Na sua edição de
hoje o jornal espanhol El Mundo
destaca que “Cuba aprovecha la crisis para hacer negocio com sus médicos en 21
países”, referindo que 6.400 milhões de dólares entram anualmente no país e que
esse dinheiro é vital devido à brutal quebra do turismo. Segundo escreve o
jornal, trata-se de “negocio y propaganda tras la solidariedad”.
Depois do triunfo
da revolução cubana em Janeiro de 1959, o seu líder Fidel Castro apostou na
ideia de “um exército de batas brancas para distribuir saúde pelo mundo e levar
médicos e enfermeiros aos lugares onde o capitalismo levava militares”. Numa
conferência de imprensa em Buenos Aires em 2003, Fidel Castro disse: “Médicos y
no bombas, médicos y no armas inteligentes”. Essa frase foi recentemente citada
pelo Granma,
o jornal oficial do Comité Central do Partido Comunista Cubano, a propósito da
mais recente “exportação” de médicos e enfermeiros cubanos, "requisitados" por
diferentes países para ajudarem a combater a pandemia. É sabido que Cuba é o
país com maior número de médicos por habitante e que os médicos cubanos têm
cumprido missões em muitos países do mundo, mas com o surgimento da pandemia do
covid-19 essas missões acentuaram-se.
No passado domingo, a pedido do presidente das Honduras, um país que se situa
nas antípodas ideológicas do regime cubano, chegou ao país uma brigada de
médicos cubanos e foi então anunciado que actualmente havia 21 brigadas cubanas
repartidas pela América Latina, Europa, África e Médio Oriente. A primeira terá
sido aquela que no dia 23 de Março aterrou na Lombardia, mas outras já estavam
há muito mais tempo na Argentina, na Venezuela, no Brasil, em Angola e em outros países. São milhares de médicos e de enfermeiros cubanos. É uma política
de solidariedade activa, mas também é uma política de Estado que combina o económico
(a venda de serviços para obter divisas) com o político (ganhos de legitimidade
internacional e de reputação no país que recebe a ajuda cubana). Porém, parece
que o governo cubano controla a actividade dos médicos e arrecada para si
próprio entre 75 e 90% dos seus salários, ou seja, como hoje diz o El Mundo, “negocio y propaganda tras la
solidariedad”. E aqui na Europa, porventura, teremos solidariedade mais activa e menos interesseira do que aquela com que Cuba ajuda o mundo?