Não é necessário recorrer a quaisquer indicadores para perceber que a nossa situação económica e social se está a degradar diariamente, bastando andarmos pelas ruas para vermos os efeitos de uma crise persistente, com os desempregados encostados às paredes, as pessoas a mendigar, o pequeno comércio a encerrar portas, os edifícios a degradarem-se, os jovens a abandonar o país e a falta de confiança espelhada no rosto das pessoas, cada vez mais assustadas e descrentes. Há quem diga que a austeridade nos está a matar. Os cenários que nos desenham não são credíveis e todas as previsões económicas falham. Os nossos dirigentes enganaram-nos e não nos dão verdadeiros exemplos mobilizadores. Limitam-se a aumentar impostos e a cortar salários e pensões. Não fazem outra coisa. Não têm experiência e não conhecem o país. Esquecem que são os portugueses e não os especuladores gananciosos que estão em primeiro lugar. Disseram uma coisa e têm feito outra. Descaradamente. Insensatamente. Irresponsavelmente. Os outros políticos também parecem não compreender o que se passa, absorvidos pela clubite partidária. Os discursos que ouvimos são contraditórios, com apreciações que variam do óptimo ao péssimo. As notícias que nos chegam de fora também não são animadoras. Não há verdadeiras soluções para o crescimento e o emprego ou para o défice público e a dívida. Em vez de nos darem ânimo e confiança, ameaçam-nos com mais austeridade.
Nesse quadro de progressiva recessão económica, de aumento da pobreza e da decadência social, temos Abebe Selassie, o homem do FMI que lidera a missão da troika em Portugal, a produzir declarações no Diário Económico que revelam duas coisas muito preocupantes: a primeira, é que os nossos governantes se tornaram meras figuras decorativas perante as entidades que constituem a troika e, a segunda, é que de facto não somos dirigidos por um primeiro-ministro ou por um governo por nós eleito, mas por um pequeno grupo de técnicos/dirigentes que, qual cavalo de Tróia, estão infiltrados no governo com bandeirinha na lapela, a representar e a defender os interesses da troika.