quinta-feira, 24 de março de 2016

A enorme azia do rapaz da bandeirinha

Antigamente não tinhamos dúvidas sobre a natureza da actividade bancária e das operações financeiras pois quase tudo se resumia à recolha depósitos dos clientes e ao pagamento ao depositante de um juro (operações passivas) e à concessão de créditos ao cliente que pagava um juro (operações activas).
Os tempos mudaram e a banca transformou-se numa coisa que o homem comum não sabe o que é, muitas vezes ocupada por gente sem escrúpulos e de duvidosa reputação. Um pouco por todo o mundo as consequências têm sido desastrosas e, em Portugal, também temos sido atingidos por essa hecatombe.
No sentido de prevenir mais surpresas e defender os depositantes e os contribuintes portugueses, o governo autorizou a empresária angolana Isabel dos Santos a entrar no capital do BCP, banco em que a também angolana Sonangol já é a maior accionista. O acordo foi comunicado pessoalmente pelo próprio primeiro-ministro à empresária angolana. Caiu o Carmo e a Trindade!
Pela boca do deputado Amaro, o PSD veio imediatamente exigir esclarecimentos para saber so o governo tinha tido intervenção no negócio, deixando no ar algumas suspeitas. Depois, foi o próprio presidente do PSD, aquele que vendeu a EDP aos chineses, a ANA aos franceses e a TAP a não se sabe quem, que veio desejar “ver tudo em pratos limpos”.
A resposta veio de Belém com o Presidente da República a confirmar um total alinhamento com o governo e a lembrar que, como Chefe de Estado, lhe cumpre respeitar a Constituição. E foi em nome desse dever e da respectiva defesa do "interesse nacional" que considerou "natural" a intervenção do primeiro-ministro para garantir algum equilíbrio na origem dos capitais estrangeiros que entram na banca portuguesa. Foi um soco de luva branca de certos indivíduos que por aí andam, com o Passos à frente. É caso para dizer que o rapaz vai de mal a pior e que nem a bandeirinha na lapela lhe evita o total descrédito, nem um confrangedor isolamento. Com toda esta azia o rapaz vai mesmo precisar de muito Kompensan.

Bruxelas: mais um passo na brutalidade

Os terríveis acontecimentos de Bruxelas, tal como os que já aconteceram em Madrid, em Londres e em Paris, mostram que a barbárie entrou no coração da Europa e que o nosso modo de vida está ameaçado. Não é apenas a crise económica e a falta de solidariedade comunitária que tornam incerto e inseguro o nosso futuro, mas é sobretudo a instabilidade que o terrorismo está a trazer para a Europa, que  está velha, enfraquecida e é vítima da mediocridade das suas lideranças. De facto, os líderes europeus revelam-se incompetentes e incapazes para tratar dos grandes problemas que acontecem para lá das suas fronteiras e de não terem previsto o que poderia ter acontecido no interior do seu território e nas suas cidades, como consequência das suas desastrosas intervenções no Iraque, na Líbia e agora na Síria.
Em Março de 2011, quando Nicolas Sarkozy decidiu acabar com o líder líbio Muammar Kadafi, este deu uma entrevista a um jornal francês e avisou que “milhares de pessoas irão invadir a Europa a partir da Líbia e não haverá ninguém para detê-las”. E acrescentava que “haverá uma jihad islâmica diante de vocês. Os homens de Bin Laden vão cobrar resgates em terra e no mar. Será realmente uma crise mundial e uma catástrofe para todo o mundo. Eu não deixarei isso ser feito”.
Porém, ninguém o ouviu e, pelo contrário, os aviões americanos, ingleses e franceses condenaram-no e abriram as portas a uma das maiores ameaças que pesa sobre a Europa.
Neste quadro desolador e de grande apreensão, é com tristeza que assistimos às negociações entre a Turquia e a Comissão Europeia sobre os indefesos refugiados que são tratados com absoluta desumanidade, mas também às ridículas discussões e diktats da Comissão Europeia sobre o défice orçamental português e sobre se o seu valor deve ser de 2,6% ou 2,4% do PIB, o que mostra como a Europa é incapaz de se governar e tratar do que é importante, preferindo exibir o seu autoritarismo burocrático sobre as coisas assessórias. Além disso, muito pouco é feito para acabar com o fornecimento de armas e a compra de petróleo, operações de que vive o terrorismo, certamente porque esse negócio serve a finança especuladora europeia. 
O banho de sangue que aconteceu em Bruxelas e que a imprensa de todo o mundo relatou, lembram-nos que muita coisa corre mal na Europa da fartura, do dinheiro e da hipocrisia.