sexta-feira, 29 de março de 2019

O impensável naufrágio do Reino Unido

O eleitorado britânico votou no dia 23 de Junho de 2016 sobre a permanência ou não permanência do Reino Unido na União Europeia e quase 33 milhões de votantes escolheram: 51,8% votaram no leave, enquanto 48,2% votaram no remain. Depois de 43 anos de permanência na União Europeia, o eleitorado escolheu a saída. David Cameron, o primeiro-ministro conservador que organizou o referendo e que fez campanha pela permanência demitiu-se e, no dia 13 de Julho, cedeu o seu lugar a Theresa May.
Apesar de Theresa May ter defendido a permanência, decidiu cumprir o mandato para que foi escolhida e tratou de iniciar o “processo de divórcio”, ao enviar uma carta ao Conselho Europeu a activar o artigo 50 do Tratado de Lisboa. Iniciaram-se depois as  conversações com Bruxelas que deveriam ficar concluídas e ratificadas até ao dia 29 de Março de 2019.
Por razões de política interna, no dia 8 de Junho de 2017 realizaram-se eleições legislativas antecipadas e Theresa May e o seu partido perderam a maioria na Câmara dos Comuns. Apesar disso, as negociações avançaram e no dia 8 de Dezembro foi anunciado um primeiro pré-acordo sobre as modalidades e temas do “divórcio”, entrando-se na segunda fase das negociações.
Nesta segunda fase das negociações começaram os problemas e o primeiro, que veio a ficar conhecido por backstop, pretendia evitar o regresso da fronteira física e do controlo aduaneiro entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Depois sucederam-se as discussões em torno do tipo de acordo a celebrar, as dissidências no governo britânico, as manifestações a favor e contra o Brexit, a hipótese de realizar um segundo referendo e uma verdadeira implosão no seio do Parlamento britânico. Theresa May foi incapaz de evitar a confusão e a incerteza, conduzindo o Reino Unido para um impensável patamar de desprestígio e de desconfiança.
Hoje deveria ser concretizado o Brexit, mas foi adiado. Na sua edição de hoje, o Courrier International dedica a sua primeira página com uma sugestiva ilustração alusiva ao naufrágio do Reino Unido, afirmando ser um país ingovernável e com a sociedade mais dividida do que nunca.