos de Donald Trump ao Capitólio, com a mesma contestação aos resultados eleitoriais e o mesmo tipo de rejeição da democracia.
Jair Bolsonaro estava ausente nos Estados Unidos, mas todos acreditaram que era ele que, de facto, estava a dirigir os graves acontecimentos que então ocorreram em Brasília e que configuravam a prática de um golpe de estado. Por isso, a Polícia Federal tem prosseguido, desde então, as suas investigações para apuramento de responsabilidades na organização criminosa de um golpe de estado. Segundo foi já revelado pela investigação e foi divulgado pela imprensa, “foi montada uma organização criminosa, com seis núcleos (desinformação, incitação aos militares, jurídico, operacional, inteligência paralela e núcleo de oficiais de alta patente), para actuar em tentativa de golpe de Estado e manter Jair Bolsonaro no poder”.
A edição de hoje do Correio Braziliense, mas também outros jornais brasileiros, dão conta da organização que “preparou o golpe”, incluindo os nomes dos golpistas e as suas atribuições e o jornal O Estado de S. Paulo escolheu como título de primeira página a frase "investigação aponta conspiração golpista de Bolsonaro e generais".
Nas diligências efectuadas pela Polícia Federal na sede do Partido Liberal, a que pertence Bolsonaro, foi encontrada uma minuta das acções a desenvolver para consumar o golpe, havendo já sólidas provas “que mostram que oficiais de alta patente tiveram participação activa na tentativa antidemocrática”.
Nesse sentido, o ex-presidente Jair Bolsonaro é o principal alvo da Polícia Federal e está proibido de sair do país, tendo o seu passaporte sido apreendido.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A corrida científica para a Antártida

A Antártida é o continente que rodeia o pólo Sul e que, por isso, está coberto de gelo permanente em quase toda a sua extensão. Tem 14 mil quilómetros quadrados de superfície, sendo maior que a Austrália, não tem população permanente, não pertence a nenhum país e não tem qualquer governo. Alguns países reivindicam a posse de algumas áreas, casos do Reino Unido, Nova Zelândia, França, Noruega, Austrália, Chile e Argentina, enquanto os Estados Unidos e a Rússia não reconhecem nenhumas reivindicações territoriais na Antártida, reservando-se o direito de fazer as suas próprias reivindicações. Em 1959 os países que tinham reclamações territoriais assinaram o Tratado da Antártida, considerando o território politicamente neutro e comprometendo-se a suspender as suas pretensões por período indefinido e a permitir todas as actividades de carácter científico em regime de cooperação.
Actualmente há 29 países que possuem bases científicas na Antártida, algumas delas ocupadas em permanência e outras ocupadas apenas no Verão, calculando-se que no Inverno a população da Antártida é de mil pessoas e no Verão será de cerca de quatro mil pessoas.
A República Popular da China tinha quatro estações de pesquisa que construíu entre 1985 e 2014, mas acaba de inaugurar a sua quinta base que está localizada na baía da Terra Nova do mar de Ross, numa área em que os Estados Unidos, a Nova Zelândia, a Coreia do Sul, a Itália, a Alemanha e a França também possuem estações de pesquisa. 
O jornal Shanghai Daily destaca na sua edição de hoje a inauguração desta estação, publicando a fotografia das suas instalações, que parecem excelentes e podem acolher 80 pessoas no Verão e 30 pessoas no Inverno. Segundo o referido jornal, “a nova estação consolidará os interesses antárticos da China e ajudará a torná-la num concorrente líder nos assuntos polares, quando há menos de dez anos era apenas um actor secundário naquelas regiões”.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

A Índia e o Código Civil Português

Quando em Dezembro de 1961 as Forças Armadas Indianas invadiram o Estado Português da Índia, o novo comando militar declarou que todas as leis portuguesas continuavem em vigor. Depois, através da 12ª emenda de 1962, a Constituição da Índia passou a incluir as leis portuguesas de Goa e, nessas condições, muitas das disposições do Código Civil Português, incluindo o Direito sucessório, assim como as leis do casamento, do divórcio, da adopção e outras, continuaram válidas em Goa e sem qualquer contestação. O caso de Goa é único na Índia, pois nos outros estados a lei não é uniforme, varia em função da religião e tem regras diferentes, nomeadamente para o casamento, para o divórcio e para a sucessão. Durante muitos anos, os juristas goeses defenderam, em conferências e em outras intervenções públicas, que “o código civil português” deveria ser aplicado em toda a Índia.
Hoje, o jornal The Pioneer que se publica desde 1865 em diversas cidades indianas, referindo-se ao estado de Uttarakhand, que é um dos 28 estados da Índia e que faz fronteira com a China e com o Nepal, titula que “Uttarakhand scripts history” ao apresentar um inovador projecto de lei do Código Civil Uniforme. Este código refere-se ao conjunto de leis aplicáveis a todos os cidadãos e não se baseia na religião, quando se trata de casamento, divórcio, herança e adopção, entre outros assuntos pessoais, incluindo a proibição total da poligamia e do casamento infantil.
A Assembleia Legislativa de Uttarakhand, que tem 70 membros, dos quais 47 do BJP que é o partido do governo, vai votar e aprovar brevemente esta proposta que está em linha com o que se passa em Goa, que desde 1961 manteve o Código Civil Português de 1867. Naturalmente, esta notícia enche de satisfação aqueles que em Goa, juristas ou não juristas, sempre defenderam “as leis portuguesas” e apoiaram que o seu código civil fosse adoptado por todos os estados indianos. Se fosse vivo, o meu amigo jurista Dr. Manohar Usgaocar estaria eufórico.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Os Açores votaram na continuidade

Realizaram-se ontem as eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores ou, de forma mais simples, as eleições regionais açorianas, que resultaram da não aprovação do Orçamento dos Açores para 2024 e da consequente queda do Governo Regional, presidido por José Manuel Bolieiro.
Estas eleições antecederam em cerca de um mês as eleições para a Assembleia da República, que se realizarão no dia 10 de março, pelo que os politólogos e os comentadores trataram de produzir diktats sobre as sondagens, os resultados e a eventual influência dos resultados regionais no plano nacional.
As eleições decorreram sem quaisquer incidentes, conforme anuncia na sua edição de hoje o Açoriano Oriental, o mais antigo jornal português, pois foi fundado em 1835. Estavam inscritos 229.830 eleitores e votaram 115.662, o que significa que houve uma abstenção de 49,67%, que é menor do que nas eleições de 2020. Os resultados apurados mostram que seis das nove ilhas açorianas trocaram o seu sentido de voto relativamente às anteriores eleições de 2020, pois as ilhas de São Miguel, Terceira, Pico, São Jorge e Graciosa que tinham votado PS votaram agora AD, enquanto a ilha do Corvo que antes tinha votado numa coligação local, votou agora PS.
Os resultados apurados nas 156 freguesias açorianas foram os seguintes: Aliança Democrática (42,08% - 26 deputados), Partido Socialista (35,91% - 23 deputados), Chega (9,19% - 5 deputados), Bloco de Esquerda (2,54% - 1 deputado), Iniciativa Liberal (2,15% - 1 deputado) e PAN (1,65% - 1 deputado).
O novo governo reconduzirá José Manuel Bolieiro como presidente do Governo Regional. Faltando-lhe três deputados para ter a maioria parlamentar de que necessita, parece ir governar sem alianças, o que para uns significa continuidade, para outros estabilidade e para outros, ainda, instabilidade.
Porém, os açorianos escolheram como escolheram e, agora, merecem ser bem servidos.

Angola evoca o início da sua luta armada

A edição de ontem do Jornal de Angola evocou o início da luta armada de libertação nacional angolana acontecido há 63 anos e escolheu como título da sua primeira página que a “bravura dos Heróis abriu caminho para a liberdade”. Depois, o lead da notícia assinala que o dia 4 de fevereiro de 1961 é a data em que um grupo de nacionalistas angolanos pegou em armas e deu início à luta armada “que levou à Independência Nacional 14 anos depois, a 11 de novembro de 1975”.
Naquele dia 4 de fevereiro foram assaltadas as duas principais prisões de Luanda, respectivamente a Casa de Reclusão Militar e o Forte de São Paulo, não só para libertar os presos políticos, mas também para chamar a atenção internacional para Angola, enquanto território português submetido ao domínio colonial. Essa acção foi organizada por cerca de uma centena de activistas angolanos e dela resultou a morte de cerca de quatro dezenas de assaltantes e de sete polícias. A partir de então, embora repartido por três movimentos políticos rivais – MPLA, UNITA e FNLA – o combate contra o regime colonial aconteceu primeiro no Norte e, depois, no Leste de Angola. Foram cerca de 14 anos de guerra em que, sob o ponto de vista militar, parece não ter havido vencedores nem vencidos, mas que terminou na sequência do movimento do 25 de abril de 1974 em Portugal. O Acordo de Alvor de Janeiro de 1975, foi assinado entre o governo português e aqueles três movimentos, pretendendo estabelecer uma partilha de poder equilibrada, mas não teve sucesso.
No dia 11 de novembro de 1975, nasceu a República Popular de Angola sob a presidência de Agostinho Neto, mas o país entrou numa guerra civil que durou até 2002. Tinham sido 41 anos de guerra e, por isso, os angolanos celebram a paz e o início da sua luta armada de libertação nacional.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

O agravamento da crise no Médio Oriente

Na madrugada do passado dia 28 de janeiro, uma base militar logística americana instalada no território da Jordânia foi atacada por drones, daí resultando a morte de três soldados americanos e de mais de três dezenas de feridos. Estes soldados foram as primeiras vítimas mortais americanas nesta região desde o dia 7 de outubro, quando teve início a guerra entre Israel e o Hamas.
O ataque foi atribuído a grupos pró-Irão activos na Síria e no Iraque e, de imediato, o presidente Joe Biden juntou-se ao luto pela morte destes soldados e declarou que os Estados Unidos iriam retaliar. Logo que as urnas dos soldados regressaram a casa e foram recebidas por Joe Biden e outros dignitários americanos, as forças dos Estados Unidos lançaram ataques com aviões e bombardeiros contra 85 alvos com ligações à Guarda Revolucionária Islâmica que se localizam na Síria e no Iraque, causando 34 mortos e significativas destruições. Joe Biden não só assumiu a responsabilidade por esta resposta como afirmou que a retaliação ”continuará de acordo com o calendário e nos locais que decidirmos”. Muitas vozes se levantaram contra a desproporcionalidade da reacção americana que, seguramente, pretendeu mostrar ao eleitorado americano que o candidato Joe Biden é um homem que defende a América com coragem e com energia…
Embora os Estados Unidos tenham vindo a repetir que pretendem evitar que o conflito no Médio Oriente alastre e continuemos a ver Antony Blinken a visitar regularmente a região com esse objectivo, há quem considere que este incidente parece aproximar os Estados Unidos de um conflito directo com o Irão. De facto, nos últimos quatro meses, os Estados Unidos não só estiveram ao lado de Israel sem nunca se demarcarem claramente da violência que tem sido exercida sobre Gaza, como já intervieram no Líbano, no Iémen, no Iraque e na Síria, violando a soberania e a integridade territorial desses países e a Carta das Nações Unidas.
Os Estados Unidos abandonaram o Afeganistão em Agosto de 2021 depois de uma ocupação militar que durou vinte anos, mas não é claro se pretendem ou não voltar a envolver-se numa guerra no Médio Oriente. Provavelmente, Joe Biden só quer impressionar o eleitorado americano e a capa da edição do Daily News dá-lhe uma boa ajuda…

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Direitos humanos e drama dos sem-abrigo

No dia 1 de fevereiro de 1954 – há 70 anos – um padre francês chamado Henri Grouès, nascido em Lyon em 1912 e que, enquanto membro da Resistência Francesa, tinha adoptado o nome de Abbé Pierre, impressionado pela situação de falta de alojamentos que se seguiu ao pós-guerra e à onda de frio que então assolava a França, que em Paris atingiu 17 graus negativos e que estava a causar muitas mortes em todo o país, lançou um apelo na Radio Luxembourg: “Viens m’aider à aider”. Este seu apelo veio a ser popularizado como “l’insurretion de la bonté” e visava socorrer os mais necessitados e, em especial, os sem-abrigo, pois o Abbé Pierre dizia que “o primeiro dever de um governo era alojar o seu povo”.
Passaram-se setenta anos e, tal como acontece um pouco por toda a Europa, também a França vive um grave problema de carência de alojamentos, estimando-se que em 2023 tenha havido 2,6 milhões de franceses que requereram uma habitação social. O jornal l’Humanité evocou o legado do Abbé Pierre e anunciou, com destaque de primeira página, que a França tem cerca de 330.000 pessoas sem-abrigo, enquanto salientava que a Association Droit Au Logement (DAL), tem criticado duramente as políticas do presidente Macron sobre esta matéria. A França é um país grande e rico, pelo que é impressionante a existência de um tão elevado número de sem-abrigo, pois é um sinal de forte desigualdade social e uma violação de direitos humanos.
Em Portugal é evidente que há cada vez mais pessoas a viver nas ruas, em tendas e cartões, empurradas pela crise da habitação, pela imigração e pela pobreza. Segundo os estudos mais conhecidos, em 2022 viviam como sem-abrigo em Portugal mais de 10.700 pessoas, entre homens, mulheres, jovens, idosos, estrangeiros e famílias inteiras, sendo que 5975 viviam na rua e na condição de sem-tecto, enquanto cerca de 4800 viviam num alojamento temporário. Isto era em 2022, mas o problema agravou-se.
Em França ou em Portugal, o drama dos sem-abrigo é uma violação dos direitos humanos, mas parece despertar pouco interesse nos poderes públicos, cujo primeiro dever não tem sido alojar o povo, como defendia o Abbé Pierre. Enquanto isto, a maioria de nós olha para o lado e assobia...

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O estado de emergência na Catalunha

Os pensadores que se dedicam à avaliação do estado do nosso planeta costumam centrar-se nas problemáticas das conflitualidades e das geoestratégias das grandes potências, nos problemas económicos à escala global, na transição energética e digital, na fome e na pobreza, entre outros. Porém, começa a ser recorrente ouvir referir as alterações climáticas como uma variável determinante quando se equacionam as possíveis evoluções do estado do mundo. É crescente o número de acontecimentos, por vezes trágicos, que são devidos às alterações climáticas e que afectam algumas regiões do mundo. Uma dessas regiões situa-se na península Ibérica. É a Comunidade Autónoma da Catalunha.
A Catalunha está a passar por uma seca jamais registada e o jornal elPeriódico, que se publica em Barcelona, publica na sua primeira página uma torneira e anuncia que “llegan las restricciones”. Segundo aquele jornal, em finais de Janeiro as barragens encontravam-se num mínimo histórico de 16,9%, pelo que foi declarado o “estado de emergencia por sequía” para seis milhões de catalães de Barcelona e Girona, o que significa que entraram em vigor as restrições ao uso da água, o que obrigará os municípios a não superar o consumo de 200 litros diários por pessoa, para todos os usos. Assim, fica proibida a lavagem de carros, o enchimento de piscinas, a limpeza dos espaços públicos e do mobiliário urbano, entre outras restrições.
Perante esta situação, o governo central mostrou-se disposto a ajudar em tudo o que seja necessário para que a Catalunha supere esta situação, tendo comprometido 500 milhões de euros que se destinam à construção de dessalinizadoras em Tordera e Cubelles/Foix.
Até parece que as alterações climáticas pertubam mais a estabilidade dos catalães, do que quaisquer das costumadas crises separatistas.