terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Os estrangeiros e a identidade nacional

O jornal La Vanguardia que se publica em Barcelona, destaca na sua edição de hoje que em 40 anos, a Catalunha passou de 2% para 21% de população estrangeira. As autoridades catalãs anunciaram em 1987 que tinha sido ultrapassada a barreira dos 6 milhões de habitantes mas, 36 anos depois, registam-se 8 milhões de habitantes. Uma vez que o crescimento demográfico natural da Catalunha é negativo, isto é, há mais mortes que nascimentos, o principal motor desta tendência está na imigração. De acordo com os dados oficiais, só no último ano a Catalunha acrescentou mais 140.000 habitantes à sua população e passou a ser a comunidade espanhola que mais cresce, com a circunstância de 40% dos seus habitantes entre os 25 e os 40 anos ter nascido no estrangeiro.
O problema não é apenas catalão, pois acontece um pouco por toda a Europa e é muito complexo, pois tem a ver com inúmeras variáveis, como a preservação das identidades nacionais, as necessidades de mão-de-obra, o desenvolvimento das economias, a solidariedade e os direitos humanos, a segurança nacional, entre muitas outras.
Segundo os mais recentes dados estatísticos, Portugal também tem um problema semelhante ao da Catalunha. No ano de 2023 viviam em Portugal 798.480 cidadãos estrangeiros em situação legal, ou em regularização pelos serviços oficiais, correspondentes a 7,6% da população portuguesa e eram, sobretudo, brasileiros (29%), britânicos (6%), cabo-verdianos (5%), italianos (4,4%), indianos (4,3%) e romenos (4,1%). De acordo com a Pordata, o número de estrangeiros em Portugal duplicou em dez anos, tendo a nacionalidade portuguesa sido atribuída a cerca de meio milhão de pessoas, sobretudo oriundas dos países lusófonos, embora um em cada três deles viva em risco de pobreza.
Ocorre-me citar, sem quaisquer comentários, um excerto da estância 189 da Miscellania de Garcia de Rezende, publicada em Évora em 1554:
       Vemos no reyno metter / tantos captivos crescer / & iremse hos naturaes / 
       que se assi for, seram mais / elles que nos, a meu ver.
Porém, Garcia de Rezende não está cá para alertar sobre este problema.

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